Ter um cão como animal de estimação é um privilégio para todos quantos desfrutam de uma verdadeira relação de amizade com os canídeos.
Segundo a ciência, os cães têm desenvolvido muitas habilidades resultantes dessa relação de proximidade com os humanos, facto que permite afirmar que estes animais, «entendem muito daquilo que lhes transmitimos» e que, efetivamente, «só lhes falta falar» para que possam demonstrar melhor o que apreenderam.
Compreender melhor o que se passa no cérebro de um cão tem sido um desafio para os investigadores que acreditam que, estes animais estão muito mais desenvolvidos do que há séculos atrás e que mais vão evoluir com a relação com os humanos.
Como animais sociais domesticados, os cães têm a capacidade de processar um amplo espectro de mensagens transmitidas por meio de gestos, sinais e expressões faciais.
Tendo por base um estudo de 2016 publicado na revista Science que analisou o processamento lexical dos cães por meio de imagens de ressonância magnética funcional, «os cães foram capazes de distinguir palavras que lhes eram significativas através da variação da entoação».
Quando não havia entoação, «as áreas auditivas do cérebro canino eram ativadas, mas quando a palavra era acompanhada por prosódia, a atividade também era registada nas áreas de recompensa», explicam os investigadores.
Depois da análise dos resultados, os cientistas afirmam que, «é verdade que os cães entendem as palavras dos seus donos».
Uma vez que os cães são capazes de distinguir uma palavra do resto dos sons vocais dos humanos, o próximo passo foi descobrir se eles eram capazes de dar significado a essas palavras.
Para descobrir essa particularidade, um grupo de cientistas projetou uma experiência com uma dúzia de cães. O artigo, publicado na Frontiers in Neuroscience, conta como os cães foram treinados para apanharem 2 brinquedos de um monte, diferenciados pela textura, dando-lhes um nome.
Cada vez que o cão apanhava o brinquedo correto, era recompensado com um “parabéns “ e guloseimas. Essa dinâmica continuou até que o desempenho do animal fosse perfeito, descreve a mesma publicação.
Seguidamente, foi realizada uma ressonância magnética funcional ao cérebro dos animais e, posteriormente os cães estudados foram submetidos a um teste de discriminação auditiva.
Comparando a resposta neuronal às palavras treinadas com pseudopalavras que os cães nunca tinham ouvido, os cientistas descobriram que as primeiras ativavam regiões específicas do córtex temporal esquerdo e amígdala, o núcleo caudado esquerdo e o tálamo.
Em contraste, as pseudopalavras ativavam o córtex parietotemporal em ambos os hemisférios em maior extensão, indicando que os animais estavam a tentar processar algo que parecia uma palavra, mas apenas entendiam a entoação, explicam os investigadores no mesmo artigo científico.
«Essa é a prova de que os cães detetam as palavras e que o seu cérebro possui regiões específicas para isso», afirmam.
Desta forma, «é possível afirmar que o cão entende o que o dono lhe diz e que vale a pena conversar com ele porque o animal dispõe de uma configuração cerebral que lhe permite entender uma boa parte do que o cuidador lhe diz, realçam os cientistas no mesmo artigo.
«O hemisfério esquerdo dos cães realiza uma análise da voz, do conteúdo emocional da mensagem, dos idiomas, sons e conteúdo fonético que lhes são familiares. Além disso, os cães usam o hemisfério direito para processarem ritmos, linguagens e sons desconhecidos.
Esta forma de operação tem algumas semelhanças com o cérebro humano. Portanto, esse conhecimento não é útil apenas para aprofundar a relação homem-cão, mas também tem aplicações na psicologia comparada. Assim, podemos obter informações úteis para investigar as bases da aquisição da linguagem em humanos», concluem os investigadores.
Fátima Fernandes