Dicas

Impactos do teletrabalho na saúde mental

Impactos do teletrabalho na saúde mental
Impactos do teletrabalho na saúde mental  
Foto Freepik
A pandemia de Covid-19 alterou profundamente alguns hábitos de vida tendo dado oportunidade ao trabalho a partir de casa.

Se no tempo do isolamento foi absolutamente necessário recorrer a essa ferramenta digital para manter a atividade profissional, é verdade que se percebeu que a mesma poderia acarretar inúmeros benefícios ao nível da poupança de recursos, de deslocações, de tempo e daí por diante, no entanto, são também muitos os prejuízos para a saúde, em especial a mental.
 
Tendo por base um apontamento da Revista Científica da Ordem dos Médicos www.actamedicaportuguesa.com, faz sentido uma reflexão profunda acerca dos impactos do teletrabalho na saúde mental e, nesse contexto, é de realçar a definição da Organização Internacional do Trabalho, que o define como o recurso de equipamentos tecnológicos para que se mantenha a atividade profissional sem que precisemos de deslocar-nos, podendo mesmo realizá-lo a partir de casa, basta que se tenha ao dispor um computador, um tablet ou um smartphone.
 
«Apesar dos dados publicados sobre este tema serem escassos, existem dois fatores, associados ao teletrabalho, que podem aumentar o risco de doenças psiquiátricas: as alterações do ritmo circadiano do sono e o isolamento social, regista a Ordem dos Médicos.
 
Uma das funções fisiológicas que pode ser afetada pelo teletrabalho é o sono. Neste caso, devido à maior flexibilização dos horários, observa-se uma perda de pistas socioprofissionais. O sedentarismo, a diminuição da exposição à luz natural e a utilização excessiva dos ecrãs por parte dos profissionais nesta modalidade, acrescentam os constrangimentos da sua utilização.
 
Para os psicólogos que analisaram os trabalhos de investigação levados a cabo, o teletrabalho reúne um conjunto de “prejuízos” também pela falta de socialização, pela ausência de contactos presenciais, pelo constante recurso à escrita que invalida o diálogo e a possibilidade de se trocarem emoções entre as pessoas, sem esquecer o isolamento social daí resultante.
 
Por norma, os profissionais em regime de teletrabalho acabam por permanecer em casa durante longos períodos de tempo, recorrem às compras online, têm mais dificuldade em manter horários onde possam incluir as saídas de casa e o lazer, o seu tempo laboral é gerido de forma distinta, não cuidam da sua imagem porque não precisam de sair de casa, não contactam com vizinhos e com outras pessoas nos espaços públicos, praticam pouca ou nenhuma atividade física, não recebem luz solar e, em muitos casos, acabam por restringir os seus dias ao espaço doméstico acumulando outros estímulos como a televisão, as redes sociais, plataformas de streaming, reservando muito pouco tempo e disponibilidade para um contacto presencial e para a manutenção de hábitos de vida saudáveis.
 
Apesar de ser uma ferramenta que facilita muito a atividade laboral, quando mal gerida e vivida durante longos períodos de tempo e sem saídas diárias de casa, o teletrabalho pode acarretar prejuízos graves para a saúde mental.
 
A ansiedade, a depressão, as fobias que passam a estender-se às mais variadas áreas  de vida como o medo de ir à rua, de estar com outras pessoas, de atender o telefone porque se está habituado a responder e a manter contactos por e-mail, a dificuldade em esperar numa fila porque é fácil carregar num botão e realizar a função, são alguns aspetos que estão a afetar muitos profissionais de teletrabalho e que merecem uma reflexão pessoal, constituindo também uma preocupação para os profissionais de saúde mental.
 
Registam os especialistas que ainda existem poucos trabalhos científicos que permitam aferir com exatidão os verdadeiros impactos desta nova modalidade de trabalho, contudo, é importante que, paralelamente à profissão a partir de casa, se pense no quão é fundamental manter hábitos de vida saudáveis que passam por uma alimentação equilibrada e que respeite a roda dos alimentos, a manutenção da atividade física e os contactos presenciais. Deve também incluir-se o cuidado com a imagem e a higiene corporal e que se respeite o tempo de descanso longe de ecrãs.
 
Os momentos em família continuam a ser determinantes para a qualidade de vida, pelo que se deve desligar os ecrãs às refeições, reservar um tempo diário para conversar e, sobretudo para sair em conjunto, apreciar uma paisagem, contactar com outras pessoas e fazer valer o facto de sermos gregários e de precisarmos de conviver com outros seres humanos de modo presencial.