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Consequências de não resolver um trauma

O facto de não irmos ao fundo dos nossos traumas, da nossa dor e daquilo que nos causa desconforto, vai dando sinais que se revelam das mais variadas formas
O facto de não irmos ao fundo dos nossos traumas, da nossa dor e daquilo que nos causa desconforto, vai dando sinais que se revelam das mais variadas formas  
Foto: Freepik
«Um trauma psicológico é uma resposta que nos enfraquece as capacidades adaptativas, emocionalmente, cognitivamente, fisicamente e socialmente».

Muitos de nós, senão a maioria, pensa que o que nos acontece “acaba por passar, o que é  preciso é dar tempo”, mas na realidade, não é assim.
 
O facto de não irmos ao fundo dos nossos traumas, da nossa dor e daquilo que nos causa desconforto, vai dando sinais que se revelam das mais variadas formas e acaba por acarretar muitos prejuízos para a nossa saúde física e mental, dizem os especialistas na área da psicologia.
 
Na realidade, parece que é mais doloroso ter de assumir que algo nos aconteceu e que nos magoou do que fazer de conta que está sempre tudo bem e tentar colocar um sorriso permanente no rosto, mas essa atitude (de esconder a dor debaixo do tapete), vai-se manifestando através de vários sintomas que, mais cedo ou mais tarde, nos reduzem a qualidade de vida e a alegria e disponibilidade para apreciar a beleza das coisas, sublinham os mesmos entendidos.
 
O ato de ir ao fundo da dor, de assumir o que nos aconteceu, de aceitar que estamos a passar por um mau momento, ajuda-nos a processar essa informação e a curá-la. Pelo contrário, quando fazemos de conta que nada se passou, estamos apenas a arrastar um problema que vai ganhando proporções e que se vai expressando das mais variadas formas no nosso quotidiano. Há pessoas com tantos problemas e dor acumulada que acabam por ter uma qualidade de vida muito reduzida e por padecer de muitos problemas de saúde inexplicáveis. Tudo resulta de um trauma que não se tratou e curou, alertam os entendidos explicando que, na maioria das vezes, não nos passa pela cabeça que, muitos dos problemas que vivemos se devem a um passado mal esclarecido, a uma infância dolorosa, a situações que não conseguimos entender e que nos provocam desconforto  e daí por diante.
 
Para que se perceba melhor a dimensão de fugir da nossa realidade e de tentarmos ultrapassar uma situação dolorosa, sem ir ao fundo do episódio traumático,  os especialistas deixam as principais consequências de não superar um trauma:
 
Problemas musculoesqueléticos e digestivos ou explosões de raiva;
 
Sentimentos de vergonha
 
Ataques de pânico que se podem manifestar com estes sintomas:
 
• Sufoco.
• Tonturas
• Suores frios.
• Tremores.
• Palpitações.
• Sensação de perder o controle.
• Pensar que se está prestes a morrer.
 
Depressões recorrentes
 
Pesadelos e distúrbios do sono
 
Os pesadelos são um mecanismo utilizado pelo cérebro para tentar processar o trauma. Porém, nessa tentativa, o que a pessoa experimenta é vivenciar novamente o evento doloroso, e isso gera ainda mais desgaste físico e mental.
 
Hipervigilância
Entre as características de um trauma não resolvido está o aumento do estado de alerta ou hipervigilância. Essa realidade não deixa de ser mais um efeito do impacto do próprio evento adverso no nosso sistema nervoso central que leva a pessoa a um estado de alerta persistente, alimentando a sensação de que está sempre em perigo.
 
Doenças psicossomáticas
 
As doenças psicossomáticas são sintomas físicos diretamente ligados a alguma origem psicológica. Nesse sentido, há pessoas que fazem regularmente exames médicos, que são observadas, que nada lhes é encontrado ou diagnosticado, no entanto, continuam a apresentar sintomas de doenças. Tal acontece, segundo a ciência, devido a traumas que não foram resolvidos.
Os casos mais conhecidos são:
 
• Alergias.
• Enxaquecas.
• Insónias.
• Dor no peito.
• Cansaço persistente.
• Alterações digestivas.
• Dor musculoesquelética.
• Tensão  alta e cortisol elevado.
 
Baixa autoestima e sentimentos de inutilidade
 
Comportamento evitativo
 
Pessoas com este tipo de comportamento evitam os sentimentos, as relações com os outros porque temem sempre a perda e a dor, logo fogem dos afetos e das ligações mais profundas e saudáveis.
 
Transtornos alimentares
 
Comportamentos autolesivos
 
Entre as características de um trauma não resolvido, é comum ver pessoas que apresentam comportamentos autolesivos. Cortes, tricotilomania, dermatilomania… Esse tipo de comportamento procura libertar momentaneamente a carga de angústia latente, mas a longo prazo configura situações muito debilitantes.
 
Dificuldade em lidar com problemas
 
Quando não resolvemos um trauma interno, a nossa vida torna-se muito difícil e dolorosa, na medida em que, vivemos as emoções ‘à flor da pele’ e o cérebro apresenta alterações nas suas funções cognitivas (capacidade de aprender). A pessoa tende a reagir aos problemas de forma impulsiva, não consegue verbalizar o que sente e tem muita dificuldade em resolver as situações, por mais banais que sejam. Está sempre com uma atitude defensiva, típica de quem se sente ameaçado, e não consegue refletir adequadamente acerca das melhores soluções para os problemas.
 
Por fim, é importante reter que, independentemente da sua origem, os traumas podem ser tratados, o que possibilita que a pessoa tenha mais alegria e qualidade de vida. Para isso, é essencial que o indivíduo procure ajuda especializada e que lhe seja aplicada a técnica mais adequada.
 
Um trauma provoca muito sofrimento e, é praticamente impossível que alguém passe pelo mundo sem que tenha sido afetado por um episódio doloroso e capaz de lhe comprometer a qualidade de vida, pelo que, não é vergonha alguma pedir ajuda e tentar superar aquilo que, no fundo, não nos pertence.
 
Fátima Fernandes