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Consequências de crescer com pais excessivamente críticos

Os pais excessivamente críticos não apresentam capacidade de compreensão, empatia e a necessária responsabilidade para aceitarem que as crianças erram.
Os pais excessivamente críticos não apresentam capacidade de compreensão, empatia e a necessária responsabilidade para aceitarem que as crianças erram.  
Foto: Freepik
Muitas vezes sem se darem conta, há pais que fazem um uso tão excessivo da crítica que se esquecem de elogiar e de valorizar as boas ações e comportamentos dos filhos.

Esse tipo de educação deixa marcas profundas nos filhos que crescem com uma fraca autoestima, pouca autoconfiança, baixa tolerância à crítica e à frustração, sendo também mais vulneráveis a tudo o que se passa em seu redor.
 
Sabendo que os pais são a primeira referência dos filhos e o principal contacto dos mais novos com o mundo, é natural que, quem cresce num ambiente demasiado crítico, acabe por ter muitos medos, sobretudo de arriscar e de errar, que rejeite muitas situações importantes por considerar que não está à altura, que sofra em silêncio porque, por norma não o pode demonstrar e que faça de tudo para agradar aos outros, esquecendo-se de si mesmo. É ainda de registar que, estas marcas, se não forem trabalhadas convenientemente, perseguem a pessoa pela vida fora e dão lugar a relacionamentos complicados, pouco duradouros, difíceis e muito conflituosos porque a pessoa nunca se sente realmente bem e feliz.
 
Estes pais excessivamente críticos não conseguem dar amor, compreensão, estabilidade, confiança e harmonia dentro de casa porque eles próprios se sentem instáveis e com um permanente medo de falhar e de serem criticados pelos outros e pela sociedade em geral. Neste sentido, é natural que uma pessoa que se desenvolva neste tipo de ambiente que apresente uma herança familiar “muito pesada” e com a qual terá de conviver até que se consiga libertar.
 
Segundo os entendidos, ninguém está condenado a ter de viver assim, pelo que, quem não se conseguir libertar sozinho, deverá pedir a ajuda de um psicólogo para que possa desafiar as muitas limitações que enfrenta e a tristeza que o angustia, aconselham.
 
O ponto central é que cada um de nós saiba avaliar se os pais foram demasiado críticos e até que ponto esse aspeto interfere na qualidade de vida, no bem-estar físico e emocional e nos relacionamentos que estabelecemos com os demais.
 
Um dos sinais que revela que os pais exageraram nas críticas ao longo do nosso processo de desenvolvimento é o tipo de pessoa que nunca está satisfeita com o que é e com o que faz. Critica-se constantemente e é a primeira a depreciar as suas ações, pensamentos e sentimentos, uma vez que assim foi habituada e que tem essas marcas enraizadas.
 
Pessoas que só se concentram nas falhas, no medo de errar, numa tentativa constante de alcançar o sucesso, mas sem que se acredite que se é capaz, também passaram por uma educação excessivamente crítica, tal como quem aponta facilmente o dedo ao outro e encontra falhas em tudo o que faz, pois acaba por imitar as suas figuras de referência.
 
Na prática, estes pais não incentivavam a autonomia dos filhos, o que levou a que os mesmos se tornassem dependentes para realizar qualquer coisa. Estes progenitores facilmente diziam aos filhos: “Deixa isso que não sabes fazer”, “Não sabes fazer nada”, “Não prestas para nada”, “Eu faço isso, deixa estar, pois tu não consegues!”, entre outras afirmações que eram suficientes para que uma criança ou jovem desistisse e nem sequer tentasse melhorar as suas habilidades.
 
Estes pais excessivamente exigentes focam-se na crítica, nos aspetos negativos e não são capazes de valorizar o que a criança ou jovem fazem de melhor. Não evidenciam o esforço e baseiam toda a educação nos comentários negativos e depreciativos, o que prejudica o processo de aprendizagem e a tentativa e erro, o que é um ponto contra o desenvolvimento de uma autoestima saudável que requer elogios, incentivos, sensibilidade parental, apoio e afeto.
 
Os pais excessivamente críticos não apresentam capacidade de compreensão, empatia e a necessária responsabilidade para aceitarem que as crianças erram, que podem partir um ou outro objeto, deixar algo desarrumado porque tudo isso faz parte do crescimento. Usam os gritos, a crítica feroz  e a força porque sabem que não têm razão, mas querem manter a autoridade e não se apercebem que estão a assumir uma postura errada.
 
Em vez de os ensinarem a melhorar esses aspetos, de conversarem com os filhos, de os prepararem para crescer e evoluir, acabam por lhes limitar a ação, não os deixando fazer nada para evitar a falha. Ao mesmo tempo, dão muito ênfase ao fracasso humilhando os mais novos, em vez de os ajudarem a resolver os problemas para que, aos poucos, saibam ser autónomos e confiantes.
 
É comum que estes pais façam “uma tempestade num copo de água” por algo que acontece e que não tenham as reações, nem os sentimentos ajustados á situação, pois se virmos bem, é preciso fazer uma gritaria, agredir ou chamar nomes porque a criança partiu um vaso? É necessário bater porque a criança disse uma asneira? É a melhor forma de lidar com a situação humilhar só porque o jovem deixou o quarto desarrumado? Nada destas situações ajudam alguém a crescer e, é natural que quem passe por isto viva “numa verdadeira camisa de forças”, com medo de tudo, sufocado e triste, alertam os especialistas.
 
Os pais excessivamente críticos também tendem a fazer comparações entre irmãos, primos, amigos, colegas, filhos de vizinhos e daí por diante, o que prejudica profundamente o desenvolvimento de uma criança ou jovem que, no imediato, acaba por detestar a pessoa a quem é comparado e, depois passa a desenvolver sentimentos de baixa autoestima. Também é comum que estes progenitores comparem o filho a um elemento da família de que não gostam, mesmo para reforçarem que não o aprovam ou que o rejeitam. Muitas vezes, uma sogra é a escolha de muitas mães que, em dificuldades com a mãe do marido, acabam por dizer que a filha é como aquela avó, mas há muitos outros exemplos destrutivos e negativos.
 
Também é comum que estes pais não ofereçam amor e que exijam comportamentos “perfeitos” e “exemplares” em troca de um presente ou de um gesto carinhoso, em muitos casos, forçado.
 
Note-se que, não é o filho ou a filha que estão errados, mas sim estes pais que, não tendo conseguido também lutar contra o que os seus progenitores lhes ofereceram, acabam por reproduzir o mesmo comportamento errático nos filhos. O essencial é que, quem passou por este tipo de educação se liberte, que receba apoio à altura e que não faça o mesmo também aos seus filhos, sob pena de o erro se repetir geração após geração, alertam os entendidos.
 
Para finalizar, analise se sente este tipo de emoções:
 
- Tende a abdicar das suas próprias necessidades e desejos e faz de tudo só para agradar aos outros;
 
- Considera que o afeto tem condições e que, se não cumprir determinadas exigências, não conseguirá ser amado e respeitado;
 
- Fica paralisado perante o medo de arriscar e de falhar;
 
- É muito sensível a críticas ou a comentários dos outros, o que lhe dificulta conseguir manter uma relação estável e duradoura com alguém;
 
-  Apresenta baixos níveis de autoconfiança;
 
- Assume facilmente as culpas e as responsabilidades de tudo pelo medo da crítica e de não saber lidar com ela;
 
- Fica muito vulnerável perante uma mudança de comportamento ou de humor de alguém, pelo medo de ser criticado ou acusado de alguma coisa. Basta que a pessoa seja mais fria, pensa imediatamente que cometeu um erro e que a vai perder;
 
- Não consegue receber elogios e carinho por falta de hábito e por achar que não os merece, por isso, tende a mudar de assunto ou a colocar logo uma qualidade negativa em si mesmo perante uma palavra positiva de alguém.
 
- É uma pessoa perfecionista, controladora e quer tudo à sua maneira para “ter a certeza” de que tudo decorre como deseja e da mesma forma como aprendeu na infância;
 
- É muito exigente para consigo mesmo e possui um autodiálogo destrutivo e que o coloca sempre num plano negativo e de inferioridade;
 
- Arrisca pouco, mesmo tendo avaliado os prós e os contras porque tem muito medo de falhar. Por norma imita os outros para ter esse suporte e ganhar confiança, pelo que se pode tornar numa pessoa dependente e até invejosa pela sua falta de ousadia, determinação e coragem.
 
Se apresenta alguns destes sinais e se essa situação o incomoda no seu quotidiano e lhe reduz a qualidade de vida, é fundamental que vá ao fundo dessa ferida, que reconheça que herdou essa influência e não tenha medo de assumir que, os seus pais também não são perfeitos e que não lhe transmitiram a educação mais adequada à sua felicidade e bem-estar, pois isso é essencial para que se liberte e para que descubra uma alternativa, recomendam os especialistas nesta matéria.
 
Não existe qualquer problema em ver os erros dos outros, uma vez que só assim aprendemos e melhoramos aquilo em que também estamos a falhar, mas muitas pessoas não o fazem pelo medo de não conseguirem manter uma boa relação com os pais. Para evoluir, terá mesmo de passar por esse processo e, na medida do possível, aceitar que os seus pais fizeram o melhor que podiam e que sabiam e que lhe cabe a si lutar pela sua felicidade em liberdade.
 
Fátima Fernandes