Seja uma amizade que termina, um namoro, um casamento, uma relação com um familiar que tem um desfecho negativo ou outra, todos nós, em algum momento de vida, vamos ter de enfrentar uma rejeição amorosa.
Segundo os especialistas nesta matéria, as novas formas de ligação ao mundo que temos ao nosso dispor, têm acentuado o impacto das rejeições amorosas porque «é fácil retirar um perfil das plataformas digitais, sair de uma relação sem dar uma explicação, “desaparecer” sem uma despedida e daí por diante».
Naturalmente que, numa qualquer circunstância, é muito complexa a tarefa de lidar com uma rejeição sobretudo porque há uma expectativa, uma ilusão. O cérebro programa um determinado desfecho para uma convivência e, quando tal não ocorre, acaba por sentir muitas dificuldades em aceitar essa interrupção, o que leva a traumas, a muita dor e, em muitos casos, à necessidade de recorrer à ajuda de um psicólogo.
De acordo com os terapeutas, «quem opta por pedir ajuda atempada, acaba por evitar muito sofrimento e um aumento das feridas que a situação dolorosa lhe provocou, por isso, quando percebemos que não estamos a conseguir lidar com a dor, que arrastamos o sofrimento no tempo, que estamos a perder o interesse e a motivação por atividades que antes fazíamos e que nos eram prazerosas, devemos mobilizar-nos e pedir apoio».
Para facilitar a tarefa, os cientistas deixam alguns sinais que demonstram que não estamos a conviver bem com o facto de termos sido rejeitados:
- Irritabilidade
- Tristeza acompanhada de dor emocional
- Baixa autoestima
- Sentimentos de culpa com a sensação de que algo desse tipo só lhe acontece a si
- Dúvidas face ao seu real valor e ao interesse que desperta nas outras pessoas
- Desconfiança nos outros e falta de confiança em si mesmo e no futuro
- Evita novos contactos pelo medo de voltar a passar pelo mesmo
- Critica tudo o que faz e coloca em causa as suas capacidades
- Medo de ser rejeitado mesmo por aqueles que demonstram apego e afeição
- Dificuldade em confiar em alguém
- Está sempre a recordar-se do episódio negativo e não encontra uma saída para essa angústia e pensamentos negativos
- Faz de tudo para saber mais sobre a pessoa que o rejeitou. Recorre às redes sociais, amigos em comum e a todos aqueles que lhe possam fornecer pistas sobre quem o abandonou
- Sente-se instável, assustado, desconfiado e pouco motivado
- Os sentimentos destrutivos perduram há seis meses ou mais
- Continua a perguntar-se “porquê eu?”, acreditando ser a única pessoa no mundo a passar por uma situação tão dolorosa.
Pegando neste último ponto, é essencial que tenha em mente que, qualquer pessoa pode passar por uma rejeição amorosa a partir do momento em que estabelecemos relações e que nem todos gostam de nós como desejaríamos. Se o leitor pensar bem, também não tem capacidade de amar toda a gente, por muito que até gostasse de possuir essa habilidade, logo, enquanto houver um humano único e especial, vão sempre ocorrer ilusões, de4silusões e rejeições.
Partindo deste pressuposto, não tem de colocar-se como “a pior pessoa do mundo” por não ter agradado alguém e sim, tentar admitir que nem todos apreciam aquilo que somos, temos e fazemos. Faz parte das relações, como se de um jogo se tratasse.
Se existe uma pessoa que não nos valorizou, certamente que vamos encontrar outras que gostam de nós, que nos merecem e tratam com carinho e respeito.
Inclua também a máxima de que, se todos gostassem de nós, como faríamos para corresponder a toda a gente?
É evidente que cada um sabe da dimensão da sua dor, mas tem de lutar para libertar-se e, o primeiro passo consiste em olhar para si, cuidar-se e preparar-se para viver o melhor que consegue. Procure uma atividade que lhe dê prazer, tente conhecer outras pessoas, mas de uma forma liberta e descontraída, sem ter de procurar um amigo ou uma possível relação amorosa, já que isso lhe dará autoconfiança para que, aos poucos, reaprenda a confiar e a acreditar mais em si.
Pense que, se a outra pessoa o rejeitou é porque não foi capaz de apreciar as suas qualidades, que não estava “na sua linha de pensamentos e de interesses”, que não queria concretizar os mesmos objetivos ou um plano de vida em conjunto. Deixe-a ir e fique com o melhor que é e que possui, pois mais cedo ou mais tarde, irá cruzar-se com alguém com valores mais próximos dos seus, mas não programe nada, não adiante o relógio do seu tempo.
Não se isole, nem perca a esperança. Segundo uma publicação no Journal of Social and Personal Relationships, os seres humanos têm necessidades básicas de pertença, que revertem na nossa autoestima, autocontrole e construção de uma vida mais significativa. Se isso falhar, uma parte de nós entra em colapso. Quer isto dizer que, é natural que fiquemos abalados com uma rejeição, mas que a solução não passa por fechar-nos e desligar-nos do mundo, mas sim, tentarmos de outra forma, com expetativas mais baixas e sempre com os olhos postos naquilo que é melhor para nós.
Por iniciarmos uma relação com alguém, isso não quer dizer que temos de namorar com essa pessoa ou casar. Podemos desenvolver um conhecimento, aprender algo novo, partilhar também aquilo que sabemos e, no decurso do tempo, veremos em conjunto, a evolução da relação. Com esta cautela e racionalidade, associada à inteligência emocional, facilmente conseguiremos ver até que ponto o outro está a corresponder ao que desejamos ou não. Dessa forma, poderemos evitar muitas desilusões e rejeições, alertam os especialistas.
O recurso a um psicólogo permitirá que expliquemos o que nos aconteceu, a dimensão da nossa dor, os danos que essa rutura nos provocou e qual o melhor caminho a seguir.
O terapeuta fará um diagnóstico e iniciará um tratamento adequado ao nosso caso que, por norma, passa por encetar uma terapia de aceitação e de compromisso.
A Universidade de Castilla-La Mancha, em Espanha, revela que, «quando uma pessoa passa por uma rejeição amorosa experimenta o ostracismo, que é um fenómeno que integra o sentimento de solidão, humor deprimido e impotência. Tudo isso requer uma abordagem terapêutica adequada».
Assim, é fundamental aplicar a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) que é uma abordagem eficaz capaz de reduzir o sofrimento e envolver diferentes condições psicológicas.
A ACT incide na mudança e no bem-estar, trabalhar os valores pessoais e definir novas metas vitais, aceitar o que nos aconteceu e permitir que as emoções se libertem para que as possa integrar e tratar, aprender a lidar e a assumir o desconforto, admitir os pensamentos negativos e desenvolver habilidades que vão ao encontro da flexibilidade e capacidade de aceitar as alterações abrindo caminho para novas formas de estar e de pensar, sabendo que temos de sentir as dores para que possamos aprender a lidar com elas e a geri-las.
Aceitar que, o que vivemos fez parte de um contexto. Nós não somos assim, mas naquele cenário passamos por uma situação desagradável, logo não temos de colocar em causa tudo o que somos e o que construímos, mas sim, admitir a realidade que vivemos, a pessoa que quer reerguer-se e dar um novo sentido à sua vida.
Mediante o diagnóstico, o terapeuta também pode aplicar a Terapia cognitivo-comportamental (TCC) que é um modelo usado para ajudar as pessoas a lidar com o luto emocional e a superar as perdas súbitas, bruscas e dolorosas. Utiliza uma metodologia ampla baseada nos eixos que citamos abaixo:
Validação emocional e reforço da autoestima.
Prevenir as recaídas e oferecer à pessoa ferramentas para enfrentar sozinha as dificuldades futuras.
A TCC orienta-nos para uma mudança de comportamentos para outros mais saudáveis de forma a reduzir o sofrimento. Ao mesmo tempo, será aplicada a regulação emocional que implica ter estratégias para lidar com o desconforto, as emoções difíceis e a ansiedade associadas a essa experiência. Na mesma terapia cabe também a reestruturação cognitiva para identificar e modificar padrões de pensamento negativos e distorcidos ligados à experiência de rejeição, sem esquecer o desenvolvimento de técnicas para aprender a resolver problemas. As mesmas vão fortalecer-nos interiormente e permitir-nos encontrar alternativas também para proteger as emoções.
Por fim, a terapia focada na emoção (TCE) é uma abordagem desenvolvida pelo psicólogo humanista Carl Rogers e posteriormente aprimorada por Leslie Greenberg e outros terapeutas. Esse modelo ajuda a superar a rejeição amorosa graças aos recursos disponíveis para passar pelo luto e ajudar a gerir melhor o desconforto através das seguintes orientações:
Aprender técnicas de regulação emocional.
Promover a reflexão para dar sentido ao que foi vivido.
Facilitar a transformação emocional e promover o bem-estar.
Gerir estados como raiva, culpa, tristeza ou vergonha ligados à experiência negativa de forma a desenvolver um novo modelo de vida com menos desconforto e sofrimento, abrindo portas a uma nova forma de estar que permita que evitemos passar por situações semelhantes sem que tenhamos ferramentas para nos protegermos.
Há sempre uma porta que se abre após um episódio doloroso, abra-a e volte a viver, concluem os especialistas.