Os genomas de cancros transmissíveis de bivalves foram sequenciados pela primeira vez, revelando níveis de instabilidade genómica que não são observados noutros cancros, revela um estudo em que participou o Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve.
O trabalho publicado hoje na revista Nature Cancer, realizado por investigadores da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), do Wellcome Sanger Institute, (Reino Unido) e por colaboradores de 11 países, incluindo Portugal, “revelou que estes cancros são geneticamente muito instáveis”, de acordo com um comunicado do Centro de Ciências do Mar (CCMAR).
Neste novo estudo, os investigadores analisaram o berbigão comum (Cerastoderma edule), muito utilizado na alimentação, que pode ter cancros transmissíveis que, segundo a nota, “são disseminados por células cancerígenas vivas, passando de um berbigão para outro através da água do mar”.
No entanto, de acordo com os cientistas, estes cancros não são transmissíveis para humanos, estando limitados a berbigões suscetíveis.
“A descoberta de neoplasias transmissíveis de bivalves que persistem no mar por séculos ou até milénios serve como testemunho à notável diversidade de formas de vida que podemos encontrar no mar e da sua enorme capacidade adaptação”, disse Ana Margarida Amaral, coautora e oficial de ligação do CCMAR, citada na nota.
Esta investigadora sublinhou ainda que “este estudo mostra um avanço significativo na compreensão da complexidade das leucemias em bivalves marinhos e destaca a importância das infraestruturas de investigação”.
Os cientistas esperam que o estudo da forma como a instabilidade genómica é gerida pelas células cancerígenas dos berbigões forneça “informações úteis à compreensão do funcionamento deste fenómeno noutras formas de cancro, incluindo as do ser humano”.
De acordo com a nota, o estudo mostra que “as células dos cancros transmissíveis têm a capacidade de se deslocar na água do mar, transmitindo a doença para novos indivíduos”.
O genoma destes cancros foi agora sequenciado pela primeira vez em berbigões, tendo revelado novas informações sobre a forma como estes cancros se disseminaram pelas populações ao longo de centenas ou milhares de anos, realçam os investigadores.
Os autores recolheram cerca de 7.000 berbigões em 36 locais de 11 países, incluindo Portugal, Espanha, Reino Unido, Irlanda e Marrocos, e a partir desta coleção foram sequenciados geneticamente 61 tumores de berbigão.
Desta forma, conseguiu demonstrar-se a existência de dois tipos diferentes de neoplasias transmissíveis de bivalves, cujas células podem ser distinguidas pela sua aparência ao microscópio, conclui o comunicado.
Lusa