Dicas

A importância de “abrir a porta à tristeza”

A importância de “abrir a porta à tristeza”
A importância de “abrir a porta à tristeza”  
Foto - Freepik
Afirma um provérbio chinês que,“Não se pode evitar que os pássaros da tristeza sobrevoem as nossas cabeças, mas podemos impedir que façam ninhos nos nossos cabelos.”

Num tempo em que se esconde a tristeza como se não existisse ou fosse necessária, importa esclarecer a importância dessa emoção para o nosso equilíbrio e saúde mental.
 
Segundo os psicólogos, a tristeza nem sempre é sinónimo de depressão. É um estado de alma sem uma aparente explicação que faz com que um dia seja diferente de outro, com que as coisas não tenham nem o mesmo brilho, nem o mesmo significado. “Estamos simplesmente tristes com os olhos na janela e a alma no bolso”, resumem afirmando que, a tristeza
 
é uma mensageira que é preciso saber entender, mas nunca um par de sapatos para calçar de forma permanente. Contudo, o que acontece atualmente é que não é permitido estar triste. Não existe espaço para esta emoção que age como um canal do próprio cérebro. Somos quase “obrigados” a não ouvi-la e fazer de conta que está tudo bem, a ganhar o Oscar de melhor interpretação do ano demonstrando que somos imunes às frustrações e à tristeza, regista um apontamento da revista: A Mente é Maravilhosa.
 
A tristeza é uma emoção inerente a todos os seres humanos e, de forma alguma, podemos ou devemos camuflá-la ou fazer de conta que não existe até porque isso é um engano perigoso e prejudicial.
 
Ainda que saibamos o quanto as pessoas lutam por parecer que está sempre tudo bem, publicam o seu melhor e apresentam sorrisos e a célebre frase: “Anima-te, isso vai passar, não ligues”, a realidade é que todos passamos por momentos de tristeza, por situações em que perdemos as forças, a esperança e em que o desânimo se instala e, contrariamente ao que se poderia pensar, isso faz-nos muita falta porque:
 

1. A tristeza é uma advertência

A tristeza manifesta-se sempre com uma perda de energia. Sentimos necessidade de recolhimento interior que costuma ser acompanhada de uma sensação de apatia e um cansaço indefinível.
 
Esta sensação física responde, na verdade, a um mecanismo de advertência do nosso cérebro que nos  obriga a fazer um distanciamento dos estímulos externos para nos conectarmos com o nosso interior. Precisamos de mergulhar dentro de nós e tentar compreender o que nos perturba, preocupa e que requer mais atenção.
 

2. Convida-nos a preservar “recursos”

Segundo o biólogo e fisiólogo, Bernard Thierry que dedicou vários anos a estudar as emoções negativas, “a tristeza provoca em nós um pequeno estado de ibernação para que possamos refletir sobre algo específico”. Com esse estado emocional, o cérebro “pede-nos” para nos desligarmos das demais exigências e que nos concentremos naquilo que nos inquieta para que o possamos resolver, no entanto, há pessoas que o ignoram e outras que exageram no estado de afastamento da vida diária, alerta.
 

3. A tristeza e o autocuidado

Para a psicologia, a tristeza não é uma emoção negativa, mas sim uma oportunidade para cuidarmos mais de nós, para pararmos um pouco e refletirmos sobre nós mesmos. Devemos então assumir o que sentimos, interpretar os pensamentos e tentar entender o que se passa dentro de nós. Conversar com alguém da nossa confiança ajuda muito, tal como escrever ou estar sozinho por alguns momentos.
 

4. A tristeza como desejo e inspiração

A tristeza oscila entre o desejo e a melancolia. É ausência de alguma coisa,  é confusão, colapso, vazio, solidão e até desespero. E, não temos de esconder ou disfarçar, temos de ouvir-nos e seguir a imaginação e a criatividade que a tristeza nos proporciona, sem medo de sermos frágeis, no entanto, não podemos prolongar essa emoção no tempo e alimentar a imaturidade emocional. Temos de entender a mensagem e reagir-lhe, sob pena de permanecermos nesse estado de apatia à espera que a situação se resolva por si mesma. Os psicólogos alertam que, muitas pessoas utilizam esta emoção para chamar a atenção dos demais ou para ficarem “eternamente” à espera que tudo passe e que se concretize a seu favor, «o que em nada ajuda a usá-la de forma correta», destacam.
 

5. A tristeza como estratégia para o nosso desenvolvimento psicológico

Na camada mais elevada das necessidades de Abraham Maslow está a autorrealização pessoal.
 
• Não podemos ignorar que, nessa pirâmide do crescimento psicológico, estão os princípios tão básicos como a própria autoestima e uma adequada força emocional.
 
• A pessoa que não é capaz de entender, esmiuçar e enfrentar as suas tristezas cotidianas é alguém que opta por essa desconexão que deixa em mãos alheias as próprias necessidades, a própria identidade.
 
Entender as próprias emoções e nos lançarmos como bons gestores dos nossos universos é uma contribuição fundamental para o nosso crescimento psicológico, por isso é importante «não associar a tristeza a termos como fragilidade ou vulnerabilidade, uma vez que, por trás de uma pessoa que identifica e que reage perante a sua tristeza, está “um verdadeiro herói”».
 
Assim, não temos de levar a tristeza para todo o lado e ainda menos divulgá-la amplamente porque isso não interessa a mais alguém do que a nós próprios, mas devemos reservar um tempo diário para nós, para ouvirmos o nosso “eu” interior, enfrentar a tristeza, admiti-la, perceber o que a provoca e reagir. Encontrar estratégias para resolver os problemas, aceitar aquilo que não tem solução, mas que pode sempre ser encarado numa nova perspetiva e animar-nos perante a vida, pois “tristezas não pagam dívidas”, mas não ouvi-la, paga-se muito caro.