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Aquilo que somos nas redes sociais

Aquilo que somos nas redes sociais
Aquilo que somos nas redes sociais  
Freepik
Tornou-se habitual que muitos utilizadores das redes sociais apenas publiquem o melhor que lhes acontece ou o que gostariam que lhes acontecesse.

Estas pessoas usam estas plataformas para criarem personagens que, na maioria das vezes, em pouco se aproximam daquilo que realmente são, dando a sensação de possuírem vidas “maravilhosas”, “perfeitas” e “invejáveis”.
 
Se por um lado, essa opção atrai “gostos” e admiradores, por outro também gera sentimentos de inveja em quem acompanha essas publicações, levando a que, em alguns momentos, surjam comentários destrutivos e negativos em torno de quem exibe a sua imagem, viagens, momentos felizes e daí por diante.
 
Ao mesmo tempo, os especialistas nestas matérias também chamam à atenção para o facto de, as pessoas acreditarem tanto nessa sua “realidade virtual” que se esquecem de quem realmente são, o que pode conduzi-las a estados de frustração, ansiedade e depressão pelo medo de serem descobertas ou de elas próprias terem de assumir que não são o que demonstram parecer. A tudo isso chama-se falsidade nas redes sociais.
 
Os entendidos alertam que, é fácil construir um personagem virtual e fazer com que os outros acreditem, o difícil é manter essa “fachada”  e quem os faz ter de lidar com o confronto porque sabe que se trata de uma farsa, o que leva à construção de uma identidade confusa.
 
É um facto que, as plataformas digitais são um mundo que nos convida a publicar o que quisermos e a inventar os personagens que melhor se adequam ao que queremos mostrar, contudo, é preciso não perder de vista quem realmente somos, o papel que estamos a representar, sabendo sempre que, mostramos não o que somos, mas aquilo que gostaríamos de ser ou de ter.
 
Anote ainda que, «não há presença de pessoas reais na Internet. Esse mundo constrói-se com base em factos virtuais que ilustram aquilo que queremos e escolhemos, sendo da nossa total responsabilidade aquilo que mostramos e representamos, explicam os entendidos alertando que, também não há o tempo presente, mas sim o virtual que acaba quando deixamos de ser interessantes para os nossos seguidores».
 
Para muitos psicólogos, o problema de nos passarmos por pessoas que não somos, também pode ocorrer no mundo presencial, contudo, não pode ir tão longe, nem seria visível por tantas pessoas e ainda menos ao mesmo tempo, o que aumenta a dimensão e a amplitude da passagem de informação. Depois, à medida em que vestimos cada personagem para fazermos as publicações virtuais, estamos nós próprios a acreditar que somos assim e, quando “descemos à terra”, acabamos por desiludir-nos profundamente ao percebermos que em pouco nos assemelhamos à pessoa que gostaríamos de ser ou que mostramos ser nas plataformas digitais.
 
Em muitos casos, há pessoas que deixam de conseguir separar estes dois mundos, acabando por mergulhar numa profunda confusão e em sentimentos negativos e destrutivos quando percebem que, efetivamente, não são aquela pessoa, apesar de a representarem muito bem e com detalhes, um estilo constante e muito próprio.
 
A virtualidade tem uma característica que facilita uma certa falsificação da identidade. É possível dizer qualquer coisa para qualquer pessoa que esteja  ali, em tempo real.
 
No entanto, essa pessoa não tem como comprovar  a veracidade do que estamos a dizer. Acontece a mesma coisa com as publicações que fazemos.
 
Uma coisa é mostrar e demonstrar nas redes sociais e outra muito diferente é fazer isso no mundo real. A realidade virtual não permite acesso ao contexto no qual uma pessoa se encontra. Também não permite contrastar efetivamente o que alguém diz com a nossa própria perceção de realidade.
 
Assim, são dadas as condições para que o jogo da identidade se mova numa estrutura extremamente flexível.
 
Não nos damos conta, mas acabamos por colocar em evidência um personagem que representa o nosso eu ideal. Acabamos por nutri-lo e por enriquecer essa representação que criamos.
 
Em muitos casos, colhemos admiração e aprovação, mas nem sempre isso acontece.
 
A identidade que construímos nas redes sociais e para as redes sociais tem os traços que valorizamos como “os melhores”. Recebemos uma retroalimentação com cada publicação que fazemos.
 
Algumas obtêm mais “gostos” e outras passam despercebidas, mas ambas geram em nós um conhecimento à altura de selecionarmos aquilo que recebe uma maior aprovação. Naturalmente que é mesmo aí que começa a confusão na nossa identidade e o jogo que utiliza o ideal para obter uma maior admiração. Pode chegar-se ao extremo de estarmos sempre a pensar nas melhores soluções para que consigamos publicar sempre conteúdos interessantes e capazes de colher mais gostos, o que nos limita a ação, a liberdade e aquilo que realmente somos acaba por ficar ofuscado e, muitas vezes, caótico, alertam os entendidos registando que, a competição também “entra em campo” de tal forma que se quer estar acima dos outros, ser o preferido, o mais perfeito, o que está melhor na vida e daí por diante.
 
Esta competição pode atingir proporções perigosas quando a raiva se sobrepõe ao prazer e ao entretenimento que as redes nos deveriam proporcionar, pois as pessoas ficam tão enfurecidas por não obterem a aprovação desejada que reagem mal aos outros, criticam ferozmente e até falam mal de quem consegue distinguir-se e assumir mais preponderância.
 
Se é verdade que os influenciadores digitais atingem o topo, também é um facto que rapidamente podem cair em descrédito e desinteresse, tal como uma pessoa pode ter muitos seguidores e, de um momento para o outro, os mesmos desaparecerem, desinteressarem-se e ficar sem “palco”. É tudo muito frágil e fugaz e, também esse ponto é doloroso e difícil de aceitar, analisam os entendidos.
 
Mas, o autoengano não é mais fácil de digerir, pois a pessoa acredita que é mesmo “uma estrela virtual” e, de um momento para o outro, entra num vazio enorme e sem saber o que aconteceu para ter deixado de ser aprovada, interessante e admirada.
 
As redes sociais também são espaços propícios para trivializar o relevante. Vemos que elas separam mais do que unem. Fomentam micro ditaduras de opinião, e para aqueles que não se sentem seguros de si mesmos ou não formaram um critério independente perante a realidade, levam à construção de identidades enganosas e inclusive fraudulentas.
 
Da mesma forma, exercem um grande poder de condicionamento. Mostrar e demonstrar nas redes sociais pode tornar-se uma ação com muitas expectativas e sentimentos que não se processam na realidade e que acabam por magoar-nos profundamente.
 
Falamos muito na capacidade que as redes sociais possuem para aproximar as pessoas, mas não podemos esquecer-nos do isolamento que as mesmas encerram ao mesmo tempo, pois ao não sermos aprovados e admirados, acabamos por cair no esquecimento e sem “gostos” ou pessoas interessadas no que publicamos. Ao mesmo tempo, podemos sempre entrar em grupos e opinar sobre os mais variados temas, mas se não estivermos em linha com a maioria, facilmente somos ofendidos e, novamente, acabamos por sentir-nos sozinhos num mundo virtual cheio de utilizadores.
 
Também não nos podemos esquecer que, num dia menos feliz podemos passar-nos por um determinado personagem e no outro, mais contente, já estarmos a vestir a pele de alguém mais interessante, o que naturalmente conduz à construção de uma imagem que acabamos por ter de manter sob pena de não suportarmos as críticas e o abandono. Mas, se não gostarem de um dos nossos personagens, acabamos por criar outro e outro, acabando por não sabermos muito bem quem queremos ser ou o que podemos publicar para que sejamos mais aceites, o que não nos liberta para nos assumirmos tal como somos e por não conseguirmos merecer aprovação face à nossa verdadeira identidade.
 
Por fim, é essencial que registemos que, bem utilizadas, as redes sociais proporcionam-nos entretenimento, aproximam-nos de quem está distante, satisfazem-nos a curiosidade face à vida que os outros mostram e divertem-nos com a diversidade de conteúdos. Levadas a sério, estas plataformas podem conduzir-nos à doença mental, a problemas com os outros, à solidão, à dependência e a estados de humor pouco desejáveis porque tudo circula, segue um curso e, na maioria das vezes, não nos dá oportunidade de esclarecer o que queríamos dizer ou desculpar-nos, pois a energia segue e não espera por nós, muito menos se importa com o que possamos estar a sentir, à espera ou a desejar.