Na missiva alusiva à exposição, lê-se que a mesma ganha um "significado especial" em Olhão, uma vez que o tema retrata "uma realidade profundamente ligada ao concelho". É na cidade cubista que, nos anos 90, uma empresa japonesa reintroduz a pesca do atum-rabilho na costa algarvia, após duas décadas de interregno. A atividade, outrora extinta, renasceu com a fusão entre as técnicas das tradicionais armações portuguesas e os métodos modernos nipónicos — um cruzamento cultural que transforma Olhão num elo importante entre o Algarve e o Japão.
As fotografias de Eduardo Martins mergulham nesse universo, acompanhando a trajetória da valorização do atum e das comunidades que dele dependem, mostrando como o conhecimento ancestral local se reinventa no contexto da globalização.
Depois de passar pelo Museu Marítimo de Ílhavo, a exposição chega agora a Olhão.
Uma das imagens em destaque na exposição recorre ao Arquivo do Arraial Ferreira Neto, em Tavira - uma das últimas armações tradicionais de pesca do atum no Algarve, hoje transformada em unidade hoteleira – com uma fotografia do último atum pescado em 1972. A recuperação desta prática deve-se, em parte, a uma visita do então primeiro-ministro Mário Soares ao Japão, que levou os investidores nipónicos a apostar na pesca do atum no Algarve, em vez da criação de camarão no Tejo.
Embora os pescadores sejam locais e a atividade seja bem remunerada, a maior parte do atum capturado segue diretamente para o Japão, onde atinge preços astronómicos nos leilões de sushi e sashimi. No Algarve, o consumo deste peixe é residual, ficando praticamente restrito ao bife de atum.
A exposição será acompanhada por um programa de atividades, incluindo uma ação com jovens no dia 23 de abril e uma atividade para famílias a 26 de abril.
No Algarve, a pesca do atum-rabilho esteve extinta desde a década de 1970, tendo sido reabilitada nos anos 90. Este processo de reativação da atividade foi impulsionado pelo aparecimento em Olhão de uma empresa nipónica (Tunipex – subsidiária da Arai Shoji), que conjugou técnicas de pesca tradicionais portuguesas com tecnologia japonesa.
A maioria da quota destina-se ao Japão (entre 80% e 90%) e a sua pesca é realizada no mês de setembro, em cerca de uma semana.
Biografia do autor:
Eduardo Martins, nasceu em Viseu, onde viveu até aos 18 anos. É fotojornalista e fotógrafo documental, atualmente a residir no Porto. Residiu e trabalhou em Macau, China, entre 20016 e 2021.
Licenciado em História da Arte pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; Estudou Fotografia na ETIC (Escola Técnica de Imagem e Comunicação) e Fotojornalismo e Iluminação no CENJOR/Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas.
Trabalhou no jornal A Capital entre 2002 e 2004. Entre 2005 e 2015 trabalhou como fotógrafo freelancer para o mercado editorial, tendo colaborado com as revistas Sábado e UP. Publicou na revista Única do semanário Expresso, na Notícias Sábado (publicação do Diário de Notícias e Jornal de Notícias), na revista Essential, no jornal EL Mundo e na revista alemã ARTE.
Foi colaborador regular e diário do jornal “i”, desde a sua fundação, em 2009, até 2015. Entre 2016 e 2021 trabalhou em Macau, tendo integrado a redação do jornal diário Ponto Final e da revista Macau Closer (revista mensal de arte e cultura); foi lead photographer da revista mensal High Life e fotógrafo oficial do Festival Literário de Macau - Rota das Letras, entre 2016 e 2020.
Ao longo dos anos tem desenvolvido reportagens e trabalho documental, debruçando-se sobre questões de identidade, religião, cultura e direitos humanos. A título de exemplo, realizou uma reportagem com sobreviventes do regime do Khmer Rouge, no Cambodja; um projeto documental no Bairro Português de Malaca - o Kampung Portugis; ou a cobertura em permanência dos violentos protestos pródemocracia que ocorreram em Hong Kong em 2019.
A sua última exposição, “Nelayan: Vontade em Trânsito”, também se debruçou sobre o tema da pesca, transpondo para fotografia a vivência dos pescadores indonésios que se fixaram nas Caxinas, em Vila do Conde.