Há momentos em que duvidamos de tudo, em que nos sentimos desmotivados e tristes, mas as crises existenciais são uma grande oportunidade de aprendizagem.
A psicologia define as etapas menos positivas pelas quais passamos e em que questionamos tudo e todos como uma espécie de depressão existencial. Certamente que todos já passamos por isso, mas a chave é aceitar que os momentos negativos existem e que podemos aproveitá-los para encetar processos de mudança interior que nos poderão conduzir a um novo despertar de forma a podermos construir uma nova realidade.
Questionar, colocar em evidência aquilo que somos e que sentimos e desligar-nos temporariamente do mundo digital, por exemplo, pode ajudar-nos a encontrar a nossa verdadeira identidade e a descobrirmos aquilo que realmente nos faz sentido, dizem os especialistas na área da psicologia.
Ao mesmo tempo, é fundamental que sejamos capazes de analisar aquilo que se passa, sem medo de mostrarmos a nossa vulnerabilidade, os nossos medos e dúvidas, uma vez que, será dessa maneira que encontraremos dentro de nós muitas respostas.
Mudar torna-se essencial quando estamos num modo de vida que não nos motiva, entusiasma e permite crescer , por isso, devemos encarar as etapas negativas como oportunidades para estudarmos mais, para aprofundarmos melhor um assunto e, acima de tudo, para nos conhecermos melhor.
Em linhas gerais, o que pode estar por detrás de uma crise existencial são estes fatores:
• Crise de identidade.
• Perder um ente querido.
• Conviver com uma doença.
• A presença de um transtorno de humor.
• A solidão.
• Passar por mudanças drásticas: perda de emprego, ruptura afetiva.
• Ter uma vida rotineira e perceber que sonhos e desejos não se realizam.
• Viver um período prolongado de crise, como aconteceu durante a pandemia de COVID-19.
• Pessoas com altas habilidades intelectuais são mais propensas a sofrer crises existenciais e, é de assinalar também que, estas crises ocorrem essencialmente em fases de transição como as diferentes etapas de vida, assumir a parentalidade, terminar um curso e entrar no mercado de trabalho, envelhecer, a saída de casa dos filhos, ter de contactar com alguma deficiência, entre outras possibilidades que exigem uma adaptação profunda a uma nova realidade e em que se assume que vamos viver algo incerto e que gera medo.
Carl Jung afirmava que, dedicamos uma boa parte da nossa vida a obedecer ao nosso ego e ao que os outros esperam de nós. À medida em que vamos amadurecendo, temos forçosamente de pensar por nós mesmos e por tomar as decisões que julgamos mais adequadas. É natural que tenhamos dúvidas e medos, mas “essa é a grande oportunidade que temos de conhecer o nosso eu autêntico” e saber exatamente quem somos e a razão pela qual sentimos e agimos de determinada forma.
Perante uma crise existencial, devemos pensar que se trata de um desafio onde podemos construir a nossa verdadeira identidade e uma nova forma de encarar o mundo em nosso redor, por isso, tenha em conta estas dicas poderosas dos entendidos:
1. Terapia existencial
A terapia existencial é uma abordagem que orienta a pessoa a tomar decisões significativas e a realizar mudanças que, devem estar em sintonia com os seus valores e com o seu propósito pessoal.
Irvin D. Yalom, mostrou na sua prática clínica que, este processo deve ocorrer em 4 áreas básicas que são: reformular um novo sentido de vida, superar o isolamento, recuperar a liberdade e enfrentar o medo da morte.
Os aspectos trabalhados são os seguintes:
• Combater a solidão e o isolamento através do contacto com outras pessoas mais positivas;
• Enfrentar pensamentos pessimistas e limitantes.
• Traçar novos significados vitais;
• Ajudar a superar a incerteza e os sentimentos de angústia.
• Promover a construção de uma vida mais criativa, livre e com propósito.
• A terapia existencial favorece uma abordagem mental mais flexível e positiva.
2. Defina-se como pessoa e o que espera da vida
Para superar uma crise existencial é preciso olharmo-nos ao espelho e tomar consciência de quem somos e o que queremos. É também essencial que aceitemos que essas crises surgem porque ainda não temos a nossa identidade bem definida e que nem sempre somos tolerantes e flexíveis connosco próprios porque passamos uma boa parte do nosso tempo a viver em função do que os outros esperam de nós, o que não permite que nos conheçamos bem e que nos fortaleçamos.
Para mudar de direção, é importante que tenha em conta estas linhas de orientação:
• Pergunte a si mesmo como gostaria de estar daqui a cinco anos.
• Escreva os seus pontos fortes num caderno ou pedaço de papel;
• Liste as suas paixões, sonhos e desejos de curto e longo prazo.
• Reflita se está a ser a pessoa que realmente quer ser;
• Registe aquilo em que é bom e de que se orgulha;
• Por fim, pense no que gostaria de mudar para que se possa aproximar do seu “eu autêntico”.
3. Reconecte-se com o que lhe dá sentido
Como apontou o psiquiatra Viktor Frankl, “o sentido da vida está em ter um porquê. É então que encontraremos um ‘como’. Se nos sentirmos livres e motivados, podemos gerar todas as mudanças necessárias para criar uma realidade muito mais nobre”.
A pedra angular para superar uma crise existencial é tomar consciência do que nos dá sentido aqui e agora e aceitar que, dificilmente passaremos pela vida sem encetar mudanças e que, quanto mais orientadas as fizermos, mais livres e felizes nos sentiremos.
4. Faça uma pausa para descobrir novas perspetivas
Para fazer este exercício de encontro pessoal, é essencial que se afaste temporariamente daquilo que lhe intoxica a mente como sendo influências negativas, pessoas pessimistas e que reclamam de tudo, redes sociais, notícias e outros conteúdos que, mal geridos, acabam por deitar-nos abaixo e por fazer-nos duvidar daquilo que somos e do que temos.
Concentre-se mais em si, deixe sentir as emoções que o sustentam, analise cada sentimento, cada pensamento e verá que, ao fim de algum tempo, vai encontrar um conjunto de respostas elucidativas e encorajadoras para iniciar essa mudança que se impõe, pois quando nos conhecemos melhor, passamos a selecionar e não a deixar-nos levar pelo que os outros querem.
5. Aceite as suas emoções para mudar comportamentos
Um estudo publicado na American Psychological Association, sugere que, as crises existenciais estão sempre relacionadas com o fim de um ciclo e com o início de outro e que, é nesse balanço que nos colocamos em causa e que podemos perder as forças. Assim, devemos registar que,
• As crises são acompanhadas de sentimentos de perda, deceção e tristeza que convém aceitar.
• O facto de estarmos a sentir algo de negativo não traduz que vamos permanecer nesse estado, mas sim que aprendemos a aceitar que a vida tem altos e baixos e que temos de assumi-los para podermos seguir em frente mais fortalecidos e que, na maioria das vezes, temos de mudar algo para cortar com esse sofrimento;
• Uma crise não se resolve permanecendo no mesmo lugar, supera-se ao traçar novos comportamentos depois de entender o que a nossa voz interna nos indica. Comece com algo simples como uma pequena mudança na rotina, na forma de pensar ou de agir perante uma determinada situação;
• Acredite que uma pequena mudança dará lugar a outra e que, ao fim de algum tempo, já terá uma nova direção para seguir. Siga aquilo que lhe dá entusiasmo, que o faz sorrir e que lhe dá vontade de continuar e de melhorar-se, pois isso indica que está no caminho certo.
6. Pratique a gratidão
Para superar uma crise existencial, convém fazer mudanças, traçar novas metas e, também, agradecer pelo que temos e que nos dá sentido. Não se esqueça de valorizar as pequenas conquistas, os gestos daqueles que ama e até dos desconhecidos, daquela pessoa que o surpreendeu positivamente ou da outra que lhe deu uma oportunidade de aprender algo novo. Agradeça diariamente três situações positivas pelas quais tenha passado e que o ajudaram a melhorar-se e a sentir-se melhor.
Não se esqueça de encontrar um equilíbrio diário entre o que já tem e aquilo que deseja conquistar, pois só assim saberá valorizar mais e melhor aquilo que é e o que tem.
Para finalizar, registe a importância de rodear-se de pessoas que gostam de si e por quem o leitor nutre sentimentos positivos, de estar com quem o entusiasma, inspira e valoriza, mas também de dar espaço para conhecer outras num qualquer ambiente, de forma livre e despreocupada. Viva cada sentimento em liberdade e preocupe-se cada vez menos com o que pensam a seu respeito ou esperam de si. Aprenda a gostar de si tal como é e a sentir-se bem com quem ama, concluem os psicólogos entendidos nesta matéria.