Saúde

Diana Pereira critica «falta de emoção» dos cirurgiões: «Agem como se fossem todos impecáveis»

DR - Goucha
DR - Goucha  
Diana Pereira, que denunciou 11 alegados erros médicos no Hospital de Faro, ocorridos entre janeiro e março deste ano, fez novas declarações sobre os casos reportados e falou sobre as acusações que diz ter sido alvo relativamente a problemas mentais.

Foi no programa "Goucha" da TVI, que a médica explicou que denunciou 11 casos, "em que houve alguma coisa que correu mal", mas disse haver mais. Explicou que o erro nunca era discutido como algo que acontece ou que pode ser construtivo para melhorar numa próxima situação: "o erro naquele serviço não é discutido, é visto como se fossem todos impecáveis, ou seja, cirurgiões que não falham e isso não acontece em lado nenhum", desabafou.
 
A convidada referiu que uma das situações que mais a preocupou "foi a falta de emoção, associada ao que vem a seguir à cirurgia, porque há pessoas que morreram, outras ficaram sem órgãos e com sequelas para sempre, e o que via no cirurgião é que nunca punha em causa se poderia ter feito algo diferente, não parecia ter emoção perante as consequências que tinha na vida das pessoas, e por isso eu chegava a casa e às vezes não conseguia dormir", relatou.
 
Diana Pereira recordou que um dos denunciados, tentou ligar para o cunhado, que também trabalha no hospital, dizendo que a sua familiar não estava bem, referindo que poderia instaurar um processo de internamento compulsivo, após a formalização das denúncias. 
 
Sobre esta questão, a médica admitiu que tem acompanhamento psicológico e lamentou que os visados tivessem acedido aos seus dados de saúde e partilhado os mesmos com outras pessoas do serviço, inclusivamente a medicação que tomou ou ainda toma. Descobriram que teve um burnout no 4º ano da faculdade, "eles não são psiquiatras e eu sou seguida e faço terapia porque sinto-me muito melhor, porque tiro benefícios para a minha vida e porque sinto um bem-estar associado e sou a maior defensora da terapia para toda a gente, quer tenham ou não problemas de saúde mental. Até às denúncias não tinha problemas psicológicos, após as denúncias passei a ter e depois, queixavam-se que eu trabalhava demais, devia ter uma conduta de uma senhora doutora, mas eu sou mesmo assim por natureza, por exemplo quando era pequena a minha mãe recebia as minha boas notas, mas por baixo aparecia uma indicação que eu não me calava e que não parava quieta, sou uma turbina e sempre estive ligada ao associativismo, sempre estive envolvida por tudo o que fosse lutar por um mundo mais justo porque é aquilo em que acredito e muitas das vezes faço para que isso aconteça", defendeu.
 
Diana Pereira que recusou trabalhar no Hospital de Faro, irá prosseguir o internato no Hospital de Portimão, onde deverá começar a trabalhar na próxima segunda-feira. A médica foi ouvida esta terça-feira na Comissão Independente da Ordem dos Médicos, sobre os casos denunciados.