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Como tratar a carência afetiva

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A carência afetiva é uma das principais fontes de conflito entre os casais e conduz-nos à falta de saúde mental.

Segundo os psicólogos, todos nós já tivemos momentos de maior carência, em que precisamos de apoio, compreensão, conforto e “um colo”, mas quando a situação ultrapassa os limites do razoável, podemos estar na presença de uma carência afetiva disfuncional e que merece ser encarada com seriedade e responsabilidade.
 
As pessoas excessivamente carentes, são muito exigentes, pegajosas, irritantes, frágeis e apresentam uma extrema necessidade de atenção nos mais variados contextos, o que traduz relações difíceis e pouco duradouras, muitos conflitos com familiares, amigos ou colegas de trabalho e muita solidão e sentimentos de incompreensão, refletindo uma disfunção psicológica séria e que requer um acompanhamento especializado.
 
Segundo os especialistas na área da psicologia, ser uma pessoa saudável significa ser capaz de tolerar a solidão e saber gerir o seu próprio vazio. É assim que os relacionamentos saudáveis prosperam e crescem. E, devemos reter que, a nossa capacidade de expressar necessidades e sermos independentes dentro de um relacionamento tem muito a ver com a nossa personalidade e estilo de apego».
 
A carência afetiva manifesta-se de forma saudável ou segura, ou com ansiedade e disfunção.
 
No primeiro caso, falamos de pessoas seguras, que se sentem bem consigo mesmas e com os outros, que sabem valorizar quem têm ao seu lado, mas que, em algum momento, precisam de mostrar a sua vulnerabilidade, procurar um pouco de conforto, de compreensão e de apoio e conseguem retribuir esses sentimentos aos demais. São pessoas que cresceram num ambiente afetuoso, com pais carinhosos e capazes de expressar emoções, de falar de sentimentos e de mostrar gestos adequados às situações. Também há pessoas que cresceram sem estes requisitos, mas que conseguiram ultrapassar a carência com um bom acompanhamento psicológico, com o apoio de alguém da sua confiança e com muita vontade de admitir e de ultrapassar essa disfunção.
 
Por outro lado, a carência afetiva que se manifesta com ansiedade reflete extrema necessidade. As pessoas minimizam ou negam as necessidades do parceiro ou parceira,  encaram o outro como uma forma de preencherem o próprio vazio emocional e muitas vezes agem de forma manipuladora. Para o parceiro de uma pessoa com carência afetiva disfuncional, o relacionamento acaba por tornar-se num peso e em algo muito negativo e destrutivo, pelo que, na maioria dos casos, não se prolonga no tempo.
 
As pessoas com carência afetiva, principalmente aquelas que são manipuladoras, anulam as vontades e desejos dos seus pares, minam a autoestima para que sejam constantemente estimuladas e tenham o seu vazio preenchido. Não importa o que o parceiro faça: a fome de emoções e atenção são insaciáveis e exaustivas.
 
De acordo com os psicólogos da Vittude, para ultrapassar a carência afetiva disfuncional, é essencial que tenhamos em linha de conta estas orientações que não invalidam o pedido de apoio terapêutico:
 

1. Reconheça o problema

Adquirir consciência do problema é o primeiro passo para superá-lo. Tornar-se consciente e iniciar o processo de entendimento sobre como o leitor se relaciona com os outros é crucial. Admitir essa carência é também fundamental para melhorar a sua relação consigo mesmo e para começar a reduzir a ansiedade e o impacto que a mesma tem no seu quotidiano.
 

2. Encare o seu problema sem culpa

Todos nós sempre teremos problemas e desafios a enfrentar. Encare o que é menos positivo como uma oportunidade para aprender algo novo e melhorar a sua relação consigo mesmo e com os outros. O ponto de partida é não se sentir culpado por agir assim, mas reunir força e vontade para fazer de forma diferente e, aos poucos, os resultados positivos vão encorajá-lo a prosseguir e a alcançar novos desafios. Abra a mente a novas possibilidades, já que a aprendizagem é crucial para a mudança. Lembre-se que, não fazer nada perante um problema leva-nos à doença mental e a comportamentos autodestrutivos como o consumo de substâncias, vícios de vária ordem e outras formas de compensar esse vazio que não se trata, mas que se mascara.
 

3. Não sufoque o outro

Por muito que amemos alguém, não devemos fazer do outro o centro do nosso mundo. Uma relação é constituída por duas pessoas que precisam do seu espaço, do seu tempo e da sua liberdade para que, quando estão juntas, gozem de mais momentos de interesse e de prazer. A pessoa carente quer sempre o outro ao seu lado ou ligado a si através dos meios que tem ao seu dispor, vive em função dele, cobra-lhe o que faz e o que não faz, sente muitos ciúmes, é uma pessoa possessiva e muito manipuladora para que se possa sentir segura, mas na verdade, sente-se profundamente só porque ninguém a consegue compensar. O segredo reside na maturidade que nos conduz à independência e à capacidade de sabermos lidar com o nosso próprio vazio e não estar sempre à espera de que o outro “seja a tábua de salvação” para tudo. Os adultos falam em pé de igualdade dos seus problemas, metas e desafios. As pessoas carentes querem ser o centro de tudo, têm sempre problemas para chamar a atenção e vivem numa dependência doentia e desgastante para quem está ao seu lado.
 

4. Concentre esforços para transformar-se

Aprenda a gostar de si, cuide diariamente da sua autoestima, disponibilize-se para realizar tarefas sozinho, estabeleça rotinas que lhe permitam ser mais independente e autoconfiante e habitue-se a não depender dos outros para fazer escolhas, para tomar decisões, sem esquecer de dar a sua opinião nas mais variadas ocasiões, já que, em conjunto, estas estratégias vão fortalecê-lo. O parceiro/a ajuda-nos a sermos mais confiantes, mas a maior parte do trabalho interior tem de ser nosso para que possamos estar lado a lado e não numa relação de dependência. Assuma as suas responsabilidades e permita que o outro também o faça. Partilhem o que são e o que têm individualmente e não espere que seja o outro o alvo do seu autoconhecimento. Aprenda a gostar de si e a sentir prazer na sua companhia. O outro é uma fonte de felicidade através da partilha de momentos, não o responsável por fazê-lo sentir-se feliz, já que essa é uma incumbência individual. As pessoas só nos ajudam a ser felizes, não são a base da nossa alegria, entusiasmo, motivação e luta pela qualidade de vida. Aproveite para selecionar melhor as pessoas com quem convive, pois é daí que também resulta a sua autoestima e o prazer de estar com os demais.
 

5. Aprenda a confiar

As pessoas carentes não conseguem confiar em ninguém e têm associado o medo da rejeição e do abandono. Ao confiar mais em si mesmo, naturalmente que também conseguirá confiar mais em quem realmente merece a sua confiança. A carência aumenta à medida em que estamos com medo dessa rejeição e quando duvidamos dos sentimentos dos outros em relação a nós. O segredo é tentar conhecer melhor as pessoas e perceber se, efetivamente elas são merecedoras da nossa confiança. Em caso afirmativo, devemos libertar muitos desses medos e sentimentos negativos e desfrutar do prazer que nos proporcionam. Esta é uma boa arma para combater a carência afetiva. Há pessoas que andam sempre à procura de novos contactos porque nunca estão satisfeitas consigo mesmas. Tal ocorre porque não olham para dentro de si, não se estimam e valorizam e projetam no outro a sua felicidade. Se começar por si, verá que encontra muitas mais pessoas dignas de uma relação duradoura e agradável.
 
Por fim, registe que, quanto mais desenvolver a sua autoestima, mais terá confiança em si e menos dependerá dos outros ou do seu parceiro/a, pelo que, com esta habilidade desenvolvida, verá ultrapassada a sua carência afetiva, já que a mesma resulta precisamente da nossa incapacidade de olharmos para nós mesmos com valor e sentirmo-nos bem na nossa companhia.
 
Se precisar de ajuda, não hesite em pedir apoio a um psicólogo que lhe irá fornecer ferramentas para desenvolver estas habilidades e permitir que desfrute de uma vida mais saudável e prazerosa.