Segundo a psicóloga espanhola Diana Martín: “O problema de ansiedade que o nosso filho pode ter não está isolado do ambiente familiar”.
A especialista lembra que, “a ansiedade é uma resposta natural do corpo e, sem ela, a nossa espécie não teria conseguido sobreviver. Precisamos dessa ansiedade natural para nos protegermos dos perigos, já que a mesma funciona como um alerta que nos coloca em fuga”.
No entanto, a psicóloga adianta que, “é comum que passemos por episódios de ansiedade ao longo da vida e, a infância e adolescência não são exceção, contudo, quando a ansiedade atinge um nível exagerado, torna-se prejudicial e exige medidas”.
No podcast Psicología Contigo, Diana Martin esclarece que, “existem sintomas que são mais clássicos na infância e na adolescência, mas a ansiedade é, em princípio, sempre adaptativa”. É uma resposta de luta ou fuga que o nosso corpo desencadeia quando interpreta que algo pode ser perigoso.
Explica ainda que, os conceitos de medo, fobia e ansiedade não são iguais. Embora seja comum que essa confusão apareça no contexto da psicoterapia infantil, é importante destacar as diferenças:
Um quadro ansioso é uma resposta a uma ameaça. É algo natural e esperado, mas quando é ultrapassado aparecem os transtornos.
Embora tenhamos uma visão muito negativa desses episódios, devemos compreender que eles são necessários. Sem essa resposta, não haveria evolução humana. Talvez nem existíssemos hoje como espécie, já que nos serviu em múltiplas ocasiões para escapar dos perigos ou enfrentá-los com sucesso.
O medo é uma emoção natural que, se atender a determinados parâmetros de acordo com o desenvolvimento da criança, é considerado normal. “É de se esperar uma criança que, até aos dois anos, tenha medo da separação dos pais ou, aos seis anos, tenha medo de seres imaginários”, esclarece Diana Martín. Quando o medo é excessivo, entramos no reino das fobias, completa.
No sítio A Mente é Maravilhosa afirma-se que, segundo algumas estatísticas, cerca de 7% das crianças e adolescentes entre os 3 e os 17 anos, apresentam ansiedade. Por sua vez, estima-se que entre 3% e 15% da população mundial tenha alguma fobia específica.
De acordo com a mesma publicação, todas as crianças em algum momento das suas vidas vão sentir ansiedade, contudo, a mesma pode tornar-se exagerada e preocupante. A sua origem é multifatorial e, segundo Diana Martin, está associada a fatores biológicos, genéticos, psicológicos e sociais, resumindo-se assim:
• Psicológicos: principalmente, as vivências e como lidamos com elas na infância. Tudo isso gera traços emocionais de traumas, seja do que vivenciamos, seja daquilo que não experimentamos;
• Biológicos: desequilíbrios nas concentrações de neurotransmissores, como serotonina ou dopamina, podem influenciar a regulação emocional. Também alterações na modalidade de resposta do sistema nervoso autónomo, principalmente na ativação do sistema nervoso simpático;
• Genéticos: há evidências de que existem genes associados ao desenvolvimento de transtornos de ansiedade e depressão. Existem também pessoas que são hipersensíveis ao stress devido a traços de temperamento que herdaram. Contudo, a genética não determina completamente pelo que, a interação com elementos do meio ambiente é crucial;
• Sociais: o ambiente familiar pode influenciar muito a forma de enfrentamento da criança. Os estilos educacionais que os adultos implementarem serão fundamentais. A superproteção e o apego evitativo estão associados à ansiedade extrema na infância. Pelo contrário, o apego seguro, com afeto e limites, seria protetor. Aqui também deve ser mencionada a rede social de apoio, incluindo amigos, completa a mesma psicóloga.
A ansiedade pode manifestar-se de diversas maneiras durante a infância. Os sintomas de ansiedade nas crianças variam e às vezes pode haver ou não uma expressão verbal. A Mente é Maravilhosa organiza as manifestações mais comuns da seguinte forma:
• Transtorno do pânico: é a forma aguda da ansiedade. Os sintomas aparecem repentinamente com manifestações físicas, como palpitações e falta de ar.
• Transtorno de ansiedade social: é o medo de situações sociais com outras pessoas. Geralmente, são crianças que não querem ir à escola ou que preferem não sair com os colegas por medo de julgamentos.
• Transtorno de ansiedade generalizada (TAG): é uma forma extrema e grave. As crianças apresentam múltiplos sintomas, como pesadelos, choro frequente, irritabilidade, dificuldade de concentração e falta de apetite.
• Transtorno de ansiedade de separação: é uma ansiedade necessária ao desenvolvimento do bebé. Geralmente, manifesta-se por volta dos 8 meses, quando a criança tem medo de estranhos e expressa desespero ao ser deixada sozinha ou perder de vista os pais. A persistência desse comportamento para além da idade pré-escolar deve ser abordada.
Destaca a mesma publicação que, os adolescentes podem ter dificuldades em controlar as emoções que vêm desde a infância. A adolescência é uma fase de labilidade emocional, por isso o risco de sofrer de transtornos mentais é maior.
Segundo a psicóloga Martín, muitos jovens não entendem o que se passa e a razão pela qual passam por tantas transformações e acabam por sentir-se mal com a situação. A mesma psicóloga explica que, as hormonas desempenham um papel importante no comportamento ansioso. O cortisol, molécula associada ao stress, está elevado no período da adolescência. Quando há excesso de cortisol, o processamento emocional e a capacidade de tomada de decisão são afetados.
Outro fator é a família. A primeira rede de contenção que deveria estar presente pode falhar. Uma família que proporcionou espaço de diálogo e uma base sólida de conexão desde a infância dá ao adolescente a oportunidade de enfrentar melhor os seus problemas. Pelo contrário, a ausência desses fundamentos favorece comportamentos ansiosos.
“Há adolescentes que não falam com os pais sobre questões de peso emocional porque a sua família não se interessou anteriormente sobre as emoções e aquilo que nos pode afetar de alguma forma, logo, os jovens acabam por não ter a quem recorrer e por sofrer muitas vezes, em silêncio e com muita angústia.
Diana Martin recomenda que os pais estabeleçam um espaço de diálogo, de conforto, carinho e compreensão, que se interessem pelos filhos, que não os julguem, que saibam aconselhar, apoiar, motivar e incentivar como forma de reduzir o quadro ansioso. Ao mesmo tempo, quando os pais estão atentos, torna-se mais fácil ajudar os filhos e recorrer a quem pode prestar algum apoio suplementar, como é o caso de um psicólogo ou psiquiatra, em situações mais graves.
Os pais também podem sugerir que o filho escreva o que sente, o que o preocupa, o que necessita ou considera que gostaria de ter e não tem. O jovem pode fazer essa escrita terapêutica no bloco de notas do seu telefone, por exemplo, e depois conversar com os pais sobre esses registos. Tais preocupações, quando não ultrapassadas com um diálogo positivo entre pais e filhos, devem ser suportadas por um profissional de saúde mental, mas é imperioso que, as principais figuras de referência acompanhem o processo, que encorajem, tentem compreender a fase pela qual os filhos estão a passar e que possam dar um forte suporte emocional, conclui a mesma psicóloga.
Lembre-se de que, uma pessoa com transtorno de ansiedade sofre muito, aproveita pouco a vida, as relações e aquilo que a rodeia, por isso, precisa mesmo de ajuda.
Em consulta, o profissional de saúde mental vai ensinar ao jovem, técnicas de relaxamento, a identificar o que sente e as causas desse desconforto, a conhecer-se melhor e a lidar melhor com aquilo que o angustia, além de lhe apresentar opções para que comece a pensar de uma forma mais positiva e motivadora.