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Aprenda a gostar mais de si

Aprenda a gostar mais de si
Aprenda a gostar mais de si  
Foto - Freepik
Segundo uma reportagem no The Guardian, 3 em cada 4 crianças menores de 12 anos, sentem vergonha da aparência física.

Numa sociedade que tem vindo a defender uma imagem corporal única para que as pessoas se sintam aceites, faz sentido refletir e apontar algumas linhas de orientação para que aprendamos a gostar mais de nós mesmos e a aceitarmo-nos tal como somos.
 
De acordo com os trabalhos de investigação realizados, «nenhuma criança chega ao mundo a negar ou a rejeitar a sua imagem corporal, tal acontece à medida em que o indivíduo recebe críticas das figuras de referência, como sendo os pais, os colegas e a sociedade em geral».
 
Assim, a imagem que vamos construindo de nós próprios resulta, em grande medida, daquela ideia que nos incutem: “és magro como o teu pai”,  “tens o cabelo feio da tua avó”, “és muito parecido ao teu primo”, “tens os olhos da mãe e eu não gosto nada deles” e daí por diante.
 
Mediante estas afirmações mais ou menos inofensivas, mas sempre carregadas de mal-estar e tristeza para quem as recebe, muitas pessoas crescem com a ideia de que não são perfeitas, a sentirem-se rejeitadas e frustradas com a sua aparência, o que as leva a descurar as suas habilidades, potencialidades e até a distorcerem a sua autoimagem e a desenvolverem uma fraca autoestima, explicam os psicólogos entendidos nesta matéria.
 
«Há pessoas que se sentem tão mal com a sua aparência que, se pudessem, trocavam a imagem como quem muda uma peça de vestuário ou se livra de um objeto sem valor e, em muitos casos, alteram comportamentos sociais, deixam de frequentar locais e de se sentir bem nas mais variadas ocasiões porque estão sempre com medo da desaprovação dos demais.
 
Em muitos casos, a pessoa sente-se tão mal consigo mesma que está sempre à espera da crítica destrutiva ou acaba por estar sempre a pedir manifestações de aceitação e aprovação numa dependência preocupante. Não saem de casa sem que alguém lhes diga que está bem, estão sempre a perguntar se a sua aparência agrada e daí por diante, o que é um grande constrangimento na qualidade de vida e no bem-estar pessoal que pode acarretar muitos problemas psicológicos, explicam.
 
Mesmo em casos em que os outros elogiam, a pessoa que não gosta do seu corpo duvida dessas afirmações e sofre em silêncio acreditando que o outro lhe disse aquilo só para o agradar e, «a situação é mais frequente do que se possa pensar».
 
São também muitas as pessoas que dizem aceitar-se tal como são, mas quando publicam a sua imagem nas redes sociais, fazem de tudo para a alterar, para a melhorar e para estar à altura da dita imagem socialmente aceite, o que revela que também não concordam com o corpo e com os sinais pessoais que a natureza lhes ofereceu no nascimento e ao longo do desenvolvimento, clarificam os mesmos especialistas.
 
Idealmente, cada um de nós tem de olhar para si com as marcas que o distinguem dos outros e não à procura de uma linha produzida pela sociedade, com um peso perfeito, com as formas ideais ou com o tipo de cabelo que a maioria exibe, e que, muitas vezes altera em cirurgias ou com recursos a produtos de beleza.
 
Naturalmente que podemos e devemos cuidar de nós e sentir-nos cada vez melhor com essa imagem, mas temos de aceitar que o espelho reflete a imagem de uma pessoa que é diferente das outras, que possui as suas qualidades positivas e negativas, as marcas e as cicatrizes do tempo, tal como a experiência e as características de cada um, evidenciam os mesmos entendidos.
 
Com mais ou menos quilos, com a cintura mais larga ou mais fina, com barriguinha, com mais ou menos cabelo liso ou ondulado, somos iguais a nós mesmos, somos o conjunto de tudo o que nos caracteriza, somos a passagem dos anos, mas também o conhecimento, o carisma, os valores, a simpatia, a empatia e tudo o que nos torna únicos e especiais e que não tem espaço para filtros ou alterações digitais porque é exatamente aquilo que somos e o que sentimos.
 
Não devemos, de modo algum, ter vergonha do que somos e do que temos. Podemos melhorar-nos todos os dias e tirar cada vez mais partido daquilo que temos de melhor e aceitar que «ninguém é perfeito», pelo que não vale a pena cultivar a imagem ilusória de que somos o produto das modificações virtuais, porque no nosso espelho teremos de lidar com aquilo que somos e, aqueles que nos amam sentem a nossa riqueza e beleza à sua maneira. Mesmo que tenhamos um corpo igual ao da modelo X ou Y, isso não quer dizer que tenhamos uma boa autoestima, que sejamos simpáticos, talentosos, carismáticos, com bons valores humanos e que muitas pessoas gostem de nós, alertam os entendidos.
 
Assim, tal como não devemos mal tratar a nossa mente com julgamentos negativos e maus pensamentos em relação a nós mesmos, também não o devemos fazer em relação ao nosso corpo. «Temos de tratar-nos com carinho, com compreensão, dar-nos tempo, perdoar-nos e tentar aceitar que aquilo que nos distingue dos outros é o que nos evidencia, pois se fossemos todos iguais, ninguém saberia quem somos!
 
«Não é necessário amarmos o nosso corpo, basta respeitá-lo, aceitá-lo como ele é», esta é a base para começarmos já a partir de hoje a lutar contra tudo aquilo que fomos incutindo a nosso respeito desde a infância. Depois, é fundamental que aceitemos que não somos perfeitos, que temos aspetos de que não gostamos, mas que podemos tirar partido do melhor que possuímos e isso muda a forma como passamos a olhar-nos ao espelho.
 
Segue-se a noção de aprender a encarar o nosso corpo de uma forma positiva. Ele protege-nos e, se o protegermos, estaremos a criar uma relação longa de amizade. O corpo permite que nos desloquemos, que façamos exercício físico, que vistamos uma roupa bonita, que exibamos uma mala, uns sapatos, uma gravata, um anel ou qualquer outro acessório.
 
Não temos de ter as medidas dadas como perfeitas para que algo nos fique bem, ou para que tenhamos uma boa forma física, um sorriso alegre, uma palavra simpática com alguém.
 
A vida não seria possível se não tivéssemos um corpo físico que nos permite sentir, tocar, dançar, acariciar, fazer amor, lavar-nos e tirar partido de tantas e boas sensações. Seja qual for a nossa aparência, podemos tirar partido de um infinito de potencialidades do nosso corpo, pelo que é caso para afirmar que a imagem não é o mais importante.
 
É ainda essencial que cuide de si o melhor que conseguir e, aproveite para mimar-se. Divirta-se na presença de pessoas que o aceitam e respeitam tal como é e não se esqueça de se rodear de quem não lhe provoca mal-estar com críticas destrutivas e apreciações sem fundamento. «Estar com quem gosta de si é sempre o primeiro grande passo para aprender a desvalorizar o que não importa e a dar mais ênfase ao melhor que é a sua essência e o seu verdadeiro sentido de vida e de ser humano», concluem os psicólogos, lembrando que, o universo digital é constituído por algoritmos que nada se aproximam da realidade, logo esses modelos de beleza são criados e não uma condição da maioria dos seres humanos. É caso para pensar se vale a pena desperdiçar todo o seu valor em troca de tão pouco… e… qual o verdadeiro sentido dessa opção? Sofrer diariamente com a sua imagem corporal? Ame-se, aceite-se tal como é e, tire partido do seu melhor, pois dia após dia será efetivamente mais bonito/a e feliz.