Saúde mental e a importância das carícias emocionais

 
Cada vez se fala mais no assunto e não é por acaso: “as carícias emocionais são o melhor alimento para a alma”.

 
Vivemos numa sociedade sem tempo para nós próprios e, ainda menos para os outros, ou melhor, para nos darmos gratuitamente aos outros.
 
Na posição de muitos especialistas na área do comportamento humano, esta falta de tempo dá lugar à isenção de afetos que se poderiam trocar nos mais variados locais e com mais pessoas, enquanto que, também “inspira” gente mal intencionada, ao uso e abuso de uma arte que pode resultar em manipulação e consequente troca por motivos pouco lícitos.
 
Este último facto deve-se à carência em que muitas pessoas vivem, o que as torna mais vulneráveis a “maus-tratos com fins pouco definidos e positivos”.
 
Referimo-nos naturalmente à chantagem, ao abuso, à exigência a qualquer preço e aos sentimentos de medo que isso pode provocar nas vítimas que, acreditando na bondade do agressor, acabam por entrar em caminhos muito complicados.
 
Para os especialistas, a vulnerabilidade a que muitas das nossas crianças estão sujeitas e a que assistimos também nos jovens e em muitos adultos, deve-se precisamente à ausência de carícias emocionais no seio das famílias e dos amigos.
 
Essa frieza com que se lida uns com uns outros, abre portas a uma carência que parece estar sempre desperta para os agressores que “farejam” fragilidades à distância.
 
E a solução para o problema é simples: é perceber que educar não é só satisfazer as necessidades materiais, muito menos preencher o vazio com brinquedos ou atividades. 
 
Educar é dar amor, é elogiar e incentivar com sinceridade. Tal consegue-se através do tempo para dialogar, a partir da troca de olhares, mas também e, sobretudo, através de uma relação empática entre pais e filhos, entre os demais membros próximos da família.
 
Crescer com amor é a base para a segurança e para que as nossas crianças e jovens se sintam mais preparados para enfrentar o mundo e os desafios quotidianos, mas isso tem de ser praticado com verdade; com gestos sinceros e um grau de afeto real para que se desenvolva. Para isso, também os adultos precisam de se sentir mais preenchidos e valorizados e naturalmente acariciados emocionalmente.
 
Eric Berne, médico psiquiatra e fundador da Análise Transnacional, definiu as carícias emocionais como “unidades básicas de reconhecimento que buscam, acima de tudo, proporcionar estimulação aos indivíduos”.
 
O mesmo médico especifica: “falamos de um tipo de transação, de um intercâmbio sábio onde se inscreve um tipo de linguagem que age como um verdadeiro alimento para esse delicado universo psico-emocional que nos sustenta e nos define”.
 
Mario Benedetti escreveu que, “tal como as cicatrizes, também as carícias ensinam”, pelo que, a par da autonomia e do desejo de solidão que todos sentimos, a necessidade de estar com os outros é também uma realidade inquestionável e indispensável.
  
As pessoas são seres sociais por natureza e, para sobreviver, para crescer em felicidade e segurança, precisam desse tipo de estímulos: as carícias emocionais.
 
Dizem os especialistas que, quanto mais falarmos acerca do assunto, mais despertos estaremos para fazer face a esta necessidade que explica muitas das frustrações que sentimos, bem como a grande fragilidade que muitas vezes toma conta de nós sem que a compreendamos muito bem.
 
Há pessoas tão afastadas das carícias emocionais que, chegam a acreditar não serem merecedoras das mesmas, que são dispensáveis ou que, simplesmente desconhecem tal realidade e importância.
 
Tal como há quem duvide deste complemento humano, há quem não esteja preparado para o desenvolver por falta de coragem ou medo, tal é a dimensão do afastamento emocional a que assistimos nos tempos atuais. As emoções assumem um papel tão secundário que, quando alguém as expressa, muitos duvidam das suas intenções!
 
Claro que existem manipuladores, mas estes só se aproximam porque percebem a ignorância das suas vítimas face às suas estratégias “manhosas”.
 
Depois, a falta de conhecimento e até de coragem em abordar o assunto, dá lugar à desconfiança despropositada e ao “fácil enrolo” em situações perigosas. Saber isso, já vale a pena continuar a ler este artigo e a abrir horizontes num sentido mais amplo!
 
Atendendo a esta perspetiva, pode afirmar-se que, as carícias emocionais estão em vias de extinção e que, merecem ser “consideradas como espécies a proteger”!
 
Para que tal aconteça, é preciso compreender que, o afeto, tal como o respeito, não precisa do contacto físico para ser demonstrado nem validado.
 
Ao mesmo tempo, é de considerar que, a carícia emocional, por exemplo, também é exercida no local de trabalho com aquele gerente que delega confiança num dos seus trabalhadores, que os reforça ou os valoriza com palavras de admiração, de respeito e de gratidão.
 
Segundo Berne, esse conjunto de requisitos constrói a unidade básica de todo o acto social que cada um de nós deveria saber aplicar.
 
A melhor forma de uma pessoa avaliar a honestidade dessas carícias emocionais, é sempre a partir do seu próprio reportório que, seguramente conseguirá perceber a intenção do outro. Não é por acaso que, a vida se aprende através das experiências e não somente a partir dos livros. É nas trocas sociais que se aprendem as emoções e se desenvolvem os valores da salutar convivência.
 
Naturalmente que, nesta sociedade com tantos conhecimentos modernos, as pessoas estão a perder a habilidade de comunicar com o olhar, de fazer um reforço verbal, de oferecer uma palavra justa num momento de necessidade. Esses gestos são substituídos em larga escala pelos “emoticons” que, nas redes sociais, são um suporte para quem não sabe expressar ou sentir algo e que estão em voga em todas as idades.
 
Na posição dos especialistas citados pelo Resiliência Humana, “deveríamos ser capazes de desenvolver uma ecologia emocional para alçar cenários mais sustentáveis em relação ao conhecimento, reciprocidade, empatia e respeito”.
 
Os mesmos entendidos alertam para a importância de reforçar as carícias emocionais também no ambiente escolar, uma vez que, os mais novos passam longas horas do dia com outros adultos e entre pares, mas também porque esses estímulos as fortalecem dentro e fora da escola.
 
No fundo, trata-se de mais um elemento essencial à educação que, pode acrescentar o meio familiar e, em muitos casos, até ser o único estímulo emocional dos mais novos.
 
Esta disponibilidade dos estabelecimentos de ensino pode ajudar a prevenir a tal vulnerabilidade de que falamos atrás, enquanto que promove relações mais pacíficas num ambiente que se quer educativo e afetivo para proporcionar uma melhor aprendizagem.
 
Não podemos passar ao lado das particularidades de muitas famílias, onde o afeto não existe ou não reúne as melhores condições para que a criança saiba avaliar a sua “qualidade”. Até por isso, faz sentido que a escola “se responsabilize” em parte pela educação afetiva num sentido enriquecedor e capaz de criar a comparação.
 
Também as empresas e os estados que empregam grandes números de funcionários, deveriam ter em conta a importância do incentivo e do bom ambiente profissional que o mesmo pode gerar.
 
Seria muito mais prazeroso trabalhar numa organização onde os funcionários se sentissem motivados e dignos de confiança dos seus superiores, onde houvesse o incentivo, o elogio e a gratificação merecida.
 
Importa ainda sublinhar a importância de cada indivíduo aprender a rejeitar a má palavra e tudo o que possam ser carícias emocionais negativas, pois para além de se proteger, está a mostrar ao outro o seu desagrado e a necessidade de melhorar a forma de tratamento entre ambos.
 
Para finalizar, é essencial ter em conta que, devemos ser capazes de pedir carícias positivas aos que nos rodeiam e, ao mesmo tempo, aprender a rejeitar as carícias negativas que, nem deveriam ter este nome, pois se são destrutivas, não podem ser consideradas como um ato de carinho.
 
Não se esqueça que, as carícias emocionais são gestos tão simples quanto a valorização do outro e que, esse reconhecimento pode ser representado através de um elogio, um agradecimento ou mesmo através de um conforto. Este gesto promove a validação da auto-estima dessa pessoa, assim como a sua cooperação na sociedade. Pode afirmar-se que é um prazer para quem elogia se o mesmo for recebido de forma positiva. Ambas as partes são beneficiadas.
 
É de anotar ainda que, nem tudo “são rosas” e que, as pessoas estão muito afastadas dos afetos, pelo que podem ser mais vulneráveis a algum tipo de manipulação psicológica. A hipocrisia também pode constituir uma ferramenta para exercer o poder ou para alcançar um objetivo.
 
Dizem os entendidos citados pelo Resiliência Humana que “nunca é demais recordar quais são os princípios e os benefícios das carícias emocionais, tendo em conta a sua honestidade e importância nas relações humanas.
 
“As carícias emocionais podem ser oferecidas em qualquer momento e em qualquer lugar.
 
Elas são económicas, fáceis de oferecer e dão origem a grandes afetos secundários”.
 
Ainda no RH se clarifica que, “as carícias emocionais são essenciais independentemente da classe social, da idade, do género e da raça”.
 
As carícias emocionais são “o melhor antídoto contra o medo, a frustração, as dúvidas e qualquer problema psicológico”.
 
As carícias emocionais promovem “a saúde mental e emocional, e são, sem sombra de dúvidas, o melhor alimento para a alma”, lê-se no Resiliência Humana.