É cada vez mais recorrente que os especialistas na área da saúde mental destaquem a dieta como um requisito essencial na prevenção e no tratamento de transtornos de humor.
Segundo artigos de especialidade, somos o resultado de uma combinação complexa de fatores que vão desde os nossos hábitos de vida até à predisposição genética e experiências que, no seu todo, interferem no nosso bem-estar e saúde mental.
Assim, os cientistas afirmam que, a relação entre a alimentação e a saúde mental é uma variável -entre muitas outras - para compreender o bem-estar, não sendo por acaso que, são cada vez mais os clínicos que fornecem orientações sobre hábitos alimentares quando tratam pacientes com transtorno de humor, comprovando-se que a ingestão alimentar e o humor apresentam uma relação significativa como se pode observar:
1. A produção de neurotransmissores
Os nutrientes essenciais que obtemos dos alimentos, como aminoácidos, vitaminas e minerais, são cruciais para a síntese dos nossos neurotransmissores no cérebro. Um nível mais baixo de serotonina e dopamina medeiam, por exemplo, um humor com sintomas depressivos.
Explica a revista Molecules que, o nível dos nossos neuroquímicos é afetado por hábitos alimentares e regimes nutricionais. É por isso decisivo manter sempre uma alimentação saudável, variada e completa.
2. O consumo excessivo de açúcar
A maneira como a dieta influencia a saúde mental também tem a ver com o açúcar. Sabemos que o consumo justo e adequado desse tipo de adoçante não é perigoso, ao contrário do seu abuso. Tanto é assim que a ingestão de alimentos doces, bebidas e açúcares adicionados está relacionada ao desenvolvimento de transtornos depressivos, assegura um artigo da Scientific Reports.
Uma boa parte da população recorre ao açúcar pela sensação gratificante que proporciona por um breve momento. Os doces industrializados, por exemplo, fornecem uma agradável descarga de endorfina, mas longe de saciar a fome, aumentam essa sensação e alteram o humor.
3. Inflamação e alimentos não saudáveis
Aquilo que comemos pode aumentar o risco de depressão e de ansiedade.
Um dos fatores envolvidos nessa variável está nos processos inflamatórios causados por determinados produtos. De acordo com os resultados de trabalhos de investigação divulgados no Journal of Health, Population and Nutrition foi possível constatar que existem alimentos com potencial inflamatório capazes de induzir sintomas depressivos ou ansiosos nos seres humanos.
Em geral, dietas ricas em gorduras saturadas, assim como os clássicos produtos processados, são as que promovem esses ciclos não saudáveis.
O consumo excessivo e persistente de produtos industrializados ou ricos em gorduras saturadas pode afetar-nos o humor, levando a que nos sintamos irritados, apáticos, tristes, menos motivados e com pouca energia, realça a mesma publicação.
4. A microbiota intestinal e o nosso “segundo cérebro”
É inegável a relação estreita e decisiva entre o nosso cérebro e intestino sendo que, este último constitui “a sede” polivalente onde são sintetizados neurotransmissores como a serotonina, a dopamina e até o ácido gama-aminobutírico ou GABA. Quando ocorre um desiquilíbrio interno, o nosso humor é afetado.
Um artigo da Clinics and Practice, destaca a importância dos probióticos como auxiliares na prevenção da depressão e da ansiedade.
A capacidade de restaurar e cuidar da microbiota intestinal desses produtos é tão significativa que não devemos negligenciá-la. Uma dieta rica em kefir, iogurte natural ou soja fermentada é benéfica, evidencia a mesma publicação.
5. A alimentação e os problemas de saúde mental
Nem sempre a comida é entendida como um recurso poderoso para manter-nos saudáveis, optando por uma dieta rica, variada e equilibrada. São muitas as pessoas que usam e abusam dos alimentos como forma de colmatar a ansiedade, medos, tristezas, autocobranças e a solidão. Depois, quando tomam consciência de que ingeriram alimentos nocivos e em excesso, , alguns pessoas optam por adotar comportamentos pouco saudáveis como (vómitos, laxantes ou diuréticos).
A psicóloga clínica Juliet Rosewall, autora do livro: Heal Your Relationship with Food (2021), especialista em transtornos alimentares (TCA), diz que, por trás desse tipo de comportamento extremo, às vezes escondem-se problemas emocionais que levam, pouco a pouco, a quadros como anorexia, bulimia, compulsão alimentar, entre outros.
6. Atenção às deficiências nutricionais
Os mecanismos pelos quais a alimentação influencia a saúde mental também estão relacionados à carência de nutrientes. É possível que uma alimentação inadequada ou mesmo restritiva nos faça sofrer de um déficit de elementos essenciais para o nosso cérebro.
Por exemplo, a revista Nutrients revela um estudo sobre o papel do magnésio em certas patologias psiquiátricas. Tanto que os sintomas depressivos podem melhorar, até certo ponto, se o consumo desse mineral for aumentado. Mas existem outros elementos que não podemos negligenciar e cujas deficiências podem afetar-nos o bem-estar que são:
Zinco.
Cálcio.
Ferro.
Vitamina D.
Ácidos gordos ómega-3.
Vitaminas do complexo B.
A manutenção de uma alimentação saudável constitui um pilar decisivo para melhorar a nossa saúde mental. Se a combinarmos com outras estratégias psicológicas, teremos mais fatores de proteção capazes de mediar o nosso bem-estar, alertam os especialistas.
Manter e promover uma boa saúde mental depende de múltiplos fatores, alguns dos quais nem sempre estão sob o nosso controle como: predisposições genéticas, adversidades ou vivência em determinados contextos sociais.
No que se refere à alimentação, podemos ter em conta a importância de incluir:
Alimentos integrais.
Probióticos: kefir, iogurtes, soja fermentada.
Antioxidantes: limão, laranja, frutos vermelhos.
Magnésio: amêndoas, espinafre, banana, castanha de caju.
Vitamina D: ovos, leite e sol com proteção.
Produtos ricos em vitaminas B: vegetais de folhas verdes, lentilhas.
O nutricionista é o especialista que melhor o pode encaminhar no desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis, tal como um psicólogo pode ajudá-lo a garantir uma melhor saúde mental. Em casos mais graves, não hesite em consultar um psiquiatra, recomendam os mesmos entendidos.