Na sociedade atual tornou-se banal o valor do dinheiro e dos objetos. Desde pequenas, as crianças querem tudo como se fosse um direito adquirido à nascença e, muitos pais não sabem o que fazer.
É um facto que a sociedade mudou muito nas últimas décadas, mas há um denominador comum: o dinheiro não chega para comprar tudo o que os nossos filhos desejam, por isso, é preciso estabelecer limites e encontrar formas de lhes mostrar que, sem esforço, sem trabalho e sem moderação, nada se consegue.
Muitos pais dizem não entender a razão pela qual as crianças estão assim tão exigentes, pelo que temos de analisar o que se passa dentro e fora de casa para encontrar as explicações.
Na posição dos especialistas, as crianças “consomem” anúncios publicitários em todas as frentes, seja na TV, nos anúncios de jogos ou no exterior, o que as motiva para querer o que observam e que lhes é apresentado como fácil de adquirir.
Depois, sem que se apercebam, muitos pais, para compensarem a ausência das muitas horas em que estão a trabalhar, têm por hábito chegar a casa com um presente, por mais pequeno que seja e que, em muitos casos, é algo comestível (sobretudo doces, o que prejudica muito a saúde e confere a noção de recompensa aos mais novos) e que os leva a crescer com a ideia de que, sempre que esperam demasiado tempo pelos pais, quando conseguem estar sossegados e “bem comportados”, ganham algo em troca.
Este pequeno gesto é carregado de boas intenções e, na prática leva os mais novos a comportarem-se melhor, pois estão á espera do presente, mas também os educa para o consumo desenfreado e para a ideia de que, tudo o que fazem merece uma recompensa.
Para evitar esta situação, os pais devem conversar com os filhos, por muito pequenos que sejam, tentar fazer-se entender e mostrar que, estão a trabalhar para conseguirem sustentar a casa, pagar as despesas e fazer face à vida, pelo que, os filhos também devem fazer a sua parte: brincar no seu tempo livre, estudar, trabalhar nas suas tarefas e substituir os presentes por beijos e abraços quando chegam a casa, por momentos de convívio em família, ter tempo para ler uma história antes de dormir, brincar um pouco ou simplesmente estar em conjunto, pois esse é o melhor presente que os pais podem dar aos filhos.
Na mesma sequência, também muitos adultos alteraram o seu estilo de vida e andam sempre “atrás da última moda”, seja no vestuário, seja nas tecnologias, na mudança de carro e daí por diante.
Quando o dinheiro chega para tudo, o problema é menor, mas sabemos que, devido ao consumismo, muitas famílias estão endividadas até ao limite para conseguirem manter o seu “status” perante a sociedade e, naturalmente que as crianças imitam o comportamento dos pais e também querem tudo.
Um bom exemplo de poupança e de gestão dos recursos que temos ao nosso dispor é o tempo para explicar aos mais novos que não é possível adquirir tudo e ainda menos ao mesmo tempo, já que essas são as palavras-chave para que as crianças sejam menos exigentes e que aprendam a esperar e a esforçar-se para obter os objetos.
É ainda essencial que a família funcione como uma equipa em que todos poupam para conseguir comprar algo, em que todos se esforçam por um objetivo e que entendem as razões pelas quais se fazem umas opções em detrimento de outras. A criança compreende e colabora se souber o que se está a passar, explicam os entendidos.
É crucial estabelecer esta base familiar para que melhor se protejam as crianças dos “bombardeamentos” publicitários a que estão expostas diariamente, replicam.
Só para que se tenha uma noção do problema e da importância de fazer um bom trabalho em casa, deixamos-lhe estas curiosidades:
- Um terço das pessoas que acedem à internet em todo o mundo são crianças. (Fonte: Unicef)
- Em 95% dos vídeos no YouTube direcionados a crianças até aos 8 anos, há alguma forma de publicidade ou pelo menos dois anúncios que interrompem o conteúdo. (Fonte: Pesquisa do Common Sense Media em parceria com a Universidade de Michigan)
Por fim, nunca é demais reforçar que, para que estejam quietas e para que não incomodem os adultos, grande parte das crianças utiliza os écrans por longos períodos de tempo, o que lhes facilita o acesso aos anúncios e as torna mais vulneráveis ao desejo de consumo, seja de objetos, seja de alimentos altamente calóricos. Como alternativa, os pais devem apostar também em momentos de brincadeira fora desses mecanismos tecnológicos, já que só assim aumentam a convivência familiar e diminuem a exposição “às tentações” da publicidade.
Também faz sentido lembrar que, com tanta ligação à rede, a que se acrescenta a comparação dos objetos entre colegas na escola e com a noção de “descarte fácil” em que se vive, os mais novos estão a ser criados precisamente para um mundo sem regras, pois podem comer a qualquer hora e em qualquer lugar, podem ingerir alimentos pouco saudáveis porque estão a jogar ou a ver vídeos, podem comportar-se como quiserem, pois os pais também estão muito ocupados com os seus écrans e acreditam que eles estão a jogar e, logo, sossegados, pelo que muitas habilidades acabam por não ser desenvolvidas no tempo e na medida certa.
Há especialistas que resumem que, a vida dos mais novos está restrita ao smartphone, já que, é ele quem os educa, ocupa, dá afeto, inspira e dá sugestões para as refeições…
Eis alguns conselhos que podem ser úteis quando se trata de querer alterar o modo de pensar e o comportamento das crianças que querem tudo:
- Permitir a frustração das crianças, de modo a ajudá-las a aprender como lidar com as consequências de desejos não conquistados. Assim, ainda que contrariadas, serão capazes de prosseguir e encontrar novas soluções para os inevitáveis impasses que a vida traz e trará.
- Ensinar valores e auxiliar as crianças a descobrir o que lhes traz real e efetivo bem-estar; o que podem ter de produtos que são verdadeiras necessidades e o que ultrapassa a linha tênue entre o uso e o abuso do dinheiro e do consumo.
- Refletir sobre os produtos que os pais podem oferecer aos filhos, estimulando a atitude de celebração com o valor de cada conquista, e mostrando às crianças “que não há necessidade de termos tudo”.
- Fazer escolhas inteligentes acerca dos produtos que se adquirem e explicar os motivos e a preferência aos mais novos evidenciando a relação preço- qualidade e necessidade.
- Ensinar os filhos a valorizarem o que têm e a aceitarem o que não podem ter, já que assim serão muito mais capazes de cuidar dos seus objetos e de reduzirem os pedidos para terem mais.