Curiosidades

O que a música pode revelar a seu respeito

 
A música faz parte das nossas vidas e ajuda-nos a libertar as emoções.

É capaz de nos alterar um estado de alma, de nos acompanhar nas mais diversas situações e, segundo os cientistas, até consegue denunciar o nosso estilo de apego num relacionamento.
 
Tendo por base alguns trabalhos de investigação realizados recentemente, percebeu-se que, a música pode ser um reflexo da idade, estilo cognitivo, valores e traços de personalidade.
 
Alaei et al. (2022), levou a cabo dois estudos com o objetivo de compreender até que ponto as diferenças individuais na segurança do apego estão associadas às letras das músicas favoritas das pessoas.
 
Para introduzir o tema, faz sentido lembrar os tipos de apego existentes:
 
Ansioso: Pessoas que procuram muita segurança nas suas relações porque sentem muito medo de ser rejeitadas.
 
Evitativo: São pessoas que evitam os afetos porque consideram que as relações as podem vir a magoar. De um modo geral, são pessoas pessimistas e que sofrem por antecipação, pelo que não se dão emocionalmente.
 
Misto: Este tipo de pessoa apresenta expectativas confusas  que oscilam entre “pegajosas” (ansiosas) e “frias” (evitativas).
 
Confiante: É um tipo de perfil que confia na pessoa que está ao seu lado, é uma pessoa aberta, que comunica com facilidade o que sente e o que pensa e, por norma, vive relações duradouras e saudáveis.
 
Como resumo dos estudos realizados, os investigadores que pediram aos participantes para votarem no seu estilo de música favorito, registaram as letras das melodias e traçaram uma relação das mesmas com o estilo de apego e, o resultado foi este:
 
• Pessoas com apego evitativo preferem músicas com letras evitativas.
 
• Os evitativos desfavorecem letras com conteúdo de apego seguro quando os seus níveis de apego ansioso são baixos.
 
• Participantes com apego ansioso desfavoreceram músicas com letras de apego seguro quando  os seus níveis de apego evitativo eram baixos.
 
• Alguns dos traços de personalidade dos participantes também previram os estilos de apego das suas músicas favoritas: pessoas neuróticas e conscienciosas preferiam letras mais ansiosas, enquanto que as  pessoas mais abertas preferiam letras menos confiantes.
 
Num segundo estudo, os investigadores codificaram a narrativa das melhores músicas entre 1946 e 2015 que falavam de alguma forma sobre apego. A ideia era saber que evolução havia ocorrido ao longo do tempo.
 
Os resultados indicam que a música popular recente (1990-2015) contém mais conteúdo de evitação e letras menos confiantes em comparação com a música popular antiga (1946-1965).
 
De acordo com a coordenadora do trabalho, «As letras da música popular acompanham paralelamente as tendências sociológicas de cada tempo, pelo que, as pessoas que valorizam a independência em detrimento da dependência dos outros e se sentem mais isoladas, ouvem mais recorrentemente esse tipo de música, diz Alaei.
 
O declínio da intimidade, o aumento do individualismo e a desconexão social característica da cultura ocidental são expressos em narrativas cada vez mais elusivas e menos seguras, completa.
 
Tendo em conta o seu estilo de apego, os participantes no estudo, permitiram fazer esta organização:
 
Evitativo
• Beyoncé, Irreplaceable.
• Chris Brown, Say Goodbye.
• N’Sync, Bye Bye Bye.
• Michael Jackson, Billie Jean.
• TLC, No Scrubs.
• Rihanna, Take a Bow.
• The Weeknd, The Hills; Heartless.
 
Ansioso
• Adele, Someone Like You.
• The Police, Every Breath You Take.
• Miley Cyrus, Wrecking Ball.
• Adele, Hello.
• U2, One.
• Seether, Broken.
• No Doubt, Don’t Speak.
• Bruno Mars, When I Was Your Man.
• Drake, Hotline Bling.
 
Seguro
• Sonny & Cher, I Got You Babe.
• Whitney Houston, I Will Always Love You.
• The Beatles, Love Me Do.
• Ed Sheeran, Thinking Out Loud.
• Plain White Ts, I Love You.
• John Legend, All of Me.
• Michael Bublé, Haven’t Met You Yet.
• Beach Boys, Wouldn’t It Be Nice.
• Bryan Adams, (Everything I Do) I Do It for You.
• Etta James, At Last.
• Justin Bieber, Holy.
 
Misto
• Carrie Underwood, Before He Cheats.
• Gotye, Somebody that I Used to Know.
• Taylor Swift, Bad Blood.
• Sam Smith, I’m Not the Only One.
• Ne Yo, So Sick.
• Bonnie Raitt, I Can’t Make You Love Me.
• Adele, Rolling in the Deep.
• Rihanna ft. Drake, Work.
• Eminem ft. Rihanna, Love the Way You Lie.
 
Em conclusão, a investigadora sublinha que, «as letras das músicas que mais ouvimos e de que mais gostamos também se associam à relação amorosa que vivemos. Muitas vezes, há problemas que não conseguimos identificar, mas que a música nos ajuda a compreender, é preciso é que estejamos atentos e que tentemos perceber a razão pela qual essa música nos faz tanto sentido».
 
De certa forma, a nossa música favorita pode também mudar de acordo com a fase de vida que estamos a viver, com o que estamos a sentir, para além de ser também um reflexo do nosso passado, o importante é que procuremos entender a relação entre os sons favoritos e aquilo que realmente estamos a sentir.
 
É natural que, quando nos sentimos felizes com alguém, que ouçamos temas distintos daqueles que ouvimos quando estamos a sofrer ou sozinhos e que, nas diferentes etapas da nossa vida também tenhamos músicas preferidas, temas que deixamos de ouvir e até outros de que passamos a gostar menos, evidencia a mesma autora.
 
Nesse sentido, se prestarmos atenção às letras que ouvimos, podemos descobrir muito a nosso respeito e sobre a fase que estamos a viver, facto que nos pode ajudar a libertar emoções e a conhecermo-nos melhor, conclui.
 
Fátima Fernandes