São muitos os motivos que nos levam a ter de “começar do zero”, sendo que, cada pessoa terá certamente um percurso, uma razão específica e um contexto para contar.
“Começar do zero” é uma expressão encarada com medo e negatividade porque pressupõe “perder tudo” e ter de voltar a construir, mas nem sempre é assim.
Nem sempre nos damos conta de que, o que possuímos não é assim tão valioso e ainda menos positivo para nós, pelo que recomeçar é uma oportunidade de nos conhecermos melhor, de desafiarmos os nossos limites, de descobrirmos lugares, pessoas e de adquirirmos novas experiências e conhecimentos.
Há quem evite o recomeço pelos muitos medos que foi reunindo e pelos mitos de que “começar do zero” é uma prova de desistência e de fraqueza, mas isso não é assim. Mudamos quando efetivamente sentimos que chegamos ao nosso limite e que precisamos de seguir uma nova direção, então o que fica para trás já não nos fazia bem, certo?
Imagine a criança que foi educada num ambiente violento e que, quando chega à idade adulta se consegue libertar dos pais agressores. Será que é assim tão mau começar do zero? Será assim tão dolorosa a coragem de procurar um novo estilo de vida, novos amigos e uma nova família que a ame e respeite?
E o que dizer de uma mulher que foi vítima das agressões do marido e que tem a oportunidade de começar uma vida nova sem aquele sufoco, dor e sofrimento?
E o idoso que sofre maus tratos dos filhos e que tem a oportunidade de ir para um lar onde será bem acolhido, acarinhado e tratado, também será uma mudança para pior?
E o homem que continua escondido, mas que também pode ser vítima das agressões da mulher e que decide colocar um ponto final na sua vida conjugal e partir para um caminho novo e mais inspirador, também será uma derrota? Não será uma conquista ou uma vitória cortar com a dor, a acomodação e o sufoco de ser humilhado diariamente por alguém que o deveria amar e respeitar?
Construiu-se a ideia de que a mudança é negativa por implicar reunir força interior para fazer algo de novo, mas só temos medo porque não conhecemos bem as nossas potencialidades, não acreditamos em nós próprios, não fomos colocados à prova porque nos acomodamos à dor e ao sofrimento.
Quando ganhamos coragem de olhar para dentro de nós e encontramos uma pessoa forte, lutadora, que quer vencer na vida, que sabe que merece ser feliz e que tem o direito de fazer as suas escolhas, não olhamos para trás.
Acredite que, as pessoas se acomodam à dor porque nunca lhes foi dada a oportunidade de viver sem ela. Resignam-se aos maus-tratos porque lhes foi ensinado que é mesmo assim, não saem desse círculo de violência porque sempre foi assim, não ultrapassam a tristeza porque não encontram motivos para sorrir num cenário destrutivo, e não acreditam que é possível sorrir.
Para sair do sofrimento é preciso acreditar que a nossa vida tem alternativas, que é possível encontrar melhores pessoas, lugares mais inspiradores, gente que gosta de nós e que também sejamos capazes de amar.
O caminho torna-se tão mais fácil quanto sentirmos que essa vida não nos pertence e que merecemos muito mais. Depois, é preciso pedir ajuda às pessoas certas, seja nas autoridades policiais, seja nos organismos de apoio à vítima, uma vez que, na maior parte dos casos, os familiares “não se querem meter”, colocam-se ao lado do agressor por medo de o confrontar. Existe também a pressão social e a crítica para a qual temos de estar preparados, pois a maioria das pessoas resigna-se, mas vence quem é capaz de lutar, de não dar grandes explicações, de seguir em frente e de colocar o seu amor à vida acima da opinião dos demais.
E, não nos podemos esquecer que, na realidade, nunca começamos do zero. Temos sempre o nosso percurso, os nossos conhecimentos , a nossa experiência, a nossa força interior, os nossos sonhos, os nossos desejos, a nossa cultura, os valores em que acreditamos e, acima de tudo, levamos connosco aquilo que não queremos repetir, já que, é isso que nos dá força para seguir em frente.
Podemos “começar do zero” na família, no casamento, no emprego, na cidade, no país, nas amizades e até nas crenças, por isso, se a sua vida não é a que merece, pondere, analise, reúna os meios e peça ajuda, mas saia desse sofrimento! Lembre-se de que, a pessoa que mais deve desejar a sua felicidade é você mesmo e, muitas vezes, não é preciso fazer assim tanto, basta querer, encontrar as pessoas certas e… seguir o que sente!
Aos poucos, vai perceber o quanto o passado lhe fica distante, vai trabalhando as memórias, dando lugar a novas emoções e expressão à pessoa que realmente nasceu para ser, pois ninguém nasceu para ser maltratado e infeliz, se nos acomodamos é porque precisamos de “um empurrão” para que acreditemos mais em nós próprios e nas nossas forças e potencialidades.