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Como lidar com a competitividade das crianças

Como lidar com a competitividade das crianças
Como lidar com a competitividade das crianças  
Foto: Freepik
Numa sociedade acelerada e quase sem tempo para “ser” e para “estar”, a competitividade tem assumido grandes proporções em todas as idades e também nas crianças.

Desde o jardim de infância que os pais realçam o desempenho dos filhos, comparam notas entre colegas e decidem as amizades dos seus descendentes em função dessas conquistas.
 
Esta atitude não dá tempo para que a criança se conheça, para que descubra os outros e o mundo e para que construa o seu real valor.
 
Quando chega ao primeiro ciclo, a competição sobe de tom com a necessidade de “ser o melhor da turma” e, sem que muitas vezes se apercebam, os pais em vez de realçarem a nota que o filho alcançou, estão logo a questioná-lo acerca dos resultados dos demais. É fácil a criança chegar a casa e dizer: “tive um bom a português, mãe!” e obter como resposta: “e a Maria, quanto é que teve?”.
 
Esta atitude faz com que a criança fique com a sensação de que a sua nota só terá valor se for superior à da colega e que o seu “bom” é fraco e não merecedor de elogios…
 
Se pelo contrário, os pais conseguissem dizer-lhe: “Boa, trabalhaste e obtiveste um bom resultado. Parabéns!”, a criança teria muito mais motivação para num próximo momento de avaliação querer superar-se e até conquistar uma nota superior à dos colegas. Na posição dos especialistas na área do comportamento humano, o reforço positivo dos pais funciona como um fator de motivação para que a criança trabalhe mais e com mais vontade, mas aquilo a que mais assistimos é a uma grande falta de sensibilidade parental que acaba por reprimir as crianças e fazê-las sofrer, muitas vezes, em silêncio, alertam os entendidos.
 
Muitas crianças têm semanas tão ou mais preenchidas que as dos pais, com horários enormes e um grande nível de exigência, passam muito tempo com os colegas e, naturalmente desenvolvem a competitividade que, na maioria das vezes, parte de casa, noutras é alimentada pelos pais com a tal comparação. Se os pais não dão um reforço, se não oferecem amor, compreensão, interesse pelas atividades dos mais novos, se não são solidários com um resultado menos feliz, se não lhes dão tempo de qualidade onde todos possam conversar, jogar e brincar, as crianças acabam por mergulhar numa profunda tristeza e, aí é que os resultados escolares pioram, explicam os especialistas.
 
Segundo a psicóloga Joana Correia, a competitividade interfere negativamente no desenvolvimento dos mais novos e num crescimento saudável, na medida em que, ao se focarem excessivamente nas notas dos outros meninos e meninas da turma, acabam por desvalorizar as conquistas dos próprios filhos que, também se esforçaram, que também deram o seu melhor, mas que não conseguiram obter o mesmo resultado.
 
Em muitos casos, os filhos alcançam a mesma nota, mas mesmo assim, os pais não conseguem mostrar-lhes a satisfação e o orgulho nesse feito porque já banalizaram o valor dos mais novos, porque estão demasiado centrados na excelência e no “muito bom”, mas essa atitude só dá lugar a uma frustração cada vez maior.
 
Depois, também acontece com muita frequência que os pais se concentrem tanto no “muito bom” porque não conseguiram alcançar esse feito quando tinham a mesma idade e querem à força que os filhos sejam geniais para mostrarem à sociedade que são inteligentes e bons educadores.
 
Em vez de incentivarem os filhos a melhorarem o seu desempenho e a continuarem a ser “bons”, muitos pais arrasam com a autoestima dos filhos com a comparação para com os demais. Segundo Joana Correia, não há nada que mais faça sofrer uma criança do que ter de andar atrás dos resultados dos colegas em vez de se sentir valorizada pelos seus progenitores.
 
É muito importante para a criança sentir que os pais sentem orgulho nela, que a amam, que a respeitam, que compreendem um resultado menos bom e que estão prontos para a ajudar a inverter essa situação, sublinha.
 
Com esta atitude, ao longo de 12 anos de escolaridade obrigatória, mais 5 opcionais, em constantes momentos de avaliação, o resultado acaba por ser uma baixa auto- estima, baixa auto- confiança, o pensamento de …”não sou suficientemente bom/boa para nada”…., …”os outros são sempre melhores do que eu!”… Este resultado vai ser o espelho de um adulto inseguro e muitas vezes competitivo em doses pouco saudáveis, realça a mesma psicóloga.
 
«Observo na minha prática clínica que as crianças sofrem pela pressão da competitividade, pela voz “oculta” de terem que ser os melhores, pela “culpa” que sentem por perceberem que os pais querem ainda mais delas, pelo turbilhão de sentimentos e emoções que para elas é tão difícil de gerir. Tudo isto dá origem a angústias, invejas, tristeza originando assim problemas na socialização infantil e de aprendizagem», explica a mesma especialista.
 
Joana Correia alerta: «Por detrás das dificuldades de aprendizagem, estão problemas emocionais, como angustias, bullying, problemas familiares e desmotivação para estudar, e, aqui sim, é muito importante haver intervenção e fazer um despiste  correto para evitar que crianças com problemas emocionais fiquem rotuladas indevidamente».
 
Para aprendermos é importante estarmos felizes, motivados, ter o reforço positivo dos pais e  dos professores.  Saberem e sentirem que um mau resultado não é sinónimo de que não são capazes, …”porque motivo, têm e devem de ser sempre os melhores?”…
 
Quando uma criança sente por parte dos pais, a confiança, o reforço, segurança e como ingrediente principal o AMOR INCONDICIONAL, está pronta para todos os desafios, porque assim, temos crianças felizes, alegres, sem pressões, completamente certas de que o amor dos pais e admiração não é determinado por uma classificação escolar, reforça a mesma psicóloga num apontamento na Clínica da Mente.
 
É normal que os pais façam e desejem os melhores planos para os filhos, mas é muito importante que tenham a capacidade de os conduzir para os sonhos dos filhos e não como grande parte das vezes para os sonhos que os pais não realizaram, completa.
 
A semana de uma criança muitas  vezes é pior que a vida de adulto cheio de trabalho, passam horas na escola e quando saem da escola tem uma atividade por dia onde muito antes  de se divertirem está implícito mais uma vez o “aprender”, o  “ser bom”,  e eu pergunto, onde está o mais importante de tudo na infância, o Brincar?, questiona Joana Correia no mesmo apontamento.
 
Na infância é fundamental brincar, este é o maior estímulo das competências humanas, é aqui que se aprendem habilidades fundamentais para o futuro.
As crianças ao brincar num jardim, aprendem a negociar, interagir, ter empatia, ouvir o outro, fazer-se ouvir, a medir perigos, resolver problemas, desenvolver coragem, criatividade, imaginação…tudo isto são ingredientes fundamentais para a vida adulta.
 
É bom e importante uma criança errar, é bom e importante cair, sujar-se na lama, fazer cabanas e piqueniques, brincar ao faz de conta, sonharem e assim treinarem as competências fundamentais para um dia serem boas pessoas, bons profissionais e mais importante que tudo serem felizes!
 
Eu acredito que crianças felizes e amadas serão adultos extraordinários!, conclui Joa na Correia.