Estes filhos vivem uma relação de dependência com a mãe que, entre outros pontos, afeta a vida conjugal.
Não se trata de uma doença ou distúrbio psicológico, mas sim de uma dependência excessiva em relação à mãe que acaba por prejudicar o próprio e as relações que estabelece, em especial, a vida conjugal.
Os especialistas atribuem o termo coloquial “mamite” para descrever o problema que dá lugar a muitos conflitos e que afeta a qualidade de vida e a própria perceção do mundo de quem dele padece.
Em geral, estes adultos saem de casa, constroem a sua vida com alguém, mas não tomam decisões sem que consultem a mãe. Para além da dependência emocional, acabam por manifestar uma enorme necessidade de apoio, compreensão e aconselhamento e não dão oportunidade para que a pessoa que está ao seu lado assuma esse papel, uma vez que é a mãe a “eleita” para essa escolha.
Das situações mais banais, passando para as mais complexas, estes adultos não conseguem estabelecer um vínculo de qualidade com o/a parceiro/a porque recorrem à progenitora para tudo, até para opinar sobre as opções do casal.
Esta realidade «é fruto de uma educação superprotetora, em que a mãe assume o papel de cuidadora, sem deixar espaço para o desenvolvimento da autonomia da criança, da sua autoestima e da sua capacidade de tomar decisões».
Na prática, este modelo dá lugar a uma relação de dependência mútua, na qual o filho sente-se incapaz de viver sem o apoio e a aprovação da mãe e esta está sempre à espera que ele lhe recorra para tudo, acabando por reprová-lo quando não o faz, o que alimenta a relação disfuncional.
Embora não existam dados oficiais, alguns especialistas apontam que a “mamite” tende a ocorrer mais em homens do que em mulheres, devido aos tradicionais papéis de género que atribuem à mãe o papel de cuidar e mimar o filho, e ao pai a função de educar e disciplinar.
O apego materno extremo refere-se a uma ligação íntima com a mãe, com uma carência de desenvolvimento emocional, autonomia na tomada de decisões e desafios na formação de relacionamentos com outras pessoas. Essa dependência manifesta-se em comportamentos como consultar a mãe para tomar decisões, permitir-lhe intervir em assuntos pessoais e profissionais e priorizar as opiniões e desejos da mãe em detrimento dos da parceira. Também é comum que a mãe marque compromissos para que o filho vá ter com ela e que não faça a sua vida, que o chame regularmente mesmo sabendo que deveria dar-lhe espaço e liberdade para seguir em frente. O filho não consegue dizer “não” à mãe porque depende dela e, a progenitora não o liberta como forma de manter a ligação de apego excessivo.
Na base da “mamite” estão estes fatores:
• A educação baseada na dependência e na superproteção em que o filho não faz escolhas, não toma decisões e não se assume como autónomo. É comum que tal ocorra num ambiente em que o pai está pouco presente ou em que a mãe ou a mulher também o controlam.
• As pessoas inseguras, com baixa autoestima, pouco autoconfiantes, são mais predispostas a manter uma relação de dependência com a mãe.
• Uma mãe com uma personalidade possessiva dá lugar a que o filho lhe deva obediência e que tenha medo de contrariá-la, de tomar as suas decisões e de dizer-lhe que não pode fazer isto ou aquilo e que se assuma.
Como consequências, estes filhos raramente conseguem estabelecer relações estáveis com as pessoas com quem se envolvem, mantêm um casamento o quase “de fachada”, com pouca intimidade e confiança entre os parceiros.
O facto de o cônjuge saber que o outro vai contar tudo á mãe dá lugar a pouca honestidade e transparência no seio do casal, limita a construção de planos comuns porque se teme que a mãe os contrarie, faz com que a pessoa não se sinta bem quando a sua privacidade é partilhada com outra pessoa, mesmo que seja a sogra e afasta a intimidade naturalmente. A comunicação é pobre, pouco sincera e limitada porque existe medo de falar abertamente sobre o que se sente e o que se pensa.
Também se torna difícil a tarefa de existir uma relação cordial com a sogra porque a mesma é sempre vista como “uma terceira pessoa” no seio do casal, o que aumenta o desconforto, o mal-estar e conduz a um ambiente pouco saudável.
Manter um casamento nestes moldes exige algumas tomadas de decisão, tais como: estabelecer limites tanto com o seu parceiro, como com a sua sogra e não permitir que ambos os ultrapassem. Diga com clareza o que não aceita e que a relação está em risco se tal acontecer.
Torna-se importante que o casal peça a ajuda de um profissional na área da psicologia para que possa definir uma estratégia que o ajude a ultrapassar o problema e, ao mesmo tempo, é fundamental que os parceiros combinem aquilo que não vão partilhar com a sogra, que estabeleçam dias para as visitas e que vão em conjunto, sob pena de não se construir a confiança pelo medo da invasão de privacidade.
Se depois de uma boa conversa, de tempo para construir a relação noutros moldes, não existirem resultados, vale a pena repensar a relação.