Existe na sociedade atual uma forte pressão sobre os resultados escolares dos filhos, de tal forma que, muitas crianças não estão a conseguir gerir a frustração perante um resultado menos positivo e, muitos adultos perdem a cabeça perante um “suficiente” ou um “bom”.
Ser “muito bom” a todas as disciplinas parece que se tornou uma regra que não deixa margem para erros, muito menos para que os pais olhem para os filhos como pessoas e seres humanos.
Se é um facto que, «o sucesso nos primeiros anos de escola prediz o sucesso escolar a longo prazo» - Rimm-Kaufman & Pianta, 2000, não menos verdade é que os pais não se podem demitir de educar, de amar, de conversar e de acarinhar para que os filhos possam ir mais longe nas suas potencialidades. Temos de ver o indivíduo como um todo e não só o aluno.
Cada vez mais, o bom desempenho escolar dos filhos faz parte dos objetivos dos pais. Muitos adultos, acabam por elevar as expectativas e privilegiar o aluno em detrimento da criança. Se a criança é um bom aluno, muito bem. Se não é, está o caldo entornado. É-lhe exigido mais e melhor. É criada muita tensão à volta dos resultados escolares. Muitas vezes são-lhe atribuídas horas extras de trabalhos e atividades que não deixam tempo para descansar, muito menos para brincar. Todas estas sobrecargas físicas e emocionais podem levar a uma consequente diminuição do desempenho do aluno, e o aumento de uma baixa autoestima derivada do sentimento de falhanço perante os pais.
É essencial que os pais ajustem as suas expectativas em relação à escola, e que deem tempo para que os filhos progridam. Os mais novos absorvem todos os sentimentos e atitudes dos pais, pelo que, quando os adultos estão stressados, preocupados, inquietos ou aborrecidos com os resultados escolares, os filhos sentem-no e acabam por ficar muito tristes e frustrados, o que não ajuda nada a melhorar o desempenho diário.
Existe atualmente tanta pressão sobre os resultados académicos dos mais novos que, «falta tempo para ajudar as crianças a desenvolverem outras habilidades e competências sociais», alertam os especialistas, acrescentando que, essa carência de competências pode comprometer o salutar desenvolvimento e acarretar consequências negativas na vida adulta. «As crianças estão tão focadas em ter de cumprir os objetivos dos pais que se esquecem de ter compaixão, de viver momentos de amizade com os colegas, de desenvolver a tão necessária empatia, solidariedade, sociabilidade, entre outras habilidades fundamentais para que cresça com valores e que se torne num ser humano mais completo».
De acordo com alguns trabalhos de investigação levados a cabo, os cientistas afirmam que, «as crianças que se apercebem que os pais dão mais valor aos seus resultados escolares do que à bondade e às relações positivas que estabelecem com os outros, apresentam mais problemas de comportamento, frustração, depressão, ansiedade, tristeza e baixa autoestima».
Pelo contrário, os jovens que percecionam que os pais valorizam os resultados académicos, mas também evidenciam as suas atitudes, o comportamento, a bondade, a empatia, a capacidade de se relacionarem com os demais, apresentam mais felicidade e um melhor desempenho escolar.
“Parece que enfatizar a bondade como principal prioridade poderá não retirar destaque ao sucesso escolar, visto que descobrimos que estas crianças apresentaram um bom desempenho em todas as vertentes, incluindo na académica”, explicam os especialistas. “Contudo, quando as crianças acreditam que os seus pais se importam mais com o sucesso escolar, possivelmente relacionado com a forma como os pais comunicam esta mensagem e se esta é entendida em tom de crítica, apresentam pior desempenho em geral”, completam.
Segundo os investigadores, o segredo parece estar no equilíbrio e não colocar demasiada pressão sobre as crianças para atingirem o sucesso às custas de uma relação menos próxima com os outros. E alertam ainda para o tom com que as expectativas são comunicadas, já que, “por vezes, aquilo que podemos pensar ser encorajamento para fazer melhor é entendido pelos nossos filhos como uma crítica por não se ser ‘suficientemente bom’ segundo os padrões dos pais”.
Para finalizar, importa realçar que, os pais devem dispor de um tempo diário para conversar com os filhos, para brincar com eles, mediante a sua idade, para dar um passeio ou fazerem qualquer outra atividade de lazer em família. Devem apostar nesse tempo de qualidade, ouvir os mais novos, os seus medos, as suas dúvidas e as suas conquistas, mostrar interesse pelo seu dia, pelos conflitos com colegas, interessarem-se pelos amigos dos filhos e reservar também um tempo para falarem do seu dia com os mais novos, já que isso também os prepara para o mundo e para a vida.
A criança ou jovem tem as suas responsabilidades e conseguirá cumpri-las se os pais se mostrarem compreensivos, empenhados nas suas tarefas, pelo que, mostrar à criança que são uma família e uma equipa que luta no mesmo sentido, facilita todo o processo.
Os mais novos não têm de ser “os melhores”, mas sim darem o seu melhor, trabalharem diariamente pelo seu sucesso académico que é apoiado e incentivado pelos pais. Precisam de tempo livre e de sentir que a família está ao seu lado, para “o bom”, o “muito bom “ e que conseguem lidar com um “suficiente” que possa ocorrer.