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Filhos adultos que (ainda) dependem da mãe

Filhos adultos que (ainda) dependem da mãe
Filhos adultos que (ainda) dependem da mãe  
Foto Freepik
Estes filhos vivem uma relação de dependência com a mãe que, entre outros pontos, afeta a vida conjugal.

Não se trata de uma doença ou distúrbio psicológico, mas sim de uma dependência excessiva em relação à mãe que acaba por prejudicar o próprio e as relações que estabelece, em especial, a vida conjugal.
 
Os especialistas atribuem o termo coloquial “mamite” para descrever o problema que dá lugar a muitos conflitos e que afeta a qualidade de vida e a própria perceção do mundo de quem dele padece.
 
Em geral, estes adultos saem de casa, constroem a sua vida com alguém, mas não tomam decisões sem que consultem a mãe. Para além da dependência emocional, acabam por manifestar uma enorme necessidade de apoio, compreensão e aconselhamento e não dão oportunidade para que a pessoa que está ao seu lado assuma esse papel, uma vez que é a mãe a “eleita” para essa escolha.
 
Das situações mais banais, passando para as mais complexas, estes adultos não conseguem estabelecer um vínculo de qualidade com o/a parceiro/a porque recorrem à progenitora para tudo, até para opinar sobre as opções do casal.
 
Esta realidade «é fruto de uma educação superprotetora, em que a mãe assume o papel de cuidadora, sem deixar espaço para o desenvolvimento da autonomia da criança, da sua autoestima e da sua capacidade de tomar decisões».
 
Na prática, este modelo dá lugar a uma relação de dependência mútua, na qual o filho sente-se incapaz de viver sem o apoio e a aprovação da mãe e esta está sempre à espera que ele lhe recorra para tudo, acabando por reprová-lo quando não o faz, o que alimenta a relação disfuncional.
 
Embora não existam dados oficiais, alguns especialistas apontam que a “mamite” tende a ocorrer mais em homens do que em mulheres, devido aos tradicionais papéis de género que atribuem à mãe o papel de cuidar e mimar o filho, e ao pai a função de educar e disciplinar.
 
O apego materno extremo refere-se a uma ligação íntima com a mãe, com uma carência de desenvolvimento emocional, autonomia na tomada de decisões e desafios na formação de relacionamentos com outras pessoas. Essa dependência manifesta-se em comportamentos como consultar a mãe para tomar decisões, permitir-lhe intervir em assuntos pessoais e profissionais e priorizar as opiniões e desejos da mãe em detrimento dos da parceira. Também é comum que a mãe marque compromissos para que o filho vá ter com ela e que não faça a sua vida, que o chame regularmente mesmo sabendo que deveria dar-lhe espaço e liberdade para seguir em frente. O filho não consegue dizer “não” à mãe porque depende dela e, a progenitora não o liberta como forma de manter a ligação de apego excessivo.
 
Na base da “mamite” estão estes fatores:
 
• A educação baseada na dependência e na superproteção em que o filho não faz escolhas, não toma decisões e não se assume como autónomo. É comum que tal ocorra num ambiente em que o pai está pouco presente ou em que a mãe ou a mulher também o controlam.
 
• As pessoas inseguras, com baixa autoestima, pouco autoconfiantes, são mais predispostas a manter uma relação de dependência com a mãe.
 
• Uma mãe com uma personalidade possessiva dá lugar a que o filho lhe deva obediência e que tenha medo de contrariá-la, de tomar as suas decisões e de dizer-lhe que não pode fazer isto ou aquilo e que se assuma.
  
Como consequências, estes filhos raramente conseguem estabelecer relações estáveis com as pessoas com quem se envolvem, mantêm um casamento o quase “de fachada”, com pouca intimidade e confiança entre os parceiros.
 
O facto de o cônjuge saber que o outro vai contar tudo á mãe dá lugar a pouca honestidade e transparência no seio do casal, limita a construção de planos comuns porque se teme que a mãe os contrarie, faz com que a pessoa não se sinta bem quando a sua privacidade é partilhada com outra pessoa, mesmo que seja a sogra e afasta a intimidade naturalmente. A comunicação é pobre, pouco sincera e limitada porque existe medo de falar abertamente sobre o que se sente e o que se pensa.
 
Também se torna difícil a tarefa de existir uma relação cordial com a sogra porque a mesma é sempre vista como “uma terceira pessoa” no seio do casal, o que aumenta o desconforto, o mal-estar e conduz a um ambiente pouco saudável.
 
Manter um casamento nestes moldes exige algumas tomadas de decisão, tais como: estabelecer limites tanto com o seu parceiro, como com a sua sogra e não permitir que ambos os ultrapassem. Diga com clareza o que não aceita e que a relação está em risco se tal acontecer.
 
Torna-se importante que o casal peça a ajuda de um profissional na área da psicologia para que possa definir uma estratégia que o ajude a ultrapassar o problema e, ao mesmo tempo, é fundamental que os parceiros combinem aquilo que não vão partilhar com a sogra, que estabeleçam dias para as visitas e que vão em conjunto, sob pena de não se construir a confiança pelo medo da invasão de privacidade.
 
Se depois de uma boa conversa, de tempo para construir a relação noutros moldes, não existirem resultados, vale a pena repensar a relação.