O sociólogo Robert Merton, explicou como é que uma ideia positiva ou negativa acerca de algo pode transformar-se numa ação concreta.
Existem crenças que podem levar –nos a fazer acontecer o que tanto tememos ou que levam a que nos comportemos de determinada forma – são as profecias autorrealizáveis que, para este sociólogo nascido em 1910 e que estudou e publicou diversas obras nos Estados Unidos da América, “são uma ideia ou pensamento que surge na mente e que podem levar a que a mesma se torne realidade”.
As profecias autorrealizáveis “são verdadeiros dispositivos mentais que terminam em ações. São afirmações das quais estamos convencidos e que funcionam como previsões que, uma vez pensadas, são as causas da sua ocorrência”, explicou nos seus trabalhos.
Merton adiantou que, as profecias autorrealizáveis ”são falsas definições de situações que despertam um novo comportamento e que fazem com que as mesmas se transformem em realidade”.
De acordo com o sociólogo, as pessoas não reagem simplesmente ao modo como as situações são, mas sim à sua interpretação delas (as coisas só têm a importância que lhes atribuímos). Portanto, o comportamento subsequente é determinado, em parte, pela sua perceção e pelo significado atribuído às situações: a pessoa convence-se de que uma ocorrência ou incidente tem um certo significado. A partir daí, acaba por adequar o seu comportamento à perceção e colher as consequências daí resultantes, sejam elas positivas ou negativas”, esclarece.
Na sua vasta obra publicada e reconhecida mundialmente, Merton deixou-nos alguns exemplos de profecias autorrealizáveis que podem conduzir-nos ao sucesso ou ao fracasso:
- As profecias que produzimos face ao nosso comportamento indicam uma conquista ou uma derrota naquilo que desenvolvemos. Por exemplo, alguém que acredita que vai conseguir obter um bom resultado num teste, vai acabar por consegui-lo, enquanto que uma pessoa que não acredita no seu potencial, seguramente que não vai ajustar-se da melhor forma, muito menos preparar-se para o teste e acabará por receber um resultado negativo. Não é por acaso que se reforça tanto a importância de “pensar de modo mais positivo” para que se superem obstáculos pessoais.
- As profecias que construímos em relação aos outros também podem determinar o sucesso ou o insucesso da relação. Alguém que imagina que aquela pessoa é compatível consigo,liberta-se dando o seu melhor, abrindo caminho a que a relação se torne agradável. Quem pensa de forma oposta, acaba por colher também o contrário das relações mais ou menos íntimas que estabelece. Para Merton, trata-se do efeito Pigmaleão, que em psicologia, refere-se à influência que uma crença exerce sobre o desempenho de outra pessoa. Uma mãe que diz ao filho que vai cair da bicicleta, está à espera que tal ocorra e, aumenta as probabilidades de o mesmo acontecer, acabando por concluir que “eu não te disse que ias cair?”. Logo, se pensarmos de modo mais positivo, se alertarmos a criança para ter cuidado, mais facilmente ela terá um bom passeio de bicicleta, defende o mesmo autor.
- As profecias a nível global ou macro, são mais abrangentes e referem-se a fenómenos sociais ou económicos, por exemplo e, tal como as anteriores, são construídas pelas crenças e dão lugar a acontecimentos nas mais variadas áreas da vida humana, incluindo a política, a família, a cultura, a sociedade e daí por diante. Podem surgir de pequenos gestos num grupo e podem alcançar grandes dimensões como as de movimentos de maior expressão.
Merton deixou como exemplos o facto de “dizer-se que o pão vai aumentar muito de preço porque há escassez de farinha. Em pouco tempo, toda a gente “invade” as padarias e outros locais de venda do produto levando a que esgote. Com o aumento da procura e a redução na oferta, o preço acaba mesmo por disparar. O mesmo acontece com a bolsa de valores e outras representações da nossa economia, que dão aso a que as crenças se transformem em realidade. Quando se ouvem apontamentos dando conta de que um governo vai cair, começa a desenvolver-se uma onda crescente e, aos poucos a liderança enfraquece a ponto de a ida a eleições antecipadas tornar-se numa realidade.
Registe-se que, em muitos casos, são as crenças que determinam os comportamentos levando a que muitas pessoas acreditem em falsas verdades conduzindo a um desfecho previsível que mais não foi do que o resultado dessa mentira que ganhou expressão e alterou o funcionamento de um sistema.
Uma pessoa que sofre de transtorno de pânico, por exemplo, também acaba por viver tão assustada e com medo de o repetir que, efetivamente acaba por sentir esse desconforto profundo cada vez com mais frequência. O facto de temer um episódio leva a que o pânico aumente e que persista por períodos cada vez mais longos de tempo, o que só vai terminar com um tratamento adequado.
O mesmo se passa com um homem que, por um qualquer motivo, num dia não consegue realizar uma relação sexual, é confrontado pela parceria amorosa e passa a acreditar que se tornou impotente. Na realidade, este homem precisava de desabafar algo que lhe aconteceu durante o dia, não o fez e não quis recusar o convite íntimo da parceria. Ao perceber que não foi capaz de consolidar a ação, instalou a crença de que “já não consegue manter uma relação íntima”. Daí até ao fracasso das futuras relações é um pulo, explicou Merton alertando para a relevância do diálogo franco e aberto como gerador de paz, tranquilidade, união e capacidade de reverter as tais crenças que só nos prejudicam.
Por fim, o sociólogo adverte que, estas crenças estão presentes em todo o lado e em todas as nossas relações, não sendo incomum que um professor seja ríspido com os alunos só porque os colegas do ano anterior o alertaram para “uma turma barulhenta”, que interpretemos mal um gesto ou uma palavra de alguém só porque uma pessoa já viveu uma consequência negativa com a mesma, porque “alguém disse” que não se deve fazer isto porque conduz àquilo, porque “as pessoas acreditam que, por exemplo o dia 13 dá azar e daí por diante.
Se percebermos as nossas crenças, conseguiremos obter mais tranquilidade, melhores resultados e fazer com que nos beneficiem e não nos prejudiquem.
Merton mostrou a importância de entendermos como funcionam as nossas perceções e construções mentais para que melhor as utilizemos a nosso favor e com menos prejuízo também para os outros.
A técnica mais eficaz para transformar as crenças em algo positivo é duvidar, criticar e determinar de modo a que coloquemos em causa o que nos dizem e até o que pensamos e, ao mesmo tempo, que analisemos a situação e que ponderemos se o que nos disseram é verdade, se nos faz sentido e se vale mesmo a pena seguir. Nunca devemos desistir deste trabalho interno, aconselha o sociólogo.
Já agora, se acreditarmos que vamos conseguir algo, mais facilmente o vamos obter porque usamos essa previsão positiva a nosso favor em vez de só recorrermos às crenças negativas para comprovar a sua veracidade. Comprove que, quando acredita, trabalha, projeta e segue um caminho, consegue.