Todos procrastinamos. Somos humanos, é normal que isso aconteça. Seja porque não nos apetece mesmo nada ir às compras, ajudar os miúdos com os trabalhos de casa ou fazer aquele relatório aborrecido para o trabalho, adiar ou protelar uma tarefa é tão natural quanto respirar. O problema surge quando não conseguimos evitá-lo: quando a procrastinação é uma constante, as consequências vão muito além do nosso desempenho. Ela corrói tudo à nossa volta - até a nossa saúde mental, afirma Paulo Moreira, especialista em Inteligência Emocional.
Ao adiar uma tarefa, aumentamos os níveis de stress. Quando pensamos nas inúmeras consequências negativas que daí podem advir, a nossa amiga ansiedade bate-nos à porta. E vem acompanhada da culpa e da vergonha, que não demoram muito a afetar a autoestima. Nesta onda de mal-estar, é difícil fazer o que quer que seja. Por isso, procrastinamos mais um pouco… e entramos em desespero, porque não sabemos o que fazer para romper o ciclo, alerta o psicólogo e autor do livro: “Vencer a procrastinação” lançado recentemente.
Muitos autores defendem que, existem inúmeras explicações para que adiemos as tarefas e para que não consigamos cumprir prazos. Na maioria das situações, são problemas psicológicos e não “preguiça”.
Segundo a ciência, o ato contínuo de adiar tarefas e obrigações é explicado por múltiplos fatores psicológicos. Às vezes, é ansiedade, medo do fracasso ou uma depressão subjacente.
A procrastinação é o ato de adiar tarefas ou obrigações até ao último minuto, acabando por não se conseguir cumprir prazos e por prejudicarmos a nossa imagem, por exemplo, no mundo profissional.
O mais frustrante dessa experiência é que muitas vezes perdemos tempo com atividades menos substanciais, como passar horas nas redes sociais e não nos damos conta de que estamos a arrastar as nossas obrigações e a acumular problemas. Segundo os psicólogos, o facto de não assumirmos que não gostamos de uma determinada tarefa, que não estamos preparados para dar uma resposta à altura do que gostaríamos ou por estarmos a sofrer de algum modo, leva a que não reunamos forças para trabalhar, para cumprir as nossas responsabilidades e para que passemos a vida a encontrar desculpas para essa apatia, «sendo essencial enfrentar a situação de frente para que a consigamos ultrapassar», recomendam.
Um trabalho publicado na revista: Frontiers in Psychology descreve o impacto desse fator nos estudantes universitários. Geralmente, adiar o que precisa de ser feito é explicado por gatilhos físicos como o simples cansaço, mas também existem dimensões um pouco mais graves. Em muitos casos, existem problemas psicológicos que passam despercebidos.
Verifique se apresenta algum destes sintomas:
1. Falta de motivação e interesse na tarefa
Qualquer um de nós confronta-se com tarefas de que gosta mais do que outras e precisa de encontrar estratégias para as conseguir cumprir. A mentalização de que é necessário realizar esse trabalho ajuda, mas também é importante que diga a si mesmo que, após essa jornada, terá um momento agradável com alguém, consigo mesmo, que fará um programa diferente e daí por diante. Esta forma de pensar vai ajudá-lo a retirar a conotação negativa da tarefa, a encará-la como mais acessível e aceitável e até a aprender a encontrar-lhe interesse, requisitos necessários para realizá-la mais rápida e eficazmente.
2. Bloqueio psicológico
Quando estamos muito cansados, sentimos dificuldades em decidir o que vamos e como vamos fazer, bem como a aliviar a carga negativa de uma tarefa de que gostamos menos, o que leva a que não consigamos tomar as melhores decisões e a organizar-nos. Esta condição desencadeia estados de ansiedade que também não ajudam a que consiga ser mais eficiente e cumpridor, por isso, tente descansar, entender as causas desse desgaste físico ou mental e, quando estiver mais relaxado, programe o seu dia de forma a agilizar o trabalho e a incluir a sua recompensa no final.. Tenha em conta a importância de fazer pausas e de “desligar-se” da tarefa quando a termina e sim, tente conclui-la o melhor e o mais rapidamente possível para que possa iniciar outra que lhe seja mais agradável.
3. A ansiedade
Quando sentimos muita ansiedade, naturalmente que estamos menos disponíveis para trabalhar ou estudar, pelo que se torna essencial praticar técnicas de relaxamento e, acima de tudo, tentar compreender se atrás desse estado está o medo de falhar, algum tipo de preocupação, o perfecionismo, experiências anteriores negativas e daí por diante. Ao resolver os seus problemas emocionais, estará mais disponível para trabalhar e de forma mais eficiente.
É ainda essencial que faça um plano detalhado com as tarefas que tem para realizar diariamente e que se habitue a organizar o tempo de forma a garantir o lazer, após o trabalho.
4. Autoexigência excessiva
Aposte em dar o seu melhor e não idealize estar acima dos seus limites e potencialidades, sob pena de se sentir cada vez mais frustrado e de não conseguir cumprir as suas responsabilidades com êxito. Tente entender o que o leva a pensar assim, que medos estão associados a esse nível de exigência tão elevado e estabeleça metas realistas e concretizáveis.
5. Dificuldades em organizar-se
Uma das causas da procrastinação tem a ver com fatores neurocognitivos, entre outros, a dificuldade de concentração.
De acordo com um estudo, a desatenção está correlacionada com a procrastinação geral. Muitas vezes, são pessoas brilhantes, mas incapazes de planear as suas tarefas.
O que normalmente lhes custa é dividir as atividades nas etapas necessárias para atingir com sucesso um objetivo. Estas pessoas queixam-se que não sabem por onde começar e o tempo vai passando sem que consigam produzir o que necessitam. Para tal, torna-se essencial que aprendam técnicas de organização e planeamento para que possam ultrapassar o problema. Este recurso é muito útil para toda a população e regista resultados muito positivos, adverte o estudo.
6. Sobrecarga de tarefas
É crucial que saibamos o que é prioritário em cada momento para melhor nos organizarmos e aproveitarmos o tempo que temos ao nosso dispor.
Delegar tarefas, evitar acumulações e saber dizer “não”, são estratégias essenciais para ultrapassar este problema.
7. Depressão
Muitas pessoas sofrem de depressão e não sabem, mas isso acaba por refletir-se em apatia, falta de motivação, desorganização mental e daí por diante.
A terapia psicológica e, em muitos casos, psiquiátrica, ajuda a melhorar este estado que justifica desinteresse pelo que se faz ou tem de se realizar.
Uma pessoa que aprende a cumprir prazos, a organizar-se e a desenvolver uma boa motivação, poupa tempo para atividades de lazer, para estar em família, para relaxar e ter mais qualidade de vida. Quem adia as tarefas e as suas responsabilidades, entra numa espiral negativa, acumula problemas, frustrações e desinteresse pela vida, pelo que é fundamental reagir, identificar o que se passa, tratar-se e gozar de uma vida plena. Às vezes, a mudança de trabalho é uma solução, tal como rodear-se de pessoas positivas em ambientes que aprecia.