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Como alimentar uma relação após o primeiro encontro

Como alimentar uma relação após o primeiro encontro
Como alimentar uma relação após o primeiro encontro  
Foto - Freepik
Dizem os terapeutas de casal que, a química é essencial para aproximar duas pessoas, mas «não chega».

A química funciona como um conjunto de emoções, conteúdo cognitivo e neurológico que nos proporciona uma agradável sensação de bem-estar e uma necessidade de voltar a estar com uma determinada pessoa, seja para desenvolver uma relação de amor ou de amizade, no entanto, é fácil que esse prazer se desfaça quando não é alimentado.
 
Os especialistas nesta área defendem que, efetivamente a química existe, que libertamos um conjunto de sensações positivas na presença de uma pessoa que acabamos de conhecer e que podemos acreditar que estamos na presença da “nossa alma gémea”, contudo, é preciso aprofundar a convivência, o contacto presencial e dar-nos oportunidade de libertar quem realmente somos, ao mesmo tempo em que permitimos que o outro também o faça. É a partir daí que se pode falar numa relação ou não.
 
Acontece com alguma frequência que, após alguns encontros, percebamos que, afinal aquela pessoa não se encaixa assim tão bem connosco apesar de termos “borbulhado” no primeiro encontro ou que até se consiga construir algo mais profundo em conjunto. Tudo depende da forma como damos sentido a essa química inicial e se as duas partes estão em sintonia.
 
É igualmente importante evidenciar que, nem sempre o nosso sentimento é recíproco e que, em muitos casos, somos nós a vivenciar a ilusão com base nessa química, o que nos leva a ter de admitir que, só sabemos o que o outro está a sentir quando o ouvimos e sentimos.
 
De acordo com os especialistas, as novas formas de aproximação das pessoas online, têm dado lugar a muitas desilusões precisamente porque à distância, tudo parece perfeito e maravilhoso, “mas quando estamos na presença do outro, não encontramos aquela magia que parecia tão evidente no contacto digital”.
 
Nesse sentido, torna-se relevante reconhecer que, para manter a química e dar lugar a um sentimento mais profundo, é essencial que tenhamos em mente que essa emoção inicial não é tudo e que precisamos de conversar, de vivenciar experiências com a outra pessoa, de ouvi-la, de senti-la, de observá-la em vários contextos e de nos colocarmos também à prova noutros cenários.
 
Pode acontecer que vivamos conflitos, mas também que os saibamos ultrapassar, tal como podem surgir deceções que não permitem a continuidade da convivência ou, pelo contrário, podemos dar lugar a momentos inesquecíveis que se querem repetir.
 
Quem quer construir uma relação duradoura tem de se dar a conhecer, enquanto que aceita e respeita o que o outro é e tem para lhe dar, tem de facilitar o diálogo sincero e permitir-se ser vulnerável e sem medo de se assumir como ser humano, como ser único e especial, o que acontece cada vez menos num tempo em que todos se querem mostrar perfeitos, acelerar a relação e dizer que têm alguém, sublinham os terapeutas de casal.
 
“Nas relações não existe um tempo devido para fazer isto ou aquilo, liberta-se o sentimento mútuo e viaja-se ao sabor das emoções e dos desafios diários que nos são propostos e, é preciso aceitar que é mesmo assim”, explicam.
  
Foi em 2022 que alguns trabalhos de investigação publicados na revista Perspectives on Psychological Science forneceram bases mais sólidas para a compreensão do tecido que compõe a química interpessoal. Esses apontamentos científicos permitiram concluir que:
 
-A química interpessoal é vivenciada como a soma de muitas sensações. É o que se vê, o que se faz e o que se sente. É uma combinação subtil, mas intensa, onde o emocional e o comportamental tornam-se gratificantes e representativos.
 
- Existe uma predisposição genuína para conhecer aspetos profundos do outro.
 
- Os interesses convergem, assim como os valores e as perspetivas vitais.
 
-Quem compõe a relação vivencia esse vínculo como algo “muito especial”.
 
- Os momentos de conexão devem acumular-se para que a química dure, numa experiência que requer coordenação entre objetivos, esforços e apoio mútuo.
 
- A química interpessoal é construída não apenas com conversas. Há uma sincronia nos olhares, o que implica o contacto presencial sistemático.
 
- Um relacionamento on-line, no qual as pessoas ainda não se viram, não projeta uma conexão verdadeira.
 
- A confiança é a perceção que aparece primeiro nesse tipo de relacionamento. Quase imediatamente, a pessoa acredita que não será traída e que o outro está disponível para si, mas tal implica uma convivência regular, disponibilidade e interesse mútuo para que a química seja autêntica e duradoura.
 
Trabalhos como os realizados na Universidade da Califórnia destacam que, pelo menos na química da amizade, os fatores de personalidade são importantes. Os indivíduos mais abertos, percetivos e de temperamento agradável são os que mais experimentam essa sensação.
A química autêntica requer abertura por parte dos seus membros e vários momentos partilhados, enfatizam as mesmas publicações.
 
Segundo os trabalhos publicados, muitas relações não se prolongam no tempo porque os parceiros acreditam nestes mitos:
  
1. A química entre duas pessoas é imediata
Segundo a ciência, a química nem sempre é um preditor imediato de um relacionamento de sonho.
 
Apesar de sentirmos uma afinidade com alguém, é importante que demos tempo para conhecer melhor o outro e para mostrarmos também quem somos para que possamos continuar a magia do primeiro encontro ou assumir que não conseguimos ou temos interesse nisso.
A maturidade, as experiências e os desafios também influenciam na construção desses vínculos socioafetivos para os melhorar ou afastar.
  
2. As primeiras impressões nunca falham
Ao acreditarmos que estamos certos e que, as primeiras impressões nunca falham, podemos estar a construir uma ilusão, por isso, devemos ter menos pressa, tirar menos conclusões precipitadas e deixar-nos levar ao sabor dessa magia e bem-estar que pode ou não concretizar-se. Sabendo disso, sofremos sempre menos porque nos é fácil aceitar “que não deu ou que vamos ver no que vai dar no tempo”.
 
3. A química interpessoal acontece muito raramente
A química não é mágica ou uma experiência mística única. Somos seres sociais interligados e, por isso, esse tipo de relacionamento ocorre com frequência. Da mesma forma, as personalidades com maior abertura social e emocional vão experimentá-la em maior grau, pelo que, não temos de “agarrar aquela pessoa como sendo a nossa tábua de salvação ou a única no planeta capaz de nos fazer felizes”.
 
4. A conexão e a afinidade com alguém é constante
Uma qualquer relação de amor ou amizade não é uma jornada de harmonia e perfeição absoluta. Ter química com alguém não significa que nunca haverá desentendimentos ou diferenças. Além disso, se há algo repetitivo no mundo das relações humanas, são os conflitos, pelo que, o segredo é saber como lidar com essas situações.
 
Também é importante reter que, a química interpessoal é subjetiva e nem todos a vivenciam da mesma maneira.
 
5. A química começa com a atração física e sexual.
Segundo os cientistas, este é o maior mito que gira em torno da química.
 
A amizade também se constrói a partir de algoritmos psicobiológicos em que a confiança, a correspondência e a conjunção de gostos e valores constroem uma boa química interpessoal. Assim, pode afirmar-se que, a química é um conjunto de sensações que não se prendem com a atração física ou sexual, mas que as pode incluir.
 
6. A química é recíproca
Este é mais um mito que afeta muito o desenvolvimento de uma relação. Especialmente os namorados virtuais acreditam que o outro está a corresponder ao que sentem, mas em muitos casos, isso não corresponde à verdade e, após desligarem os aplicativos, cada elemento faz a sua leitura e segue um caminho diferente. Mesmo depois de um encontro presencial, nem sempre as emoções são correspondidas, o que pode determinar o fim do contacto.
 
7. A química consegue prolongar uma relação no tempo
Segundo os cientistas, este é mais um mito. Perante os problemas do dia a dia, se não houver uma construção do amor, da relação com diálogo aberto, compromisso, disponibilidade, entrega, respeito e interesse mútuo, a relação não sobrevive.
  
Para finalizar, é importante realçar que, a química enche-nos de magia, de sonhos, de esperança e é muito agradável, mas temos de manter os “pés na terra” e admitir que precisamos de muito mais do que isso para mantermos uma relação interessante, capaz de resistir às adversidades e à rotina, por isso, mostre-se disponível para o outro, enfrente a realidade, procurem soluções em conjunto e tornem o vosso quotidiano recheado de vivências e experiências, já que as agradáveis vão suportar sempre as mais negativas e dar-vos união, força e criatividade, concluem os mesmos entendidos.