Vários grupos de pessoas que estão contra a construção de uma estação dessalinizadora no Algarve manifestaram hoje a sua oposição ao projeto, que consideram ir provocar um “crime ambiental” na Praia da Falésia, no concelho de Albufeira.
“Estamos na praia da Falésia, considerada uma das 10 praias mais bonitas do mundo, e somos contra a construção de uma dessalinizadora que vai criar problemas de contaminação e poluição, como a salmoura que vai ser atirada nas nossas costas”, disse Paolo Funassi, do grupo informal de estrangeiros no Algarve que assegura ter 2.300 simpatizantes.
Este grupo, juntamente com o movimento ambiental Amar o Mar e a Plataforma Água Sustentável (PAS), deram uma conferência de imprensa improvisada numa das entradas daquela praia para explicar a sua posição.
Estas entidades estão contra aquilo que classificam como um “crime ambiental” com a construção de uma dessalinizadora em Albufeira, que vai implicar, diariamente, a descarga para o mar de “60.500 toneladas do veneno com metais pesados que provocam cancro”.
Presente também na conferência de imprensa, Álbida Ferreiro, que pertence ao grupo de Estrangeiros no Algarve, estava em representação da família que é proprietária dos 12 hectares onde se pretende construir a nova unidade transformadora de água salgada em água doce.
Ferreiro explicou que receberam a carta de expropriação do terreno por 600.000 euros a 27 de dezembro último, mas que em 25 de janeiro a família contestou esse pedido, estando ainda à espera de uma resposta.
Os proprietários não aceitam vender o terreno e Álbida Ferreiro explicou que a sua família imigrou há 20 anos para Portugal, proveniente da Galiza (Espanha), sendo o sonho do seu pai a construção de um lar de idosos nos terrenos alvo da expropriação.
Álbida Ferreiro também se mostrou “muito preocupada” com a probabilidade de haver uma “grande desvalorização”, provocada pela proximidade da dessalinizadora, no preço de cerca de 200 apartamentos que a família está a construir num outro terreno próximo da Praia da Falésia.
As associações que contestam a construção da estação dessalinizadora estão a promover a assinatura de uma petição pública contra esse projeto.
De acordo com o texto da petição, a estação “não assegura o acesso universal e equitativo à água potável”, como foi assumido por Portugal nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, “na medida em que será entregue a uma empresa público-privada, que será compensada sempre que não tenha necessidade de tratar e vender água”.
O texto também defende que a eficácia deste projeto é reduzida, pois “apenas responderá às necessidades anuais de cerca de 100.000 consumidores”, quando o Algarve tem mais de 400.000 habitantes na época baixa.
A plataforma contestatária vai lançar uma “campanha de sensibilização” para a sua causa com a distribuição de panfletos nos cafés, restaurantes e estabelecimentos hoteleiros da região.
“Vamos lançar esta campanha porque quase ninguém fala nestas questões” aqui no Algarve, disse Paolo Funassi.
A estrutural falta de água no Algarve levou o Governo, em meados de 2023, a tomar a decisão de construir uma central de dessalinização no concelho de Albufeira.
O projeto esteve em consulta pública até 19 de dezembro último e o concurso para a obra de construção dessa unidade deveria ter sido aberto até finais de janeiro.
A empresa Águas do Algarve ainda não conseguiu expropriar todos os prédios rústicos necessários para implementar a estação, sendo imprevisível o impacto que isso vai ter para o início das obras.
Lusa