Dizem os inquéritos que, cerca de 80% das pessoas já foi traída direta ou indiretamente, seja porque não apoiou o parceiro num momento difícil, porque não compreendeu os sinais de desgaste de uma relação, porque andava muito ocupada e distante da relação, porque um amigo ou amiga ganhou mais importância na sua vida e daí por diante. Quer isto dizer que, «a infidelidade não acontece só aos outros e aprofundar o conhecimento sobre o assunto ajuda-nos a prevenir o que não queremos».
Nunca é demais lembrar que, cada vez existem mais formas de traição, mais acessíveis, mais estimulantes e ninguém pode dizer que não passará por uma situação dessas num qualquer momento de vida, no entanto, é sempre possível fazer algo diariamente em prol da pessoa que amamos e da relação que se quer estável, feliz e duradoura. Nesse sentido, é importante reter, desde logo, que a principal causa da traição é o desgaste e, ao mesmo tempo, a procura de uma nova aventura mais estimulante e gratificante.
Segundo a psicóloga Cláudia Morais, o problema da traição passa pela dificuldade que um dos parceiros tem em admitir que estava cansado da rotina conjugal, da falta de entusiasmo para estarem conjunto, mas sem saber a razão de tal desinteresse, sem conseguir entender o que mudou, apercebendo-se somente que uma terceira pessoa o/a faz renascer e recuperar aquilo que precisava, mas que não se dava conta anteriormente dessa carência.
De acordo com a mesma especialista, «há muitas pessoas que são apanhadas desprevenidas pela intensidade destes sentimentos e que se sentem genuinamente culpadas por não saberem como geri-los».
Aquilo que a relação extraconjugal traz é quase sempre o mesmo - e tem pouco a ver com o sexo: a pessoa sente-se vista (como há muito tempo não sentia), sente-se importante, sente-se valorizada, sente-se desejada, sente-se especial. E muitas vezes nem é preciso que haja qualquer contacto físico para que a relação oficial seja posta em causa. Porque o entusiasmo que a pessoa sente só a propósito do beijo que deseja trocar com alguém, fá-la sentir-se viva e questionar tudo.
Daí que cada um de nós tenha mesmo de refletir sobre o investimento que estamos (ou não) a fazer nas nossas relações. Estaremos a levar para casa, no final do dia, o entusiasmo, a alegria, a paciência ou até o glamour que levamos para o trabalho? Estaremos a dar o nosso melhor, a prestar genuína atenção ao que o outro diz e a fazer o que estiver ao nosso alcance para que se sinta reconhecido, valorizado, desejado?, questiona Cláudia Morais no sítio: A psicóloga.
É tão fácil relaxar e dar a relação como garantida! A verdade é que quando saímos de casa de manhã fazemo-lo quase sempre empenhados em sermos profissionais de excelência, atentos às necessidades e às exigências dos chefes ou dos clientes. Arranjamo-nos e queremos manter uma imagem cuidada aos olhos daqueles com quem trabalhamos. No regresso a casa estamos cansados e, para quem tem filhos, começa aí o segundo turno. Há banhos e jantares para dar e é uma sorte se conseguirmos manter os olhos abertos para ler ou assistir a qualquer coisa na televisão. A relação conjugal pode facilmente passar para segundo plano, ao contrário do que acontecia nos primeiros tempos, explica deixando algumas dicas pertinentes:
Valorizar as conversas de final de dia.
Até pode não haver tempo para parar e conversar calmamente enroscados no sofá – especialmente se houver banhos e jantares para dar às crianças –mas é fundamental que nos lembremos de que todos os dias há acontecimentos que mexem connosco e que gostamos (precisamos) de partilhar. Escutar com genuína atenção, colocar perguntas que demonstrem genuíno interesse e ir acompanhando as situações que mexem com a pessoa de quem gostamos é meio caminho para que ela sinta que é importante para nós. Há muitas pessoas que me pedem ajuda em terapia e que me dizem “Eu sentia-me invisível”, lamenta Cláudia Morais no mesmo apontamento.
Valorizar os sonhos da pessoa que está ao nosso lado.
Se há algo que nos faz sentir vivos são os nossos sonhos. Sonhar é grátis e, quando projetamos aquilo que desejamos fazer, sentimo-nos mais vivos do que nunca. No meio de todas as rotinas e compromissos nem sempre é fácil lembrarmo-nos de prestar atenção ao que o outro diz, sobretudo se estiver a falar de assuntos que não nos digam nada ou que se refiram a objetivos difíceis de alcançar. Achamos muitas vezes que estamos a prestar atenção na medida certa, que estamos “lá” para a outra pessoa, mas isso nem sempre é verdade. Conhece a lista de coisas que o seu companheiro gostaria de fazer ao longo da vida? Sabe quais são os objetivos que ele/a gostaria de pôr em prática ao longo do próximo ano?
Valorizar os gestos de afeto e o sexo.
Quantos casais conhece e com quem convive que mal se tocam? Os gestos de afeto são a linguagem do amor, são a forma mais clara de dizer “Gosto de ti”. Quando mostramos aquilo que sentimos através do toque, investindo nos beijos e nas carícias, a pessoa que está ao nosso lado sente-se desejada, sente-se especial. Pelo contrário, se ele/a estiver sistematicamente a sentir-se rejeitado(a) ou ignorado(a), mesmo que haja relações sexuais todas as semanas, o mais provável é que a relação esfrie.
Falar sobre aquilo de que cada um gosta, sobre o que cada um espera desta área da vida a dois e sobre o que pode apimentar uma relação de longa duração é continuar a prestar muita atenção ao que nos pode fazer sentir vivos, evidencia a psicóloga.
Valorizar a individualidade.
Como é que se pode desejar aquilo que já se tem? Como é que se pode sentir a sede de conquistar a pessoa que está sempre “ali”? Se não houver mistério, é mais fácil que se perca o entusiasmo, ainda que haja uma ligação profundamente segura. Cada pessoa pode investir noutras relações de amizade, pode passar tempo sem o companheiro, pode ter interesses diferentes dos dele(a). De uma maneira geral, essa distância é enriquecedora, sobretudo, na medida em que fomente a admiração mútua e a sensação de que nada está garantido.
Manter uma relação que nos faça sentir vivos é extraordinariamente desafiante. Requer uma comunicação aberta, que nos revelemos exatamente como somos e, ao mesmo tempo, que deixemos alguma parte para a imaginação. Envolve rotinas que nos façam sentir suficientemente seguros e novidades que façam valer a pena correr alguns riscos. Implica que haja um projeto a dois verdadeiramente sólido, um rumo, mas também a abertura para refazer planos e sonhos mais do que uma vez na vida, recomenda Cláudia Morais.