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Ciência aponta causas do narcisismo

Ciência aponta causas do narcisismo
Ciência aponta causas do narcisismo  
Foto - Freepik
Durante muito tempo desconhecia-se a verdadeira causa do narcisismo. Hoje a ciência tem uma palavra a dizer para ajudar a preveni-lo.

Com o elevado impacto negativo  que as pessoas narcisistas têm na nossa sociedade, o tema tem sido amplamente estudado. A ciência acreditou que se tratava de causas genéticas, mais tarde fixou-se na tese de que seria o resultado de uma educação baseada em maus tratos e, presentemente, defende-se que, o excesso de incentivo dado aos filhos, a superproteção e a falta de regras e de limites está a dar lugar a certas formas de narcisismo.
 
O transtorno de personalidade narcisista afeta apenas 1% da população. No entanto, há subtipos e diferentes tipologias que definem um número muito maior de homens e mulheres que apresentam um ar de superioridade, manipulação, baixa empatia, comportamentos de soberba, necessidade de admiração, de estarem sempre certos, de “serem sempre os melhores”, os mais destacados num grupo e no seio da família.
 
Há pessoas com um perfil narcisista em todo o lado: na família , na liderança de uma empresa, num clube desportivo, o nosso companheiro, um filho e daí por diante. Conviver com um narcisista pode ser muito lesivo, a ponto de reunirmos feridas muito profundas e difíceis de cicatrizar, explicam os investigadores.
 
Theodore Millon, pioneiro no estudo da personalidade e investigador explicou  que, existem narcisistas mais e menos lesivos, sendo os pró-sociais os que mais se adaptam. Ao contrário, os antissociais revelam maior arrogância e agressividade, sendo assim um risco social para aqueles com quem convivem.
 
O mesmo especialista também alertou para um aumento significativo deste tipo de perfil devido essencialmente ao tipo de educação e à própria influência social nos indivíduos.
 
Durante os estudos levados a cabo no século XX,  os investigadores registavam que, um estilo parental deficitário, sem proximidade, sem apego e sem segurança, fazia com que a criança desenvolvesse sentimentos narcisistas. Foi a psicanálise que, de algum modo, apontou que, uma pessoa que não recebeu amor na infância acaba por, na idade adulta, andar sempre à procura de um  reforço alheio de tal modo que deseja concentrar toda admiração nos mais variados contextos.
 
Contudo, o investigador Eddie Brummelmah da Universidade de Utrecht apresentou  uma perspetiva contrária, defendendo que, «não é a falta de amor parental que dá lugar a um comportamento narcisista, mas sim que, a superproteção, o consentimento excessivo e a falta de limites fazem a criança acreditar que está acima de qualquer coisa, situação ou pessoa».
 
Neste modelo de educação estudado pela equipa de cientistas, «a criança considera-se acima dos outros, julga ser privilegiada, com direitos exclusivos e sem deveres. É como se o mundo girasse em torno dela», explicitam os investigadores completando que, já é possível avaliar esse tipo de comportamento em crianças entre os 7 e os 12 anos.
 
Os cientistas realçam que, «não existe algum problema em valorizarmos os nossos filhos, em mostrar-lhes que são muito especiais para nós pais, que possuem talentos e habilidades, que gostamos muito deles, razões pelas quais, todos os dias trabalhamos em conjunto para melhorarmos quem somos». O problema surge «quando elogiamos aquilo que não existe, supervalorizamos qualidades, não transmitimos regras, limites e deveres e fazemos com que as crianças cresçam com a noção de que estão acima de tudo e de todos».
 
Amar é dar respeito em troca dele, liberdade, mas também limites, deveres e obrigações, responsabilidade, sentido de pertença a uma comunidade, respeito pelos que dela também fazem parte e perceber que, ninguém é melhor do que ninguém, somos apenas todos diferentes, com qualidades positivas e negativas, todos imperfeitos e destinados a ter de lutar pelo que se deseja, sem que isso interfira no bem-estar dos demais , explicam os entendidos apontando mais um problema, «é que muitos pais também apresentam traços narcisistas e promovem um ambiente baseado nessa exclusividade e privilégio o que dá lugar à imitação por parte dos filhos».
 
Segundo W. Keith Campbell, «o narcisismo é um espectro, pelo que, há pessoas que apenas apresentam alguns traços narcisistas, enquanto que outras reúnem todos os requisitos para integrarem o grupo de 1% das pessoas que padecem de um transtorno efetivo».
 
Num trabalho denominado por: A epidemia do narcisismo: vivendo na era do direito próprio, o psicólogo destacou que, «não é só a família que influencia o comportamento dos indivíduos, apesar de representar uma quota parte significativa. A sociedade também acaba por interferir nesse processo, seja no transtorno de personalidade narcisista ou em qualquer outro».
 
O culto ao “eu” quase imposto nos últimos anos, tem dado lugar a um aumento de pessoas com este tipo de perfil narcisista sendo que, praticamente tudo o que fazemos nos nossos dias tem de ser avaliado por “gostos”, temos todos de ser “os melhores” na escola, no grupo desportivo, temos de brilhar nos convívios de amigos, ser bem integrados e aceites no emprego, obter os melhores resultados, sermos os preferidos na família e daí por diante, pelo que, segundo a ciência, «estamos a produzir pessoas infelizes, vazias de afetos, insatisfeitas consigo mesmas e com os outros, agressivas porque desejam alcançar tudo, pouco empáticas mesmo com aqueles que lhes são mais próximos e a praticar maus tratos de toda a espécie para tentar compensar a frustração crescente». Para os mesmos entendidos, «esta é uma situação alarmante e que nos deve fazer pensar e reagir».
 
Os pais e a sociedade em geral devem começar já a educar para a empatia, para o altruísmo, para a cidadania ativa, sob pena de desenvolvermos seres humanos com uma fraca autoestima, autoconfiança, amargos, tristes e frustrados, mas sempre  a acreditar que são os outros que estão à sua frente a impedir que cheguem onde pretendem e, as consequências são as que temos assistido, registam em jeito de reflexão os cientistas.