Comportamentos

Novos tempos exigem novas “regras” para o romance

 
Não se trata de um novo conceito, mas sim de uma nova forma de entender as relações.

 
Neste novo século, chega-se à conclusão de que é necessário atualizar a noção de amor e, ainda mais, a forma como cada parceiro entende um relacionamento.
 
Se no passado se acreditava na atração entre os opostos, na necessidade do homem ser “o sexo forte” e o “chefe de família”, os avanços tecnológicos e a evolução humana têm demonstrado que, o respeito pela individualidade de cada um é a base de uma relação bem sucedida.
 
Ninguém quer ser “mandado” por ninguém. Numa relação a dois, é fundamental que cada indivíduo se sinta confortável consigo mesmo e com o outro.
 
É importante que cada um tenha os seus próprios objetivos e que os consiga desenvolver ao lado de quem ama, tal como é essencial o prazer de se sentir em boa companhia; na presença de quem se ama e com quem é agradável estar nas mais variadas situações.
 
Mas afinal, o que mudou nas relações nos últimos anos?
 
Mudou a forma como cada pessoa deseja relacionar-se com outra. Alteraram-se os conceitos de vida a dois; passou-se da imposição, vitimização, dos dramas e da necessidade em estar com o outro, para dar espaço à liberdade de pensamento e ação. 
 
As pessoas estão juntas porque gostam uma da outra, porque se sentem bem uma com a outra e, a relação perdura enquanto esses sentimentos forem positivos.
 
Na base romântica, era quase que um imperativo que duas pessoas sofressem uma pela outra, que jurassem fidelidade e amor eterno. Estas promessas apenas alimentavam uma imposição social ou religiosa, enquanto que afastavam os parceiros das boas sensações e da concretização de desejos.
 
Com o acesso à informação e com a facilidade com que as pessoas se casam (e divorciam), é imperioso que uma relação seja uma opção consciente.
 
Nos nossos tempos, “ninguém é obrigado a estar com alguém”, muito menos fazer juras de amor eterno, razão pela qual os parceiros são responsáveis pelos seus compromissos, sentimentos e vontades. Todos sabem que, à partida uma relação pode ou não ser duradoura, que pode ou não ser prazerosa para ambos, e que a qualquer momento, tudo se pode desfazer na procura de uma empatia mais agradável com outra pessoa.
 
Esta liberdade emocional naturalmente acarreta mais responsabilidade, consciência e a procura de uma tomada de posição individual num relacionamento. Não é a sociedade quem apoia a relação, quem impede o seu fim ou quem escolhe os parceiros, logo cada um terá de se assumir como parte integrante do processo conjunto.
 
Também se aboliu a teoria das duas metades que formam “a bola de pingue pongue” e que levam à “relação perfeita.”
 
Nos nossos dias, uma relação é fruto da diferença entre as pessoas e da empatia que as mesmas geram no seio do casal.
 
Corta-se cada vez mais com a teoria de que, “o homem está sempre pronto para o sexo” ou que “o marido se caça pelo estômago”, sem esquecer que, “a mulher deixou de ser a fada do lar” e a “submissa às vontades do marido.”
 
Os homens desvalorizam o facto de uma mulher deixar de ser quem é em função do casamento, tal como “condenam” o desleixo por si mesmas, a chantagem para atrair o companheiro e, ainda mais rejeitam que alguém se vitimize para ter atenção. 
 
Neste contexto, o homem atual valoriza uma mulher com autoestima, que saiba preservar o seu papel e viver em “pé de igualdade” com o companheiro.
 
Atendendo a todas estas alterações, faz sentido criar novos “modelos” relacionais e compreender os novos papéis de cada membro do casal.
 
A ideia de uma pessoa “ser o remédio para a nossa felicidade”, que nasceu com o romantismo, está condenada ao fracasso.
 
A palavra de ordem deste século é a parceria. 
 
Segundo o site Resiliência Humana, “estamos a trocar o amor de necessidade pelo amor de desejo.” Eu “gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.”
 
O curioso nestas alterações e que ainda requer alguma reflexão, é o medo da solidão que parece ganhar forma com o tempo tecnológico.
 
Se no passado a solidão era contornada com um relacionamento mesmo que infeliz, neste tempo, a ausência de alguém parece ser um pretexto para procurar desenfreadamente alguém com quem se possa sentir acompanhado. Confundem-se amizades com relacionamentos e “quer-se à força” ter alguém porque se tem medo de estar só.
 
Neste sentido, os entendidos sugerem que se deve aprender a estar sozinho para que se consiga estar acompanhado. Quer isto dizer que, cada pessoa deve apreciar o valor “da sua própria companhia” nem que seja durante alguns momentos diários, pois  esse prazer em contactar com as sensações pessoais enriquece a relação a dois.
 
Alguém que gosta de estar consigo mesmo, valoriza muito mais uma boa companhia e, acima de tudo, torna-se muito mais afável, compreensivo, amigo e capaz de ouvir e de expressar também as suas emoções.
 
Estas pessoas não vão ter com alguém por necessidade de preencher “o vazio”, mas sim porque lhes é agradável desfrutar de bons momentos com essa pessoa. Ao mesmo tempo, quem se auto valoriza, reduz os níveis de ansiedade, de exigência, de pressão face ao outro e sabe lidar melhor com as expetativas face às outras pessoas.
 
A consciência pessoal é um requisito primordial para o sucesso de qualquer relação, seja ela amorosa ou de amizade. Quem gosta de estar sozinho, também aprecia estar com outras pessoas.
 
O controle da ansiedade é mesmo a chave para iniciar, para manter e para desfrutar de um relacionamento, já que permite selecionar melhor as companhias e deixar que os sentimentos “ditem” quem é a pessoa que “melhor se encaixa” na sua vida num determinado momento.
 
Fátima Fernandes