Os resultados preliminares do questionário, que analisou os hábitos de sono das crianças portuguesas, foi apresentado pela primeira vez no 24.º Congresso Nacional de Pediatria, em outubro de 2024.
A análise decorreu ao longo de três meses e envolveu um questionário dirigido aos pais de crianças dos 0 aos 12 anos. Os dados revelaram que 24,2% das crianças partilham o quarto com os pais (room sharing), enquanto 18,5% dormem na mesma cama (bed sharing). Entre os principais motivos apontados pelos pais para essa prática, destacam-se: 24,5% referem que os filhos acordam frequentemente durante a noite; 26,2% afirmam sentir-se mais seguros ao tê-los por perto; e 23,2% mencionam dificuldades das crianças em adormecer.
“Estes dados mostram que uma percentagem significativa de crianças dorme no quarto ou na cama dos pais, muitas vezes devido a dificuldades em adormecer ou despertares noturnos frequentes. Estes hábitos, embora compreensíveis, podem impactar a qualidade do sono infantil e até mesmo a dinâmica familiar”, refere a pediatra do Centro Materno-Infantil do Norte, da ULS Santo António em comunicado.
A qualidade do sono na infância é determinante para o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças, mas os desafios observados nos hábitos infantis refletem uma tendência mais ampla na população portuguesa. Os padrões inadequados de sono na infância podem perpetuar-se ao longo da vida, contribuindo para um cenário preocupante a nível nacional. Mais de 50% da população tem um sono de má qualidade, uma realidade preocupante com impacto direto na saúde e qualidade de vida. Os números tornam-se ainda mais alarmantes quando analisamos grupos específicos: pelo menos 30% das crianças têm algum problema de sono, enquanto mais de 50% dos adultos dormem menos de seis horas por dia, regista a publicação.
Adicionalmente, metade da população já experienciou episódios de insónia aguda em alguma fase da vida. “A má qualidade de sono afeta negativamente o dia das pessoas, com sensação de sono não reparador, dificuldade de concentração, falta de energia, distúrbios de humor (irritabilidade, agressividade), diminuição do rendimento escolar e laboral, com impacto no absentismo”, explica Daniela Sá Ferreira, presidente da Direção da APS.
O impacto reflete-se no quotidiano, afetando o desempenho profissional, a concentração e a saúde mental. A evidência científica demonstrou que a sonolência é uma das principais causas de acidentes de tráfego automóvel, que a falta de sono triplica as probabilidades de ter um acidente vascular cerebral (AVC) e que a obesidade e as doenças cardiovasculares estão diretamente relacionadas com a privação de sono.
As redes sociais da APS disponibilizam conteúdos informativos, incluindo dicas, infográficos e outras informações relevantes, com o objetivo de sensibilizar a população e promover uma maior literacia sobre a importância do sono.