As pessoas que conseguiram reciclar o passado e dar-lhe um novo significado, tornam-se capazes de desfrutar de algo novo.
No entanto, sabemos que, na maioria dos casos, quem cresce num ambiente com características tóxicas, sente muita dificuldade em ajustar-se aos “padrões normais” de comportamento e acaba por sofrer muito com essa diferença, com as memórias dos maus-tratos, acabando, em muitas situações, por aceitar e resignar-se reproduzindo o que viveu.
Importa recordar que, é na infância que contactamos com o mundo pela primeira vez, em que desenvolvemos habilidades sociais e emoções positivas ou negativas mediante o tipo de educação e de ambiente familiar em que estamos inseridos. A boa ou a má qualidade da relação que estabelecemos com as nossas principais figuras de referência, dá lugar a um crescimento mais ou menos sadio. As crianças são verdadeiras esponjas do que assistem em casa e acabam por repetir os comportamentos que observam e que recebem dos pais, daí se falar tanto na importância de uma educação positiva.
Como as crianças são muito vulneráveis e sensíveis ao que vivem, quando fazem parte de uma criação tóxica, acabam por não conseguir proteger-se e por não saber que utilidade dar a esses contactos, o que pode determinar a forma como vão agir mais tarde e, especialmente na idade adulta.
Naturalmente que a criança não tem liberdade de escolha enquanto não atinge a maioridade, pelo que, só se pode esperar uma mudança quando essa pessoa sai de casa, é autónoma e constrói a sua vida. Com essa liberdade, é possível que trabalhe o passado, que recicle pensamentos perturbadores e que tome consciência do que viveu e daquilo que não quer nem para si, nem para os seus filhos. É aí que pede ajuda e que pode ocorrer uma mudança profunda, mas alertam os entendidos que, não se trata de um processo fácil.
Listamos então os principais prejuízos de ter crescido numa família tóxica e o que é preciso fazer para libertar-se:
1. Uma infância triste
Uma criança que cresceu numa família tóxica desenvolveu muitos medos, tristeza, arrisca pouco, sente-se sempre insatisfeita para consigo mesma e com os outros, tem pena de si própria, sente-se diminuída e, em muitos casos, com muita revolta em relação aos pais que lhe limitaram a felicidade e o bem-estar. É ainda comum que se sinta injustiçada por ter nascido numa família com tais características, que tenha vergonha do que ouviu, das ofensas e agressões que sofreu e que tema pelo seu futuro, pelo que dá-se pouco com medo de sofrer mais.
A procura de um psicólogo é o ponto de partida para que possa trabalhar estas emoções e memórias e ressignificar a sua existência. A partir daí e, aos poucos, a pessoa verá que tem valor, que não foi amada, mas que há sempre outras pessoas que a valorizam, desejam e que gostam da sua companhia.
2. Poucas habilidades sociais
Uma criança que se desenvolve num ambiente tóxico acaba por sofrer em silêncio, por desconfiar de tudo e de todos, por ter muitos medos e, quando passou por episódios de agressão física, tente a reproduzir o mesmo padrão nos outros, o que dificulta as relações que pretende estabelecer. Uma família tóxica normalmente também exige demasiado, critica excessivamente, humilha, ofende, agride emocionalmente, controla e é possessiva, o que é facilmente imitado e apreendido pelos filhos que, não conseguem lidar deforma forma saudável com os demais, seja na escola, seja nas atividades em que participam.
O recurso a um psicoterapeuta irá ajudar a pessoa a encontrar-se, a compreender as razões pelas quais age assim e a determinar escolhas mais interessantes, sadias e positivas para as suas relações.
3. Um ego exagerado
Os pais tóxicos nunca reconhecem os seus erros, não valorizam os filhos, não mudam de opinião porque “sabem sempre tudo” e “estão sempre acima dos outros” e acabam por transmitir essa forma de estar aos mais novos. Incentivam-lhes a competição, a humilhação face aos outros, exatamente como fazem em casa e, estas pessoas tornam-se insuportáveis e pouco acarinhadas na escola, no trabalho ou num grupo social. Estes pais não dão amor e carinho e exigem níveis de perfeição para que possam manter “a fachada”, pelo que, os filhos repetem o que aprendem em casa e, se não tomarem consciência disso, terão que enfrentar muito sofrimento ao longo do seu percurso. Naturalmente que é possível trabalhar estas questões na psicoterapia, basta que se queira melhorar e transformar o passado e pedir ajuda.
4. Fraca inteligência emocional
Os filhos criados numa família tóxica, por norma, conseguem responder com notas positivas aos desafios académicos, mas possuem fracas habilidades emocionais e de convivência com os demais.
Uma criação tóxica tem a ver com ter pessoas de referência ou próximas com uma inteligência emocional pouco desenvolvida, o que é altamente prejudicial e destrutivo, já que torna-nos vulneráveis e com muitas dificuldades em lidar com os problemas, em gerir as emoções e em encontrar soluções para os desafios da vida. Os filhos ficam limitados, sem saber o que fazer e a sofrer com uma enorme sensação de asfixia. Também há casos em que a pessoa “faz de conta” que está sempre tudo bem, que é forte e capaz de enfrentar tudo e todos, acabando por ver desaparecer amigos, colegas e cônjuge pela incapacidade de admitir erros e falhas e pela falta de vontade de corrigir e melhorar.
Estas habilidades aprendem-se e treinam-se diariamente, mas é preciso que saibamos identificar as nossas carências para que as possamos trabalhar.
5. Fazer aos filhos o que nos fizeram
Existe uma natural tendência para reproduzir o modelo educativo que herdamos dos nossos pais ou principais figuras de autoridade, pelo que, se não cortarmos com esse padrão, de forma mais ou menos consciente, acabaremos por fazer aos nossos filhos aquilo que nos fizeram, no entanto, os psicólogos alertam que não tem de ser exatamente assim. Qualquer um de nós pode inverter essa tendência desde que o deseje e que trabalhe nesse sentido. Contudo, é fundamental que saiba muito bem o que quer alterar, que tome consciência daquilo que o magoou para não repetir o mesmo e que crie alternativas mais positivas e sadias. Pode sempre solicitar a ajuda de um profissional para aliviar a tarefa pois, quando alguém cresceu numa família tóxica, sente que não pode fazer nada e que tem de ser assim, mas isso não corresponde à verdade. É sempre possível alterar e melhorar, temos é de lutar e esforçar-nos um pouco mais, sublinham os especialistas.
«Ainda que as pessoas que tenham passado por uma infância difícil tenham um desenvolvimento mais complicado, podem ressurgir e superar aquilo que lhes foi negado», evidenciam os entendidos.
Com esse trabalho, empenho e tomada de consciência do que se quer e do que não se deseja, aos poucos vai destacar-se muito mais o que a pessoa faz para melhorar do que aquilo que já viveu e sofreu e, é nessa fase que se sentirá cada vez mais livre, satisfeita e capaz de enfrentar novos desafios com uma nova atitude e forma de encarar a vida, mas é natural que não queira manter contactos próximos com quem lhe transmitiu esses valores erráticos e essa educação tóxica e que não queira os seus filhos no mesmo ambiente, concluem.