Cerca de uma dezena de pessoas navegaram hoje de caiaque pela Ria Formosa, descobrindo os seus ‘segredos’ e ganhando mais consciência sobre os impactos da ação humana, numa das 372 atividades do Ciência Viva no Verão.
A ação foi escolhida para o lançamento simbólico da edição de 2023 do projeto, que os centros Ciência Viva promovem há 27 anos e que este ano arrancou em 15 de julho e decorre até 15 de setembro, sob o mote “Alertas da Natureza”.
“[O tema] Encaixa-se perfeitamente nesta atividade. Saio daqui um bocadinho mais consciente”, garantiu aos jornalistas Tiago Fonseca, de 36 anos, enquanto o jovem Simão, de 14 anos, assegurou estar sempre a aprender “coisas novas” de cada vez que dá a volta à ria em caiaque.
Com saída da praia de Faro, durante cerca de duas horas a investigadora da Universidade do Algarve (UAlg) que conduziu o passeio mostrou, de “forma descontraída”, as riquezas e especificidades deste sistema lagunar que, no total, se estende por 60 quilómetros e cinco concelhos algarvios.
“Geralmente, quando falo com eles, tento que não seja só eu a contar a história [da Ria Formosa], mas que todos estejamos aqui a contar essa história”, disse aos jornalistas Rita Carrasco, investigadora do Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) da UAlg.
Alguns dos participantes são residentes na região, “outros nem por isso”, pelo que o primeiro objetivo é mostrar “o que é que compõe” a Ria Formosa, os seus “vários ambientes”, incluindo o humano, e de como em conjunto constituem um ‘puzzle’ que é preciso conservar, mitigando os impactos das alterações climáticas.
No início do passeio, a investigadora aproveitou para falar da função das barreiras, da importância da praia e das dunas. Mais à frente, no ‘coração’ da ria, a zona de sapal, abordou a dinâmica dos canais, das barras, a importância do sapal, mas também os cavalos-marinhos e as aves, “as coisas mais emblemáticas da Ria Formosa”.
“[O sapal] É o nosso ‘pulmão’ e os canais são as pequenas ‘artérias’. Falo da importância de ter estas ‘artérias’ bem saudáveis, para que consigamos criar nichos de conservação e biodiversidade aqui dentro”, frisou Rita Carrasco.
No final do passeio, Tiago Fonseca, que veio de Lisboa para, numa visita de dois dias com a namorada, funcionária do Pavilhão do Conhecimento, participar neste evento, ficou mais esclarecido em relação “a coisas sobre as quais nunca tinha pensado”.
“Além da parte divertida, de andar de caiaque, aprendi bastante, sobre aves, sobre as barreiras, sobre as dunas, sobre toda esta biodiversidade”, afirmou sobre a estreia em ações da Ciência Viva, ainda que já tivesse experimentado o caiaque.
Tiago Fonseca partiu do Algarve “muito mais informado e consciente dos perigos” que os seres humanos causam e da prevenção que é necessária, além de motivado a participar noutras atividades do projeto.
Já Simão Chaparro, porta-voz de uma família de Faro participante na ação, é repetente porque não só gosta muito de andar de caiaque, como aprende o que o meio escolar não costuma ensinar sobre um ecosssistema que “é preciso proteger e é preciso guardar para o futuro”.
“Aprendi que as espécies marinhas são muito protegidas. Aprendi coisas que não aprendo na escola, de cada vez que cá venho aprendo coisas novas”, sublinhou, deixando no ar que poderá convidar os seus amigos para o próximo passeio.
O projeto Ciência Viva no Verão realizou-se pela primeira vez em 1996, então sob outra designação e apenas com atividades de astronomia nas praias, e foi crescendo ao longo dos anos.
Observar o sol ou o céu noturno, compreender os ecossistemas dos sapais, florestas e estuários, conhecer a geologia que deu origem à paisagem ou visitar grandes instalações de engenharia são alguns exemplos das 372 ações distribuídas por 601 datas e por todo o território nacional, incluindo as regiões autónomas, realizadas com o apoio de dezenas de parceiros.
O tema deste ano, “Alertas da Natureza” pretende ser “uma chamada de atenção para as alterações provocadas pela ação humana no planeta”, explica a Ciência Viva.
Lusa