Dicas

Até que ponto o psicopata sabe que prejudica os outros?

 
Nas últimas décadas tem sido crescente a curiosidade e o interesse da comunidade em geral pela psicopatia.

Para a maioria dos mortais, é difícil compreender o funcionamento de uma mente capaz de manipular, manter o domínio dos outros com base na ameaça, que não sente remorsos ou sentimentos de culpa e que usa os demais a seu belo prazer e sempre com o intuito de satisfazer as suas necessidades pessoais.
 
Segundo a ciência, a psicopatia está englobada no grupo dos transtornos de personalidade e, tem despertado muita curiosidade porque os meios de comunicação social e o cinema têm dado a conhecer muitas particularidades destes indivíduos.
 
Seja para nos protegermos, seja para sabermos como funciona a mente destas pessoas, vale sempre a pena aprofundar este conhecimento, sabendo, no entanto, que se trata de um grupo de indivíduos e não de maiorias.
 
Assim, os especialistas explicam que, não devemos confundir o psicopata com o psicótico. A principal diferença é que, o primeiro não apresenta alucinações ou outras formas de pensamento irracional e não perde o contacto com a realidade.
 
É ainda de registar que, a presença destas pessoas na sociedade é muito pequena em termos estatísticos, embora a sua criminalidade seja desproporcional quando a cometem. Contudo, não se deve confundir o diagnóstico com delito. A maioria dos psicopatas está integrada na sociedade e, em muitos casos, ocupa cargos de liderança, o que faz com que o seu transtorno pouco seja abordado, mas isso não quer dizer que não existam vítimas da sua atuação.
 
Esta figura tem sido estudada no mundo empresarial, em casos de violência de gênero e no caso de grandes homens de Estado (Estaline Milosevic, Mugabe, Hussein, entre outros). O psicólogo industrial Babiak realizou trabalhos de investigação em que, inclusive, foi possível definir uma sequência de atuação típica.
 
No que se refere aos sentimentos e pensamentos de um psicopata, Cleckley estabeleceu 16 critérios. Na sua lista encontramos escassez de reações afetivas básicas, incapacidade de amar, ausência de nervosismo, personalidade encantadora, falta de sentimentos de culpa e vergonha, uso da mentira e uma vida sexual impessoal, entre outros.
 
Os investigadores descobriram também que, os psicopatas podem diferenciar-se em dois tipos: os primários e os secundários, sendo que, os primeiros são insensíveis, sem arrependimentos, manipuladores, mantêm relacionamentos deturpados e podem demonstrar arrogância. Se fazem uso da violência, geralmente é como meio de obter algo em benefício próprio. Por seu turno, os psicopatas secundários têm dificuldades em tolerar o tédio, agem sem pensar nas consequências, são impulsivos e violentos.
 
Estudos a respeito da capacidade de sentir empatia demonstraram que, os psicopatas  não têm problema algum em sentir empatia com a felicidade alheia, mas não com o medo. Ao mesmo tempo, não sentem compaixão, nem apresentam uma qualquer reação emocional.
 
Na mesma sequência, os cientistas procuraram saber se, efetivamente, existem pessoas más e, depois de se depararem com diversas teorias, afirmam que sim e que a maldade tem uma causa biológica. Ao mesmo tempo, o que pode tornar as pessoas más é a ausência ou o pouco medo. Perante alguns estudos em que os pacientes foram confrontados com o medo e com o perigo, percebeu-se que, os psicopatas primários têm medo.
 
Nas mesmas conclusões foi registado que, se a criança não experimentar o sentimento de medo do perigo ou do castigo, não vai contactar com a experiência emocional e, portanto, dificilmente irá responder com temor aos sinais de ameaça ou perigo no futuro.
 
Na posição dos cientistas, o medo é fundamental para construir a consciência crítica que promove as relações entre as pessoas. A inexistência deste sentimento dará lugar a pessoas sem limites e sem medo das consequências dos seus atos.
 
No caso concreto dos psicopatas, estes possuem uma baixa resposta cerebral perante imagens de medo, dor e sofrimento (pouca ativação da amígdala, a responsável pelo processamento e armazenamento das reações emocionais).
 
Os trabalhos de Yang, Raine, D. Phil e colaboradores, indicaram que os psicopatas têm esta estrutura cerebral significativamente menor, pelo que, possuem uma consciência frágil apoiada em diferenças biológicas em relação à restante população.
 
Os principais estudos descobriram que, os psicopatas têm muita dificuldade em adquirir novos medos associados a normas sociais, que têm pouco temor ao castigo e às suas consequências, e que têm uma maior dificuldade em adquirir a componente de evitar o perigo/ castigo, que é tão importante na consciência humana. Neste sentido, estas pessoas com as suas características e fatores biológicos, são capazes de distinguir o bem do mal. Logo, sabem muito bem o que fazem e até que ponto estão a prejudicar alguém, mas isso não os afeta, nem impede que o façam.
 
Fátima Fernandes