Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), entre 10% e 20% dos adolescentes têm problemas de saúde mental, mas são diagnosticados e tratados erroneamente.
De acordo com os cientistas, a adolescência «é crucial para o desenvolvimento de bons hábitos, valores e habilidades socioemocionais (empatia, inteligência emocional) que garantem o bem-estar nas próximas etapas de vida».
Por isso, é fundamental conhecer os sinais de transtornos mentais para identificar sintomas e aliviar o sofrimento dos mais jovens com recurso ao tratamento mais adequado, alertam.
A adolescência é uma fase em que se vive uma explosão de emoções, pensamentos, ideias e experiências que impactam a autoimagem e a autoconfiança, sendo normal que os jovens se sintam confusos com tantas alterações. Nesse sentido, é imperioso que os pais estejam atentos e que tentem entender o que se passa e apoiar antes que o problema se transforme em ansiedade, aconselham os especialistas.
Durante a puberdade, os jovens passam por uma série de alterações físicas emocionais e psicológicas que, apesar de serem empolgantes, podem dar lugar a problemas mentais quando não são devidamente interpretadas e ajustadas. A procura da identidade, os primeiros namoricos, a influência das amizades, as primeiras conquistas e o aumento de responsabilidades permeiam a mente dos adolescentes podendo levar a um aumento nos níveis de ansiedade que, não sendo devidamente acolhidos, podem conduzir a ações pouco adequadas e a consequências menos positivas.
Assim, é fundamental que o jovem compreenda o que se está a passar consigo, que fale abertamente dos seus problemas, medos e dúvidas e que, aos poucos, vá dando um novo sentido ao seu “eu” para que possa desenvolver-se de forma sadia e equilibrada, sendo que, desta correta interpretação, vão surgir comportamentos adequados, consciência dos seus atos e atitudes responsáveis, sem permitir que a ansiedade lhe oriente as atuações, explicam os psicólogos.
Após as primeiras grandes manifestações e alterações físicas, os jovens também têm de confrontar-se com a incógnita face ao futuro profissional o que, em muitos casos, dá lugar a um aumento da ansiedade.
O facto de os jovens possuírem menos experiência de vida e, consequentemente, menos recursos para conseguirem lidar com tantas novidades, torna-os amis expostos á depressão e à ansiedade do que os adultos.
As principais dificuldades que os pais sentem nesta fase de vida é que, os filhos colocam em causa as regras, questionam a autoridade parental, querem ter a sua autonomia, mas nem sempre a conseguem desenvolver pela falta de experiência, pensam que sabem mais do que o que realmente conhecem, podem ocorrer manifestações de rebeldia e decisões tomadas por impulso.
A ansiedade na adolescência apresenta sintomas semelhantes à ansiedade na vida adulta. No entanto, os adolescentes tendem a lidar com eles de maneiras distintas devido ao baixo alcance emocional, o que os leva a acreditar que se trata de um traço de personalidade.
Saber o que é a ansiedade e como geri-la ajuda a que o adolescente a saiba identificar e a pedir ajuda, por isso, é importante registar:
•Preocupação excessiva, especialmente com coisas pequenas;
•Fadiga e sonolência diurna;
•Dificuldades em dormir;
•Dores musculares inexplicáveis;
•Perda de apetite ou apetite excessivo, causando considerável perda ou aumento de peso;
•Falta de ar;
•Apreensão constante com o futuro;
•Dificuldades em socializar;
•Autoestima baixa;
•Roer as unhas ou arrancar cabelo;
•Desatenção e perda de memória;
•Tristeza;
•Perda de interesse em atividades e hobbies que antes gostava.
Também é recorrente o isolamento seja dos pais, seja dos amigos, o que faz aumentar o estado de tristeza e dificulta a procura de um tratamento, alertam os psicólogos, sublinhando a relevância de os pais estarem atentos para que possam ajudá-los.
As principais causas de ansiedade são desde logo, o ambiente familiar stressante, pais ansiosos, mudanças na vida dos adolescentes como turma, escola, colegas, amigos, modalidade desportiva, sofrer de bullying, excesso de preocupação com o futuro, seja ele académico ou profissional, pais controladores, não ter em quem confiar, desilusão amorosa, perda de um ente querido, a aceitação por parte dos pares, cuidados com a imagem, medo da rejeição, popularidade, entre outras.
Segundo o OPAS, a negligência face aos sintomas pode agravar o estado psicológico do adolescente e causar outras condições, como fobias e transtorno do pânico, bem como estimular pensamentos suicidas. O suicídio é a terceira principal causa da morte entre adolescentes mais velhos (15 a 19 anos),.
É importante realçar que, «os pais não devem sentir-se culpados pelo estado ansioso do filho, na medida em que esse sentimento apenas agrava a situação e, em nada ajuda a resolvê-la. Devem sim, canalizar esforços para apoiar o jovem e solicitar o apoio mais adequado», recomendam os psicólogos.
Os pais devem saber que, os adolescentes ansiosos tendem a não querer frequentar determinados lugares ou participar em certas atividades sociais, pois sabem que vão ficar tensos. Os adultos também não devem mostrar o seu desânimo perante o estado do filho, uma vez que isso só vai agravar a situação. Pelo contrário, devem mobilizar-se para obterem mais paciência e perseverança, já que são importantes aliadas no que diz respeito à ansiedade e à depressão.
Torna-se então essencial que os pais, aos poucos, vão conversando com o filho, que tentem motivá-lo para pequenas atividades do dia a dia, que não criem expectativas muito elevadas, pois o jovem vai declinar convites e, acima de tudo, que não desistam.
Segundo os psicólogos, pode começar por aqui:
1. Incentivar a prática de exercícios físicos que são ótimos para controlar a ansiedade, reduzir o stress oriundo das constantes preocupações e promover a diversão individual ou em grupo. Se o adolescente não quiser participar numa modalidade, façam uma caminhada diária e pratiquem exercício em casa. Não precisam de muito espaço, basta uma pequena divisão onde se afastam os móveis. É importante que façam em conjunto esta atividade.
2. Ajude-o a superar um medo
Por norma, os medos das pessoas ansiosas relacionam-se com situações corriqueiras, pelo que deve ir com ele ao local e mostrar-lhe que é normal, mas que não existe nada de assustador naquele lugar.
3. Conversar sobre sentimentos
Mostre-se disponível para ouvi-lo, sem criticar ou julgar. Na maior parte das vezes, os jovens só precisam que alguém os ouça e de falarem livremente sobre o que os inquieta. Não desvalorize o que está a sentir e permita que fale de emoções.
Caso os pais não consigam ajudar o jovem sozinhos, devem recorrer ao apoio psicológico e, em situações mais graves, a um psiquiatra, mas devem oferecer a sua disponibilidade, apoio, carinho e compreensão em ambas as situações, concluem os especialistas nesta matéria.