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Como os pais podem impedir o desenvolvimento pessoal dos filhos

Como os pais podem impedir o desenvolvimento pessoal dos filhos
Como os pais podem impedir o desenvolvimento pessoal dos filhos  
Foto - Freepik
São muitas as razões que levam a que os pais se foquem tanto na vida dos filhos que se esqueçam de si mesmos.

Se aparentemente isso é uma prova de amor que se manifesta através da entrega, os especialistas afirmam que se trata de uma maneira de impedir que os filhos desenvolvam habilidades e competências.
 
Ao mesmo tempo, não é aceitável que os adultos vivam tanto a vida dos filhos que se desliguem das suas responsabilidades, de desenvolverem a sua maturidade e, acima de tudo, que fujam de um confronto consigo mesmos.
 
Todos precisamos de ir ao fundo de nós, de conhecer-nos, de nos assumirmos tal como somos, mas muitos pais “aproveitam” a infantilidade dos filhos a ponto de até considerarem a vida dos mais novos mais interessante e desafiante do que a sua. Os especialistas também relatam que, o mundo das crianças e jovens acaba por cativar os pais que sofrem de um enorme vazio emocional e que não conseguem lidar com as suas frustrações, pelo que “acabam por envolver-se tanto nos planos dos mais novos que se esquecem de si próprios”, mas “essa postura perante a vida não surte bons resultados nem para os adultos, nem para os seus descendentes ”, alertam.
 
Em linhas gerais, os entendidos chamam-lhes de famílias invalidantes porque criam obstáculos ao desenvolvimento dos filhos de tal ordem que dão lugar a filhos inseguros, dependentes, com muitos medos e que arriscam pouco, seja porque temem dececionar os pais, seja porque se acomodam ao facto de os pais lhes fazerem tudo e de não permitirem que eles tenham as suas próprias iniciativas, gostos e preferências.
 
Em muitos casos, os filhos acabam por gostar de não precisarem sequer de pensar nas soluções para os seus problemas, uma vez que os pais tratam de tudo, mas também há muitas situações em que os mais novos se sentem tão inúteis que acabam por perder o sentido da sua própria existência. Não menos importante é realçar que, também existem filhos que pedem ajuda porque não suportam tanta dependência e sufoco e que sentem uma profunda necessidade de se valorizarem, de se descobrirem e de serem seres únicos e especiais como todos deveríamos ser.
 
É fundamental realçar que, a família é o primeiro contacto de um ser humano com o mundo e que acaba por determinar muitos comportamentos, no entanto, os pais devem respeitar a individualidade dos seus membros, sob pena de estarem a sobrepor -se e a desvalorizar os filhos. Fornecer regras, valores, amor, respeito e compreensão não é o mesmo que determinar o que os filhos vão ser quando crescerem, muito menos impedi-los de se assumirem e aceitarem tal como são. Os pais também não devem viver a vida dos filhos, as suas escolhas, gostos e preferências como se de uma extensão de si mesmos se tratasse. Os filhos têm de ser livres para que possam desenvolver uma boa autoestima e autoconfiança. Por outro lado, os pais também precisam de ser adultos, de ter os seus gostos, opiniões e responsabilidades diferentes das dos mais novos, explicam os entendidos.
 
Importa ainda reter que, as famílias invalidantes rodeiam-se de ansiedade e culpa e acabam por projetar o mesmo nos filhos, não permitindo que eles desenvolvam as suas habilidades em liberdade.
 
Os filhos têm, tal como os demais seres humanos, de ter capacidade de pensar, maturidade para, aos poucos, resolverem os seus problemas e, se necessário, pedirem ajuda aos pais, pelo que, estes não podem fazer esse trabalho por eles.
 
O desenvolvimento pessoal implica que cada um pense por si mesmo, que saiba analisar aquilo que o rodeia e que desenvolva a sua opinião, que aceite ou rejeite, que goste ou não e que pense em nome próprio de modo a que possa defender-se, valorizar a vida na sua plenitude e sentir-se um ser individual com as suas qualidades positivas e negativas, com o direito ao erro, mas também à conquista, à aprendizagem e ao sucesso, mas “estes pais insistem na base de que os filhos não sabem fazer nada sem eles, que correm riscos, que nada conseguem fazer sem a ajuda dos adultos e que, inclusive, lhes queiram também controlar os pensamentos, as amizades, os namoros, a escolha profissional e daí por diante.
 
Tal rigor e autoritarismo é tóxico e patológico porque não permite que estes seres humanos se desenvolvam, descubram quem realmente são e quem desejam ser.
 
“Todos temos de correr riscos e esta superproteção dos pais não permite que os mais novos tenham essa margem de manobra e de liberdade para serem eles mesmos”, sublinham os especialistas nesta matéria.
 
Por fim, importa referir que, não é fácil para um jovem adulto sair do circuito de uma família invalidante porque não consegue admitir que tal modo de vida não é normal e que se está inserido num contexto familiar doentio.
 
Para estes jovens que sempre conheceram este modelo de vida, é “normal” que os anos passem e que permaneçam na casa dos pais, que dependam deles e que não precisem de esforçar-se muito, nem de pensar para que as situações se resolvam. Depois, a autoestima destas pessoas é tão baixa que se torna muito difícil sinalizar problemas e encontrar alternativas a esse padrão comportamental.
 
Em muitos casos, alguém que os alerte dessa dependência e modo de vida “estranho” ainda é mal interpretado e alvo de críticas. Depois, muitos desses adultos gostam dessa dependência porque nunca se sentiram livres para serem iguais a si mesmos e outros nem sabem quem são porque o seu desenvolvimento pessoal ficou comprometido logo na infância.
 
Também a culpa, a vergonha e a ansiedade limitam a ação, pois estas famílias manipulam muito bem os seus filhos a ponto de eles até temerem pensar mal dos seus ensinamentos e orientações, sem esquecer que se torna “muito confortável” depender dos pais para tudo e não precisar de preocupar-se com o que quer que seja.
 
Por norma, estes pais fazem muita chantagem seja com património, com palavras, afetos e comportamentos desajustados que conduzem à culpa em caso de um dos filhos ou todos desejarem seguir as suas vidas, sem esquecer o muito medo que estes filhos sentem por se sentirem sozinhos e a terem de ultrapassar os obstáculos e os desafios da vida quando estiveram sempre “protegidos” com as regras, os medos e a ansiedade, mas presos a um sistema.
 
Quando estes adultos pretendem escolher uma profissão, casar-se, comprar casa ou tomar outra decisão importante, podem confrontar-se com o impedimento dos pais e, é aí que, acabam por pedir ajuda especializada. Nestes casos, o psicólogo vai ajudá-los a encontrarem-se, a dar um sentido ás suas vidas e descobrirem o seu propósito e aquilo que realmente lhes faz sentido. É a partir daí que começa o processo de desenvolvimento pessoal que, efetivamente é difícil, mas que constitui a única forma de libertação dos padrões comportamentais herdados pela família originária.