Família
Pais inseguros “desenvolvem” filhos instáveis
Esta afirmação pode causar alguma perplexidade a muitos pais, uma vez que, ainda há quem acredite que os filhos “estão entregues à sua sorte e ao seu destino” e que, “o que melhor fizerem será um benefício para o seu futuro.”

 
Esta atitude quase de “descarte de responsabilidades” é muito comum e merece uma séria reflexão, já que ainda persistem dúvidas acerca do papel dos pais em muitas famílias.
 
Em primeiro lugar, o especialista Gerardo Castilho, alerta-nos para a importância da atitude dos pais, aqueles que são o principal referencial de valores desde o nascimento e que têm a séria responsabilidade de oferecer afetos, regras, educação e exigência ao nível dos comportamentos numa relação familiar para a vida.
 
Para este autor, “é das experiências que tiveram em casa que depende, em boa parte, que os filhos cheguem a ser pessoas sociáveis e capacitadas para a autêntica vida de amizade.”
 
Gerardo Castilho, professor de Pedagogia e Psicopedagogia da Universidade de Navarra e pesquisador do Instituto de Ciências da Família da mesma Universidade,enumerou um conjunto de alertas a ter em conta quando se é pai/mãe:
 
1. Pais que não sabem nada dos filhos e mal lhes dedicam tempo. O pouco tempo de convivência com os filhos deve-se, às vezes, a ausências prolongadas e frequentes do lar, de um dos pais ou de ambos. Em consequência, os filhos não vêem a casa como um lar, mas como uma simples residência, um hotel.
 
2. Pais dominadores, possessivos, autoritários, excessivamente severos e exigentes. Essas atitudes contribuem para tornar os filhos impulsivos e agressivos e, em muitos casos, para desenvolver uma personalidade insegura e instável. Todas estas características acarretam sérias dificuldades de adaptação aos grupos de brincadeiras e de estudo e à vida de amizade.
 
3. Pais superprotetores, que oferecem aos filhos mais ajuda do que eles precisam e tendem a resolver-lhes os problemas, estão a criar um compromisso afetivo na base da dependência, a incutir um amor mal-entendido, ou a conduzir à fraca opinião acerca do filho, já que não acreditam nas suas capacidades e força para se defenderem e para agirem de acordo com os valores apreendidos em casa.
 
A criança superprotegida torna-se excessivamente dependente dos outros: precisa da atenção, aprovação e ajuda quase contínuas das outras pessoas. Não desenvolve a capacidade de valer-se por si: não sabe iniciar atividades próprias nem lutar por vencer as dificuldades que se lhe apresentam. Nessas condições, a mentalidade egocêntrica própria da criança prolonga-se pela vida fora e não lhe permite contribuir com nada de valioso para os outros.
 
4. Pais permissivos, excessivamente indulgentes, que mimam os filhos e os deixam agir em função dos caprichos de cada momento. Esta atitude leva os filhos a torna-se egoístas e fracos, a esperar dos outros uma atenção contínua e a não saber aceitar a frustração de um desejo, levando-os a reagir de forma impaciente e agressiva. Uma vez que toda a convivência exige dar e não apenas receber, essas crianças dificilmente se adaptam à vida em sociedade.
 
5. Pais frios ou indiferentes para com os filhos, que não lhes dão mostras de carinho e afeto. Os filhos costumam agir, nas relações com os companheiros e amigos, com a mesma indiferença e frieza com que foram tratados em casa. Costumam ser crianças tristes, pouco cordiais, que fogem das situações de convivência. E quando tentam relacionar-se com os outros, encontram dificuldades porque lhes falta o elemento central da amizade: o afeto.
 
O problema é maior quando a indiferença dos pais se converte em rejeição, que nem sempre é aberta: às vezes, expressa-se em atitudes de insensibilidade ou de prepotência. Essa rejeição diminui a auto-estima dos filhos, a segurança em si mesmos, e pode dar lugar, mais adiante, a condutas anti-sociais que resultam da necessidade de "descarregar" a agressividade acumulada ou de chamar a atenção dos outros.
 
O mesmo professor apresenta um conjunto de atitudes paternas que, pelo contrário, favorecem a capacidade dos filhos para a convivência. Nesse sentido, é preciso reter que, o principal alicerce para essa conquista depende do exemplo, da forma como os pais se relacionam com os filhos e, acima de tudo, do que lhes exigem desde a tenra idade. “Não se pode exigir sem ensinar, sem mostrar através do exemplo e sem amar”.
 
Um casal que é estável e feliz terá muito mais possibilidades de oferecer aos filhos uma vida harmoniosa, estável e baseada em trocas saudáveis.
 
Logo aqui começa a necessidade de planear o nascimento de um filho e a avaliação das capacidades parentais para enfrentar o desafio que é exigente, com dúvidas, mas que tem de ser baseado numa relação afetiva. Nenhum filho pode ser estável e feliz se não for desejado, se não se sentir como parte integrante da família, se não lhe forem manifestados gestos e expressões afetivas sinceras.
 
Nenhum casal pode educar uma criança se não estiver preparado para o fazer, se não sentir esse desejo e se não encontrar a necessária maturidade para aceitar o desafio.
 
Segundo Gerardo Castilho, “está mais do que comprovado que, se as relações familiares são adequadas, os filhos conseguem adaptar-se muito mais facilmente à convivência social fora de casa.”
 
Reforçando o que é essencial para o bem-estar e equilíbrio do ser humano, o mesmo investigador clarifica, “não basta o amor teórico ou abstrato; os filhos precisam de expressões concretas desse amor dos pais todos os dias. Precisam de afeto e carinho no relacionamento pessoal. Os pais afetuosos e cálidos ajudam os filhos a ter confiança em si mesmos e a relacionar-se com os outros de forma aberta e espontânea.”
 
E mais uma vez surge o alerta: “o carinho com os filhos não deve significar falta de exigência. Precisamente por serem queridos é que devem ser exigidos de maneira progressiva. Com efeito, as crianças que não se sentem exigidas pelos pais consideram-se menos queridas, já que recebem menos atenção. 
 
O carinho aos filhos deve levar, isso sim, a uma exigência compreensiva, isto é, proporcionada ao que se pode pedir a cada filho em cada momento. É preciso, portanto, que os pais sejam ao mesmo tempo exigentes e compreensivos, o que, evidentemente, não é fácil. Na prática, diante dessa dificuldade, os pais costumam polarizar-se numa dessas atitudes, de forma que a compreensão sem exigência cria pais permissivos, e a exigência sem compreensão cria pais autoritários.”
 
Baseado em estudos publicados, Gerardo Castilho acrescenta no seu apontamento: “Lieberman verificou que as crianças pequenas que se sentiam queridas pela mãe eram melhor aceitas pelos companheiros e participavam mais nas atividades comuns na escola.”
 
Winder e Rau descobriram que os pais das crianças mais "sociáveis" tinham duas qualidades: eram muito pouco agressivos e proporcionavam-lhes muito apoio e reforço na sua conduta ("reforço" no sentido de que valorizavam e premiavam os comportamentos positivos dos filhos).
 
Neste sentido, o psicólogo e professor universitário de Navarra sublinha, “se houver amor, haverá também aceitação de cada filho. A aceitação começa pelo desejo de que o filho chegue a existir, casais que têm um filho por falha dos métodos contraceptivos dificilmente conseguirão criar esse clima em que todo o filho que vem ao mundo se sente desejado acima de tudo pelos seus pais.”
 
A aceitação implica também “extravasar esse orgulho - com gosto, não como algo que atrapalha - os cuidados de que cada filho necessita.”
 
Os pais devem estabelecer uma relação ardentemente afetuosa com cada um dos filhos e fazê-los ver que todos eles são "importantes" na vida da família. Comprovou-se que a criança aceite pelos pais "é geralmente cooperativa, sociável, amigável, leal, emocionalmente estável e simpática"; e que "encara a vida com confiança", realça Castilho.
 
Para Gerardo Castilho, um dos principais aspetos a ter em conta quando se pensa em ser pai/mãe é a maturidade para o assumir. “Há diferentes tipos de aceitação dos filhos por parte dos pais em função do amadurecimento emocional destes. 
 
Pais emocionalmente maduros aceitam o filho como um ser autónomo e capaz de participar ativamente da vida familiar, ao passo que pais emocionalmente imaturos tendem a identificar-se tanto com o filho, que acabam por confundir os papéis e não saber qual a conduta que cada um deve assumir. É importante que os pais concedam a cada filho uma liberdade razoável, proporcionada à sua idade. 
 
Quando se estimula a conduta autónoma dos filhos, estes acabam por se tornar ‘mais habilidosos’, cooperativos, independentes e adaptados às situações sociais".
 
Acreditando que um irmão, seja ele natural ou adotivo faz bem ás crianças, Gerardo Castilho concluiu, “verificou-se que isso contribui para que os filhos amadureçam mais cedo e sejam mais abertos aos outros.”