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Como a raiva nos domina e como podemos controlá-la?

Como a raiva nos domina e como podemos controlá-la?
Como a raiva nos domina e como podemos controlá-la?  
Foto - nensuria / Freepik
Segundo a psicologia, a raiva mascara algo que precisa de ser descoberto e surge nos momentos mais inoportunos.

Veluma Marzola, psicóloga, afirma que, por trás da raiva podem esconder-se inúmeros aspetos, sendo de destacar estes pontos:
 
- insegurança;
 
- traumas do passado e dores intensas;
 
- medo da perda e da rejeição;
 
- necessidade de controlo sobre os outros/poder.
 
É comum que, uma pessoa que se sente insegura, com muitos medos ou instável, exploda com muita facilidade porque quer proteger-se de eventuais perigos, na sua maioria imaginários.
 
Existe uma tendência para que estas pessoas se tornem cada vez mais agressivas, sobretudo porque sentem que, ao aumentar a intensidade dessa raiva, acabam por conseguir o que pretendem. Contudo, isso só acontece se aqueles com quem convivem mostrarem medo, pois caso contrário, essa irritabilidade não surte qualquer efeito.
 
De acordo com os especialistas na área da psicologia, as pessoas agressivas atacam para defender-se e, na maior parte das situações, não se apercebem do que se esconde atrás dos seus comportamentos violentos e de uma enorme necessidade de se afirmarem perante os outros.
 
Uma pessoa que tenha passado por situações dolorosas na infância e que não lhes tenha atribuído um significado, pode tornar-se agressiva, facilmente irritável e de trato difícil. Guarda uma dor imensa e acaba por escondê-la através das explosões de raiva nas mais variadas situações.
 
Também ocorre com alguma frequência que, esses ataques de raiva tenham sido utilizados para chamar a atenção de pais violentos e que se tenham tornado num recurso para sobreviver em ambientes diversos na idade adulta. A criança sabia que, ao explodir, acabava por obter o que pretendia e habituou-se a usar essa habilidade ao longo do seu percurso, mas acaba por sentir muita rejeição social e uma dor ainda maior do que se assumisse o que esconde, alertam os psicólogos.
 
A raiva também constitui uma máscara da dor, na medida em que, ao mostrar-se forte, a pessoa foge daquilo que a magoa e luta por aquilo que pretende, contudo, na maior parte dos casos, isso não surte o impacto pretendido porque os outros acabam por afastar-se devido ao mal estar que essa conduta envolve e que contamina ambientes sociais.
 
Acontece com muita frequência que, devido ao seu percurso e forma de pensar que a pessoa associe tudo o que lhe ocorre aos outros em seu redor. Tivemos um acidente porque alguém nos bateu, porque é distraído, porque não está bem. Não progredimos na carreira porque há um colega que “nos passou à frente” e daí por diante. Ao analisar a vida nesta perspetiva, acabamos por reunir muita negatividade, revolta e raiva.
 
É evidente que a raiva é uma emoção humana tão natural como a tristeza, a alegria, o nojo, a vergonha ou outra, “mas é preciso saber geri-la e, para isso, temos de entender as razões que nos levam a pensar assim e não de outra forma mais alargada”, realçam os psicólogos.
 
“É mais fácil sentir raiva do que dor e aí é que está o segredo. Quando assumimos o que estamos a sentir, mais facilmente evitamos os ataques de raiva porque entendemos melhor as situações e as pessoas em nosso redor. Também é fundamental admitir que a vida tem muitos obstáculos e que temos de aprender a lidar com eles para que procuremos as melhores soluções para cada problema”. Pensar e analisar, reduz a raiva, alertam os psicólogos.
 
“Enquanto que a dor nos faz parar e, de algum modo nos paralisa durante alguns momentos, a raiva impulsiona-nos para a luta, para a vingança de quem nos provocou essa dor”, explicam os entendidos.
 
Veluma Marzola regista que, “as pessoas inseguras tendem a viver relações instáveis e baseadas na posse e no ciúme para que consigam sentir-se mais seguras”. Por trás deste comportamento esconde-se a dificuldade em expressar sentimentos e medos resultantes de uma infância pouco saudável e pouco dada aos afetos. “O medo da perda e da rejeição, leva a que estes adultos não falem abertamente do que sentem e que recorram à agressão física ou verbal para se protegerem e sentirem-se mais seguros ainda que isso seja uma ilusão, explica realçando que, “mesmo quando têm reunidas as condições para desfrutarem de uma relação estável, estas pessoas já não conseguem alterar a sua conduta, levando a explosões de raiva injustificadas, mas que acabam por prejudicar a relação e por levar mesmo ao abandono que temiam.
 
Além de substituir a dor, a raiva também pode fazer com que uma pessoa se sinta poderosa porque essa agressividade dá-lhe uma falsa ideia de energia, poder e controle. Perante a crítica de um chefe ou colega, uma situação que nos corre menos bem, recorrer à raiva parece mostrar força e determinação em vez de humildade para corrigir o erro, ou seja, é um recurso para esconder a fragilidade e mostrar capacidades mesmo que não seja a melhor forma de o fazer, mas impede a dor, registam os entendidos, alertando que, o mais adequado seria admitir a falha e pensar na melhor forma de a ultrapassar.
 
Para concluir é importante reter que, não podemos deixar de sentir raiva, mas podemos aprender a geri-la e impedir que nos prejudique nas mais variadas situações. Como? Indo ao fundo de nós e tentando entender a razão pela qual temos necessidade de reagir de modo tão abrupto, perceber porque andamos tão irritados, impacientes e com pensamentos negativos. Às vezes, basta olhar 5 graus ao lado, analisar a situação noutra perspetiva para que nos tranquilizemos, aguardemos por uma resposta e que contenhamos a fúria de um momento que nos pode custar cara.
 
Reserve um tempo diário para si. Analise cada pensamento sem medos ou julgamentos. Assuma o seu passado, a sua dor, os seus medos. Fale com alguém da sua confiança e abra o coração a quem ama, uma vez que, juntos vão encontrar um novo caminho, um novo desafio que pode alterar profundamente a forma de ver a vida e, consequentemente, a vossa relação, o modo de estar em sociedade e para consigo mesmo.
 
Se precisar de ajuda, a psicologia pode ser um bom recurso para aprender a ressignificar a sua existência, modo de pensar  e de agir. Cultive diariamente a sua autoestima e autoconfiança e cuide-se carinhosamente.