O presidente da associação de regantes do sotavento algarvio considerou hoje que os cortes de água anunciados para combater a seca na região não irão aumentar as reservas e vão originar “prejuízos” à agricultura.
Numa reação aos cortes de 25% para a agricultura e de 15% para o setor urbano do Algarve, incluído o turismo, anunciados na quarta-feira pelo ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, o presidente da associação de regantes do sotavento, Macário Correia, disse que na base da decisão do Governo está uma fórmula de cálculo que “maquilha a realidade” de algumas zonas agrícolas da região, onde a percentagem dos cortes será superior.
“Vamos ter prejuízos, vamos ter pomares murchos, sem fruta, ou seja, não nasceu nenhuma solução. É que a quebra de 25% seria aceitável, mas não é 25% em todo o lado, aqui [barragem de Odeleite] e no Alvor é muito mais de 25% e no Arade também, ou seja, 25% maquilha a realidade concreta de alguns perímetros de rega”, afirmou o presidente da Associação de Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento Algarvio (ABPRSA).
Inicialmente foi estimado que os cortes para fazer frente à seca e poupar as reservas de água do Algarve poderiam chegar aos 70% na agricultura, mas Macário Correia rejeitou a ideia de que as medidas adotadas pelo Governo sejam mais benéficas para a agricultura, porque a “água é a mesma” que havia antes da decisão e apenas foi encontrada “uma maneira diferente de fazer as contas”.
“O que acontece é que eles pegaram na água subterrânea do Algarve todo e juntaram as fontes de abastecimento das albufeiras, e depois, pegando nesse conjunto, a diferença é de 25%, mas falta dizer que no Alvor é um corte de 100%, aqui será de 50 a 75% e se a gente até fizesse um alargamento da área estatística de tratamento e envolvesse o Alentejo, a quebra dava de 1 ou 2%”, ironizou.
Macário Correia argumentou que “não apareceu água de ontem para hoje” e criticou a falta de combate às perdas nas redes de abastecimento por parte das câmaras municipais algarvias, apesar de terem uma verba de 40 milhões de euros que foi disponibilizada pelo Governo para esse efeito.
“E isso é preocupante porque o consumidor de água paga na fatura dois terços da água que bebe e paga um terço da inoperância das câmaras municipais, que desperdiçam 30 hectómetros cúbicos de água”, lamentou.
Macário Correia considerou que “faltou tomar decisões em tempo oportuno” para evitar a aplicação de cortes no consumo de água na região, que está há mais de uma década a ser afetada pela seca.
“Nós estamos neste momento a correr atrás do prejuízo, porque há quatro ou cinco anos atrás alguém que devia ter tomado decisões não tomou. Se houvesse uma decisão tomada há quatro ou cinco anos, as albufeiras tinham água, ou tinha-se construído novas albufeiras, ou tinha-se resolvido o problema das perdas dos municípios”, argumentou.
O presidente da ABPRSA sublinhou que, se o combate às perdas tivesse sido concluído e não se perdessem 30 hectómetros cúbicos anuais nas redes de abastecimento, “tínhamos lá [nas barragens] 90 hectómetros, não falávamos de seca, não era preciso falar de seca”.
Lusa