Afastadas do amor romântico em que o jogo, o mistério, a arte e até a manipulação se conjugam para encantar alguém, as novas gerações apostam num método simples, direto e repleto de autenticidade.
Após a pandemia, em que o mundo passou a refletir sobre a vida de uma forma mais ampla, pensou-se na necessidade de “abreviar” as relações como se não houvesse tempo a perder com jogos de sedução, enganos, discussões inúteis e outros entraves a um relacionamento. Eis que surgiu então o hardballing.
Em linhas gerais, este método assenta na autenticidade, na honestidade, na expressão clara dos objetivos e das intenções, pelo que não dá lugar a perdas de tempo, a desgastes emocionais e, ainda menos a muitas desilusões porque ambos os parceiros sabem com o que podem contar.
As pessoas que praticam o hardballing, dizem ao outro aquilo que as move, quais são as suas reais intenções com aquela relação, o que mais gostam no outro e também aquilo que podem melhorar em conjunto. Esta conversa surge, em muitos casos, nas redes sociais onde se dão os primeiros contactos e, quando é marcado o primeiro encontro presencial, as regras já estão estabelecidas, o que evita dúvidas.
É evidente que, à medida que a convivência avança, podem surgir novos dados em função da própria relação, mas os mesmos também são abordados claramente para que não se acumulem dúvidas ou desconfianças.
A base deste método é a honestidade, pelo que, ambos os intervenientes na parceria amorosa devem concordar com um estilo de diálogo aberto e direto, em que se diz o que se pensa, o que se sente e até o que se quer melhorar. Para terminar a relação, também é utilizada a mesma franqueza, pelo que não é difícil dizer ao outro que o amor acabou, que se está interessado noutra pessoa ou que simplesmente se precisa de estar só naquele momento e que uma relação não é o ideal para si.
Para se conseguir este objetivo, as pessoas têm de ser esclarecidas, de se conhecerem muito bem, de saberem muito bem o que pretendem num relacionamento, assumirem o que fazem e o que não conseguem realizar e estar sempre dispostas a evoluir, seja a nível individual, seja com o parceiro.
Basicamente, as pessoas que aderem a este método não se dedicam a fazer jogos de sedução, a instalar a confusão em si mesmas e nos outros porque dizem ao outro que estão interessadas, que querem arriscar uma relação, que estão dispostas a conhecerem-se melhor e a partilhar algo em comum. Cai por terra a sedução do passado em que tinha de ser o homem a declarar-se, em que não se podia expressar sentimentos, muito menos dizer logo o que se pretendia porque se alimentava o mistério e a sedução.
As novas gerações precisam de tudo mais esclarecido e, para isso, estão dispostas a enfrentar o outro, a dizer-lhe o que sentem, o que pensam e o que pretendem.
De acordo com os terapeutas de casal, este método apresenta como vantagens a economia de tempo, a valorização pessoal, o desenvolvimento de uma boa autoestima e o assumir de valores como a autenticidade e a honestidade, já que não há espaço para “meias palavras”, falsas ilusões ou más interpretações.
Pelo contrário, também tem os seus contras, uma vez que, nem todas as pessoas estão preparadas e ao mesmo nível de desenvolvimento para conseguirem aplicar este modelo relacional.
Torna-se mais fácil ser rejeitado porque não se estudou o outro durante algum tempo e porque se “acelerou” demais a necessidade de obter uma resposta, o que pode gerar muita ansiedade, também porque existe uma tendência para mudar muito mais de relação, já que é fácil “apaixonar-se e desapaixonar-se” como se de uma rede social se tratasse.
Este método de sedução reflete muito bem o contexto atual, em que não há tempo a perder, não há muita paciência para andar atrás de outra pessoa e ainda menos para aguardar que ela decida iniciar um relacionamento mais profundo. Levanta dúvidas acerca da qualidade da relação, na medida em que é tudo muito rápido e, em muitos casos, as pessoas conhecem-se, mas não se dão tempo para se descobrirem, para darem mais de si, para mostrarem as suas habilidades e daí por diante. A relação é vivida no imediato como se de uma ligação à rede tecnológica se tratasse, no entanto, é emocionante e, segundo os seus defensores, permite que se vivam muitas emoções e descobertas numa vida com pouco tempo a perder.
De acordo com os entendidos, o método pode ser melhorado à medida em que é aplicado, pelo que, uma pessoa que não obteve sucesso numa ligação, pode reajustar-se e alcançar melhores resultados na seguinte. Ao mesmo tempo, é possível retirar os valores da honestidade, da autenticidade, do facto de sermos assertivos para conquistar alguém, mesmo que não de uma forma tão imediata como se pretende.
É ainda de realçar que, a beleza pode ser o primeiro passo para despertar interesse em alguém, mas o que pode alimentar uma relação é o bom humor dos parceiros, a frontalidade, a empatia, o diálogo aberto, a compaixão e a capacidade de ouvir o outro, de apoiar e de incentivar, pelo que, esses “ingredientes” não podem ser descurados neste ou em qualquer outro método de sedução, concluem os mesmos entendidos.