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Amar é muito mais do que “ter alguém”

Amar é muito mais do que “ter alguém”
Amar é muito mais do que “ter alguém”  
Foto - Freepik
Os especialistas em terapia de casal alertam para a importância de entrarmos numa relação com responsabilidade e respeito pelos sentimentos dos outros.

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Se é fundamental respeitar-nos, não menos é transmitir esse valor a todos quantos escolhemos para manter algum tipo de relação, seja ela de amor ou amizade e, o primeiro requisito passa pela tomada de consciência do que queremos para que não nos iludamos, nem enganemos os demais, enfatizam.

Não menos importante é assumirmos um compromisso e honrá-lo, seja para iniciar um relacionamento, seja para mantê-lo ou terminá-lo. Se inicialmente acreditamos que é uma relação duradoura, devemos demonstrar essa intenção, tal como quando mudamos de opinião, devemos ter a necessária coragem para admitir à pessoa em causa que os nossos sentimentos mudaram.

Qualquer uma pessoa que passa pela nossa vida merece ser bem tratada e, é legítimo que também exijamos esse respeito e compromisso aos outros, mas quem não dá, também não pode colher, alertam os especialistas.

Numa sociedade agitada e cheia de estímulos, a honestidade, a sinceridade e a responsabilidade parecem estar muitas vezes fora de moda quando deveriam impor-se, uma vez que, cada vez mais precisamos de saber com quem contamos e o que podemos dar a alguém, salientam os entendidos.

No entanto, percebe-se que, as plataformas de encontros online dão lugar a muito sofrimento emocional essencialmente pelo descarte fácil, pela ausência sem uma explicação ou justificação, por contactos que só existem no ambiente digital e até por relações que terminam sem que tenham verdadeiramente começado, mas é mesmo aqui que os especialistas insistem na importância de alterarmos estes comportamentos que só nos remetem para a dor, para a solidão, desilusão, que nos enfraquecem a autoestima e a autoconfiança pela rapidez, superficialidade e falta de responsabilidade.

Ao mesmo tempo, também assistimos com muita frequência a relações baseadas no egoísmo, em que um dos elementos quer ver satisfeitas todas as suas vontades e desejos e o outro só existe para o servir.

Não menos frequente são os casos de violência no namoro ou em casa que ilustram a falta de respeito e de responsabilidade de quem se envolve numa convivência destrutiva e altamente tóxica, desviando o amor do seu real propósito que é promover o prazer, a qualidade de vida, o bem-estar e uma proximidade diária saudável.

Torna-se então essencial que cada pessoa se responsabilize pelas suas palavras, comportamentos e que partilhe de uma postura respeitosa tanto para consigo mesma como para com quem se envolve.

Devemos dizer o que pensamos e sentimos, mas saber dizer de forma assertiva, compreensiva e esclarecedora. Devemos respeitar também a opinião e a posição distinta do outro, acolhendo o que nos pode ensinar, mas também transmitindo o que temos para enriquecer a relação.

É ainda imperioso que saibamos muito bem o que pretendemos da relação para que o possamos dizer sem rodeios, enganos ou manipulações, pois quem ama não recorre a esse tipo de estratégias para envolver o outro, mas sim, é sincero e honesto, admite falhas, assume responsabilidades, divide problemas, medos e dúvidas, pois se não pode confiar na pessoa que tem ao seu lado, certamente que não está na relação certa.

É crucial colocar-se no lugar do outro e imaginar o que poderá sentir se tiver uma atitude negativa, o quanto pode prejudicar a pessoa com um comentário depreciativo ou com alguma forma de violência. Pensar em si mesmo também é essencial para colocar os seus próprios limites do que pode e deve fazer, dizer e permitir que lhe façam.

É ainda muito importante reconhecer que, as suas decisões influenciam a pessoa que está ao seu lado, pelo que, faz todo o sentido partilhar, negociar, ceder e ouvir de modo a encontrarem uma resposta conjunta.

O individualismo é um dos piores inimigos das relações, pelo que, é fundamental que aprendamos diariamente a partilhar, a comunicar de forma assertiva, empática, compreensiva, generosa e menos baseada no egoísmo, na crítica destrutiva e nos nossos próprios interesses.

Quem deseja construir uma relação saudável e duradoura deverá ter também em conta a importância de cuidar de si, mas também cuidar do outro com amor, atenção, tempo, entrega e valores verdadeiros, sob pena de também não o conseguir receber.

Não sabemos tudo, mas podemos aprender e, neste ponto, o primeiro passo é querermos melhorar-nos diariamente. Com uma mente aberta, com disponibilidade para nós próprios, para viver o presente, mas também para planear o futuro, certamente que vamos sinalizando progressos no nosso modo de estar e de agir, o que se vai refletir na qualidade das relações que estabelecemos, sejam elas de amor, amizade, camaradagem e daí por diante. Ter a ambição de nos tornarmos melhores pessoas é sempre a consciência de que queremos evoluir, crescer interiormente e estar mais disponíveis para amar e para recebermos o mesmo sentimento dos outros.

Resolver o nosso passado, aquilo que de algum modo impede que sejamos mais livres e que consigamos abraçar o presente é a orientação que devemos seguir para que possamos desfrutar de mais qualidade de vida, bem-estar e de sentimentos genuínos, uma vez que, a maior parte dos nossos obstáculos no presente resultam de uma infância e adolescência mal interpretadas, dolorosas, pouco dadas ao afeto, à compreensão e à consciência e respeito por nós próprios.

Ao identificarmos o que nos limita, encontraremos um universo de oportunidades. Para isso, é preciso conhecer-nos, saber o que nos magoa para darmos um novo sentido a esses conteúdos, entendermos que já passou e que podemos sempre construir um presente com mais satisfação. Seguidamente, tudo se torna mais fácil e gratificante para ser vivido a dois.

A pessoa que está ao nosso lado não existe para “enfeitar” a mesa de um restaurante, para servir-nos ou para dizermos que temos “alguém”. Devemos-lhe respeito, consideração, carinho, diálogo e cuidado, mesmo se entendermos que é tempo de terminar ou de mudar algo que não está bem na convivência diária. Só com esta responsabilidade pessoal é que poderemos ambicionar “voar” mais alto na construção de um amor verdadeiro.