Dicas

Crescer com pais muito críticos

Foto - Depositphotos  
Há pais que, pela forma como também foram educados ou pela própria personalidade, tecem críticas destrutivas e acabam por arrasar a autoestima dos filhos.

Como consequência, as crianças apresentam tristeza, desmotivação, arriscam pouco pelo medo da repreensão e, à medida em que vão crescendo, apresentam marcas de sofrimento difíceis de ultrapassar.
 
Em muitos casos, os progenitores não se dão conta do que fazem porque também foram educados com base na crítica destrutiva, na falta de afeto e de um elogio, no entanto, acabam por transferir essa mágoa para os mais novos.
 
De acordo com os profissionais na área da psicologia, a forma como somos tratados pelos nossos pais, determina uma boa parte daquilo que vamos ser em adultos, pelo que não é de admirar que contactemos com tantas pessoas tristes, com baixa autoestima, pouco confiantes e sempre prontas para fazerem aos outros aquilo que lhes fizeram, seja na família, nas amizades, no trabalho ou no grupo de pertença.
 
No fundo, todos precisamos da aprovação, compreensão, carinho e amor dos nossos pais, quando os mesmos se apresentam ríspidos, inflexíveis, pouco dialogantes, sem compreensão e com críticas ferozes, o resultado é muito negativo e deixa feridas profundas, alertam os entendidos.
 
Para que uma pessoa se possa libertar do mau ambiente familiar em que cresceu, necessariamente terá de sinalizar o que se passou, ou seja, encarar a realidade com frontalidade e assumir que os seus pais eram muito críticos, que não toleravam um erro, que controlavam tudo e que lhe davam pouco espaço para que se pudesse assumir tal como é. Ao mesmo tempo, é essencial assumir que os seus pais lhe deram pouco afeto, carinho e compreensão, já que só assim poderá iniciar um processo de cura, explicam os psicólogos.
 
Se o leitor ainda hoje concentra-se mais nos seus fracassos, se tem pouca esperança, se é muito crítico de si mesmo e se perde a força e a motivação com facilidade, isso traduz que recebeu uma educação excessivamente crítica e que a relação que mantém consigo mesmo não é saudável, explicam.
 
Também é natural que os seus pais não o incentivassem, não lhe dessem liberdade para fazer as suas próprias descobertas e que não o deixassem ser livre para sentir, para realizar e para pensar. Tal resulta de uma educação pouco centrada no respeito pela criança, com uma fraca margem de manobra para que desenvolva a sua autonomia e pouco ou nada baseada na flexibilidade e na negociação, reforçam os psicólogos.
 
Os pais muito críticos desvalorizam o lado da criança, não têm paciência para ouvir e ainda menos para explicar, castigam e ofendem com facilidade e não aceitam sugestões ou alterações ao que pensam. Controlam e mandam nos filhos e esquecem-se de que eles são autónomos e não sua propriedade.
 
Estes pais não avaliam o esforço e o empenho dos filhos porque só estão focados no erro e na punição, pelo que, acabam por realizar as tarefas porque não acreditam que os mais novos sejam capazes de as fazer e porque não têm disponibilidade para ensinar. É-lhes mais fácil corrigir e seguir em frente, referem os mesmos entendidos.
 
Os pais críticos desvalorizam  o esforço e a idade da criança e não conseguem entender que os mais novos precisam de aprender porque não sabem tudo, logo, perdem facilmente a paciência e nem deixam que os filhos tentem, situação que destrói a autoestima dos mais novos e que desenvolve uma ideia errada do indivíduo que começa a creditar que não serve para nada. Não nos esqueçamos que os pais são a principal referência dos filhos e que, quando estes dizem algo negativo, os mais novos encaram como uma verdade absoluta muito difícil de alterar, daí a responsabilidade dos adultos em tentarem transmitir mensagens positivas e construtivas aos filhos, pois o contrário deixa-lhes marcas para a vida.
 
É comum que, por medo, por respeito aos pais que lhes deram a vida e o melhor que conseguiram que, muitos filhos façam de conta que nada se passou e que até adorem os pais como forma de esconderem essas cicatrizes da infância, mas são muitas as situações em que essas marcas se manifestam e, é quando a pessoa não aguenta mais que acaba por pedir ajuda especializada.
 
Muitos filhos também relatam em consulta que era recorrente a comparação que os pais lhes faziam com outros familiares, sendo porque não gostavam dessas pessoas, ou porque queriam que os filhos os imitassem, o que é outro erro grave e revela uma educação negativa. Por norma, um dos filhos é o favorito e acaba por servir de exemplo para os outros, tal como pode acontecer com um primo, um avô, um vizinho e daí por diante. Este modo de agir também é muito destrutivo e acarreta muito sofrimento para quem é comparado porque sente que não tem valor se não conseguir ser assim ou fazer o mesmo.
 
Os pais críticos também só oferecem algum afeto quando os filhos fazem tudo o que eles querem, quando obedecem a tudo, quando são elogiados por alguém ou quando fazem de tudo para mostrar aos pais que são exatamente o que eles querem. Segundo os psicólogos, este é mais um contributo para destruir a autoestima de qualquer pessoa que se vê como uma moeda de troca: ou faz o que os pais querem, ou não tem qualquer valor.
 
Se o leitor se sente desvalorizado, com um vazio enorme que parece não ser preenchido, se tem pouca motivação, esperança e capacidade de luta, se tece críticas sobre si mesmo, se duvida das suas capacidades, se pensa muito mais nos seus fracassos do que nas suas conquistas e dá por si a acreditar que não é capaz e a não resolver os seus problemas e a enfrentar a vida, peça ajuda especializada, pois ninguém está condenado a ter de viver e a sentir-se assim.
 
Uma pessoa com um autodiálogo destrutivo é alguém que recebeu um excesso de críticas ao longo do seu percurso e que não reúne forças para lutar contra isso sozinha, por isso, entre numa psicoterapia, aprenda a valorizar-se, a gostar de si e a enfrentar a vida de outra forma, aconselham os entendidos.