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Éramos mais felizes sem as redes sociais?

Foto - Depositphotos  
Num tempo em que cerca de 40% da população mundial utiliza as redes sociais, faz sentido perguntar se somos mais felizes com estas plataformas.

É inquestionável que, temos um acesso facilitado à informação, que estabelecemos mais relações à distância, que podemos sentir-nos mais “familiarizados” com pessoas que não nos são muito próximas, que podemos aceder a dados de conhecidos e quase que considerá-los como “amigos”, mas será que tudo isso nos tem tornado mais felizes?
 
Na prática, cada pessoa terá uma resposta para esta questão, no entanto é importante que a faça para que possa tirar mais partido do que tem ao seu dispor, aproveitar melhor o seu tempo livre e, claro aprender a doseá-lo, sem esquecer que, o contacto presencial jamais deverá substituir o virtual e que, apesar de termos “muitos amigos” nas redes sociais, isso não quer dizer que estejamos mais acompanhados, com mais convites para beber um café presencial e aprofundar uma relação.
 
Tornou-se “normal” publicarmos aquilo que os outros aceitam, que concordam e que manifestam com “um gosto”, pelo que vale a pena perguntar se estamos a serverdadeiros connosco próprios e com os demais.
 
Na mesma sequência, também faz sentido questionar se nos faz assim tão bem ir a um qualquer lugar e ter de registar em foto ou vídeo o que fazemos para mostrar aos nossos seguidores virtuais e, se isso não é uma forma de prisão…
 
E o que dizer de estarmos sempre a receber alertas de notificações que não nos deixam desfrutar de momentos em família ou até sozinhos?
 
Naturalmente que tudo depende do mais correto ou incorreto uso que damos às tecnologias, mas importa saber muito bem colocar as redes sociais na nossa vida sob pena de sermos escravos delas e das suas exigências.
 
Certamente que o leitor também já se questiona se as redes sociais, de alguma forma o influenciam seja no estado de espírito, seja no que tem de fazer para agradar a quem o segue, seja “ter de mostrar” ao mundo virtual que está feliz quando não o está, ou ter de manifestar compaixão com um desconhecido quando isso nem o toca ou pelo menos não lhe diz muito numa determinada fase de vida.
 
Quando no passado estávamos presencialmente com outras pessoas, faziamo-lo porque marcávamos, porque sentíamos prazer nisso  e íamos com a certeza de que o momento terminava no fim de um encontro. Com esta ligação permanente às redes sociais, é natural que nos sintamos sufocados e até dependentes porque temos de responder, de concordar, de mostrar que estamos presentes, quando antes era muito mais fácil declinar um convite e esquecer um assunto.
 
Um casal namorava nas horas marcadas, e seguia o seu percurso até ao próximo encontro. Hoje está sempre “online” e a ter de corresponder às solicitações da pessoa amada. Será que isso, de alguma forma, não pode asfixiar a relação? Será que a disponibilidade para estar presencialmente com o outro é a mesma? Será que se consegue proteger o espaço pessoal e a privacidade?
 
Voltamos à questão inicial, é essencial dosearmos muito bem o que temos ao nosso dispor para que possamos tirar o melhor partido do lado positivo das redes sociais, mas nem sempre é fácil desligar os equipamentos e dizer “agora este tempo é para mim”.
 
Para sabermos se estas plataformas digitais nos fazem bem, temos de avaliar a nossa satisfação, qualidade de vida e bem-estar, daí ser tão importante fazer esta reflexão honesta e sincera.
 
No que toca a estudos sobre este assunto, os investigadores referem que, muitas pessoas utilizam as redes sociais para desabafar e que as entendem como uma forma de stress porque estão sempre à espera de uma resposta e de perceber se algum “amigo” as compreende, apoia e conforta. De acordo com os mesmos trabalhos, em 1800 pessoas analisadas, as mulheres confidenciam que ficam muito ansiosas quando têm algum problema e o partilham nestas plataformas, também porque acabam por receber a negatividade de outras mulheres, a crítica e os comentários destrutivos que “ainda as deixam mais abaladas”.
 
Ao mesmo tempo, os trabalhos de investigação refletem que, as redes sociais podem afetar-nos o humor, o bem-estar e a tranquilidade porque revelam a realidade de outras pessoas e apresentam pouca compaixão, compreensão, respeito e tolerância pelos sentimentos e características dos outros.
 
Depois, é preciso pensar no que realmente procuramos nas redes. Será que é a comparação com os outros? Será que é tentarmos elevar a autoestima? Mostrar a nossa qualidade de vida ou superioridade em elguma coisa? Será que procuramos esquecer-nos da nossa vida enquanto que “inspecionamos a dos outros? Será mera satisfação da curiosidade em sabermos mais sobre alguém? Procuraremos notícias, pensamentos de outras pessoas, aprender mais? Será que procuramos alimentar a nossa frustração quando percebemos que alguém também sofre com o mesmo que nós e isso alivia-nos? Na posição dos cientistas, é muito importante que tentemos compreender quais são as nossas verdadeiras motivações para que, ao satisfazê-las, desliguemos o ecrã e façamos a nossa vida real.
 
Já agora, as redes sociais conseguiram que melhorasse as relações que estabelece com as outras pessoas? Fez mais amigos com quem pode estar e desfrutar de uma boa amizade? A sua qualidade de vida melhorou ao saber que uma determinada pessoa viaja muito, que foi promovida, que comprou uma casa nova, que tem filhos e daí por diante? Considera-se uma pessoa mais feliz por acumular amigos mesmo sem conhecê-los ou sem poder estar com eles presencialmente?
 
Por outro lado, considera que encontrou mais pessoas que pensam de forma igual ou semelhante à sua? Considera-se realizado com as conquistas dos outros apesar de não as ter conseguido para si? Ou já encontrou as suas próprias motivações para ocupar as duas horas diárias que a maioria das pessoas entrega às redes sociais? Considera-as perda de tempo ou que gasta bem uma parte do dia ligado aos ecrãs? O seu namoro ou casamento melhorou com o contacto que estebelece nas redes ou simplesmente sente mais ciúme, infelicidade e posse porque quem ama não corresponde aos “gostos” e à atenção que gostaria de obter?
 
Sente-se diferente desde que chegaram as redes sociais? Consegue ser uma pessoa autêntica e verdadeira quando entra no ecrã? Sente-se condicionado e pensa muito bem no que pode publicar ou fá-lo em liberdade e sem se preocupar muito com isso? Já agora, publica aquilo de que gosta ou aquilo que acredita que os outros vão gostar?
 
Para finalizar, importa reter que, uma relação, seja ela qual for, necessita de contacto, de toque, de sensações de vária ordem que são limitadas pela distância e pelo ecrã, por isso, se souber utilizar estas plataformas num sentido positivo, saberá ligar-se e desligar-se no momento certo e, aproveitar bem o seu tempo porque há muita vida para além de uma enorme rede social que nos ocupa a mente, mas que nos deixa com uma enorme sensação de vazio.
 
Não é por acaso que, mesmo com as tecnologias, a participação em grupos virtuais e a ligação às redes, a solidão está a aumentar em todo o mundo e em todas as idades, pelo que, vale a pena pensar se estas plataformas, efetivamente nos estão a preencher ou simplesmente a criar a ilusão de que estamos mais acompanhados quando no fundo estamos cada vez mais sozinhos e distantes daqueles que amamos.
 
Assim sendo, aproveite muito bem todos os minutos de um contacto presencial e, desligue os ecrãs quando tem companhia, seja à mesa, seja num qualquer momento, pois terá sempre tempo para as tecnologias, não terá é as pessoas “ao vivo” sempre que deseja.