Se compararmos o tempo que demoramos para conquistar algo, vamos ver que a alegria daí resultante é muito curta e que pode ficar aquém daquilo que desejamos. A ciência diz que é possível prolongar os momentos de alegria entendendo o processo de adaptação hedónica.
A sensação de que as alegrias são de curta duração tem mais a ver com a efemeridade da experiência psicológica do que com o rápido desenvolvimento dos acontecimentos da vida, afirmam os cientistas.
Todos nós experimentamos a adaptação hedônica, ou seja, acostumamo-nos tanto com as nossas emoções que elas deixam de ter intensidade e valor.
Esse processo está diretamente envolvido no facto de nos sentirmos mais ou menos felizes ou se a alegria durar pouco tempo. Além disso, tem muito a ver com a forma como o nosso cérebro reage a diferentes acontecimentos da vida ou, por exemplo, com a forma como organizamos a nossa agenda, explica um artigo publicado na revista: A Mente é Maravilhosa.
Ao mesmo tempo, a adaptação hedónica também é responsável, por exemplo, por passarmos algum tempo a odiar uma comida de que tanto gostamos, mas que nos deixa empanturrados. Esse processo também é responsável pelo facto de que a alegria de um aumento de salário, uma melhoria nas condições de trabalho ou um parabéns do nosso cônjuge dure muito pouco se compararmos com o tempo que ansiamos por isso.
Segundo a ciência, a adaptação hedónica ocorre em situações positivas, mas também negativas.
É o fenómeno psicológico pelo qual os seres humanos adaptam-se rapidamente a eventos positivos ou negativos e, deixam de sofrer ou de sentir prazer com isso, devido à adaptação a essas situações.
Essa adaptação ocorre de forma tão rápida que é possível que, num curto período, uma pessoa possa sentir tanto uma enorme alegria, como uma tristeza grandiosa, explicam os investigadores nesta matéria.
As posições mais populares em torno desta teoria afirmam que, «se trata de uma adaptação evolutiva que ajuda os seres humanos a lidar com diferentes eventos de vida». Caso contrário, «se não nos adaptássemos aos acontecimentos vitais positivos ou negativos, provavelmente ficaríamos tão sobrecarregados por eles que seríamos incapazes de ser funcionais».
Se por um lado, lamentamos que a alegria possa ser breve, por outro, também podemos usar essa capacidade a nosso favor quando passamos por momentos dolorosos, afirmam os investigadores.
Uma pessoa que ganha um grande prémio sente que não consegue prolongar a alegria desse momento no tempo, enquanto que uma pessoa que passa por uma dor profunda pode beneficiar dessa brevidade e não prolongar a dor durante muito tempo porque rapidamente o nosso cérebro adapta-se à situação e a mesma passa a fazer parte da rotina. Descobrimos outros centros de interesse e acabamos por relativizar a situação em si. Os desafios do presente também assumem uma importância diária, o que leva a que essa grande alegria diminua de intensidade e, o mesmo acontece com a dor. Não é por acaso que se afirma que devemos “dar tempo ao tempo” para que consigamos lidar com eventos difíceis de vida. É precisamente o período que o nosso cérebro demora a adaptar-se a uma situação nova.
O ser humano tende a ser um ser insatisfeito” e, bem interpretada, essa sensação pode ser usada a nosso favor tendo a criatividade como nossa aliada.
Segundo os cientistas, «todos temos uma espécie de programa instalado nas nossas mentes que significa que, quando alcançamos aquele objetivo que nos parecia suficiente, ele deixa de nos parecer suficiente».
Sabendo desta realidade, é possível utilizar a adaptação hedónica para prolongar aquilo que desejamos. Por exemplo, deixar de comemorar tudo no mesmo dia, moderar as expectativas de forma a evitar os extremos, sejam “as explosões de alegria”, seja “os momentos de tristeza”.
Ao ganharmos um grande prémio, não temos de investir todo o nosso dinheiro num curto espaço de tempo, mas sim depositá-lo e, aos poucos, fazer pequenos investimentos que nos permitam renovar a memória e a felicidade de o termos recebido.
Na vida conjugal, não temos de fazer tudo no dia em que assinalamos o aniversário de namoro ou casamento, mas sim, fazer algo especial e, nos demais dias, semanas e meses, dar sempre um pouco de nós. A festa do nosso aniversário, não tem de ser “o evento do ano”, mas sim, desejar que, nos demais dias também possamos ser especiais para aqueles que amamos. Para isso, devemos manter o contacto e desfrutar o mais possível de momentos positivos com aquelas pessoas que fazem parte da nossa vida e, a palavra chave é “dosear”.
As férias de um mês não têm de o ser. Podemos dividi-las em dois ou três períodos ao longo do ano e sair do ambiente de trabalho, desfrutar de momentos em família mais vezes ao longo de 12 meses e descobrir outras sensações.
Também não temos de ir sempre ao mesmo restaurante e ainda menos comer sempre o mesmo prato. Inovar faz bem e permite que experimentemos novas sensações e emoções.
As expectativas também ajudam muito neste processo porque, se as moderarmos, teremos mais probabilidades de nos surpreender, se as elevarmos, tendemos a maiores desilusões porque dificilmente os outros vão corresponder ao que esperamos, além de que, a perceção do estímulo depende da comparação de estímulos anteriores, pelo que, gostar ou não de um acontecimento ou de um elemento tem muito a ver com o que ocorreu antes.
A ideia de “quanto mais gostamos, melhor” não funciona. Um prato pode nos parecer delicioso e podemos querer repeti-lo. E repetir novamente. E quando repetimos, é muito provável que não fique tão bom como na primeira vez. Assim, é preciso reter que, o prazer que podemos sentir diante de um determinado estímulo depende, e muito, do que aconteceu antes de nos expormos.
Beyond the Hedonic Treadmill, Revising the Adaptation Theory of Well-Being, Diener, Lucas & Scollon (2006) concluíram que «não somos hedonicamente neutros». Já Brickman e Campbell, afirmam num artigo denominado: Hedonic Relativism and Planning the Good Society (1971), que «os seres humanos têm um “ponto de referência” para a felicidade».
De alguma forma, há pessoas que tendem a sentir-se satisfeitas com as suas vidas e outras que dificilmente desfrutam desse sentimento, no entanto, todos podemos conhecer-nos melhor, entender como é que a nossa mente funciona e, aos poucos, aprender a gerir o melhor possível a adaptação hedónica, de forma a obtermos mais prazer e durante mais tempo e, reduzir a dor sem que façamos de conta que ela não existe, mas retirando-lhe o mais possível de duração, concluem os investigadores.