A pessoa que sofre de dependência emocional, não o faz de uma forma consciente.
Segundo os especialistas em comportamento humano, a dependência emocional não obedece a um único fator, mas para que se apresente e mantenha, «são necessários diferentes aspetos. Além disso, em muitos casos, nem sequer se trata de uma realidade consciente. Pelo contrário, o dependente emocional acha que os problemas decorrentes da sua dependência têm uma origem diferente e, muitas vezes, externa».
A dependência emocional também está associada a um medo extremo e a muitas fantasias em torno da própria capacidade ou do lugar que se ocupa no mundo».
Em linhas gerais, a pessoa dependente sente que, «se rompesse com os laços que mantém e dos quais necessita de forma exagerada para viver, que não suportaria a dor, o vazio e, mais grave, que nem sequer conseguiria viver». Contudo, «não existe nada que possa comprovar essa sua tese e crença, mas a pessoa não consegue libertar-se dela. É como se de um vício se tratasse», explicam os entendidos.
Esta dependência assume tais proporções que, quando a pessoa se afasta de outra, acredita estar em perigo e correr risco de vida. O problema é de tal ordem que a pessoa sofre inclusive com a síndrome de abstinência quando existe uma ausência do outro, completam os entendidos, alertando que a pessoa se queixa e manifesta ansiedade, depressão, apresentando sentimentos de grande dor faça ao afastamento temporário ou ao rompimento do vínculo estabelecido.
Existem três tipos básicos de dependência emocional, e, em qualquer um dos cenários, a pessoa sofre muito, vive muito condicionada, infeliz e com dificuldades em encontrar alternativas, quer ao sofrimento, quer à possibilidade de estar sem o outro. Normalmente uma dependência leva à outra, pelo que se pode afirmar que, quem cresce num ambiente que desencadeia dependência, tende a reproduzi-lo nas mais variadas situações e contextos de vida.
1. Dependência emocional na família
É uma das formas de dependência emocional mais difíceis de contornar. Geralmente corresponde a estruturas familiares onde os pais sofrem de severos estados de ansiedade que transmitem aos filhos. Estes últimos são educados com um medo excessivo do mundo. O externo é visto como uma ameaça, e a família como um refúgio.
Estes filhos, pela forma como foram educados, acabam por supervalorizar a família e a proteção que recebem e da qual dependem.
Embora existam muitas vezes laços afetivos e grandes gestos de solidariedade, também é verdade que há traços prejudiciais. Entre eles, os entendidos destacam a ideia que se forma no que se refere aos riscos, em que os filhos acabam por temer enfrentar o mundo e ficam adstritos aos seus cuidadores sem capacidade para se libertarem e construírem o seu percurso de forma autónoma.
Em termos de prejuízos mentais, os filhos sofrem de problemas de falta de autoestima e de autoconfiança, uma vez que, esses aspetos não são nem incentivados, nem quase permitidos, sendo transmitida a crença de que a pessoa não conseguirá desembaraçar-se sozinha, que os outros lhe querem e fazem mal e que só na célula familiar é que estará protegida. Desse modo, a família torna-se numa espécie de bolha que protege, mas que também aprisiona.
Basicamente trata-se de um modo errado de superar a ansiedade e de arrastar o medo, a procura de um colo fora de tempo e de uma proteção que impede o crescimento, o desenvolvimento pessoal e a autonomia.
2. Dependência emocional no casal
Este é um tipo de dependência muito comum, mas muito prejudicial para a própria pessoa, para o outro e para o bem-estar da relação. Trata-se de uma crença equivocada que quer fazer parecer que, se não estiverem juntos, os parceiros passam a sofrer de solidão e que não conseguem ser felizes, quando, na realidade, uma relação constitui-se por duas pessoas, não por uma metade que precisa da outra para fazer o todo. A crença reside ainda na ideia de que, se não estiverem lado a lado, com ideias semelhantes, sempre unidos, sem discussões ou outros obstáculos, não vão conseguir viver.
Estas pessoas carregam muitos medos, dúvidas e incertezas, não sabem muito bem o que querem porque só vivem para o outro e para a relação. Não conhecem o seu real valor, não gostam de si mesmas e ainda menos fazem planos para o seu bem-estar e autoconhecimento diário porque simplesmente “mergulham” no outro, sem uma vida e um sentir próprios. Para se protegerem, estas pessoas escondem-se atrás do parceiro como se de um escudo protetor se tratasse e dependem cada vez mais porque não se sentem capazes de fazer nada.
Embora esse tipo de dependência possa funcionar por um tempo, a verdade é que mais cedo ou mais tarde causa grandes sofrimentos. O dependente tem tanto medo de perder o parceiro que pode desenvolver comportamentos extremamente nocivos, como: o ciúme excessivo ou a submissão sem limites, o que destrói a convivência
3. Dependência no contexto social
O traço mais característico desta condição é a necessidade excessiva de ser reconhecido e aprovado em qualquer ambiente. Se o meio não mostra sinais de franca avaliação e aceitação, o indivíduo entra em pânico. Além disso, vai fazer o que for necessário para atingir essa aparente compensação psicológica. Sentir-se rejeitado, a partir da sua perspetiva, equivale a que aconteça aquilo de pior que poderia acontecer.
Para obter aprovação, uma pessoa pode tornar-se servil ou invisível. No primeiro caso, o dependente sente-se obrigado a agradar aos outros, passando até sobre si próprio. Será capaz de fazer qualquer sacrifício para não ter que enfrentar uma rejeição ou um confronto. No segundo caso, a pessoa pode desistir das suas convicções para não ter de entrar em conflito com os demais. Em ambos os casos, a situação é extremamente prejudicial.
Resumem os especialistas que, num qualquer tipo de dependência, a pessoa não possui uma boa autoestima, nem autoconfiança, pelo que, fica à mercê do que os outros esperam dela. Não é capaz de valorizar-se, de tomar consciência das suas qualidades positivas e negativas e anda à deriva, como se nada lhe fizesse sentido e, vulnerável, acaba por ir desistindo aos poucos do seu direito de lutar pela felicidade e bem-estar. Estas falsas crenças traduzem-se em medo e ansiedade.
Para ultrapassar esta situação, a pessoa deve fazer um processo de autoconhecimento, identificar os seus medos, o que se esconde na sua sombra, mas também admitir potencialidades e valor. Terá de enfrentar os medos e confrontar-se com as suas escolhas, perceber exatamente o que a faz acomodar-se à situação e a anular-se.
Na maioria dos casos, é necessário o apoio psicológico para tratar as feridas da infância e para ressignificar a existência, concluem os especialistas.