Comportamentos

O cérebro precisa de disciplina

 
É cada vez mais comum ouvir falar em falta de motivação e na necessidade de encorajar as pessoas para que sejam mais ativas, produtivas e profissionais. “Precisamos de motivar as crianças para a escola, para a alimentação, para os cuidados de higiene, etc.” Caso contrário, “não há força que as empurre para fazer aquilo de que não gostam”, desabafam os pais.

 
Por seu turno, a maioria dos adultos sabe que, embora não se tenha debruçado o suficiente sobre o tema, em muitos casos, se habituou a nem pensar muito bem nas motivações que os levam a trabalhar diariamente, a cuidar da casa, dos filhos e a abdicar de momentos de lazer. Desde a infância que a escola era um dever, ajudar em casa fazia parte das responsabilidades diárias e, nem se questionava se havia ou não vontade de realizar as tarefas…
 
O que é que mudou nas últimas décadas?
 
São cada vez mais os especialistas que se referem à falta de disciplina como justificação para a falta de organização, responsabilidade e sentido de missão. Numa frase, a ausência de disciplina dá lugar à falta de motivação, de interesse e reduz a capacidade de luta.
 
Quando nos deparamos com a falta de motivação das crianças e jovens, devemos então repensar na qualidade da disciplina que transmitimos aos nossos filhos, já que,  “a seguir ao amor, a disciplina é a segunda dádiva mais importante que os pais devem dar à criança. (Brazelton, 1996). “Sem disciplina, o ser humano precisa de uma motivação externa permanente.”
 
Nunca é demais recordar que, “a palavra "disciplina" deriva de "discípulo" que, por sua vez, significa instruir, educar, treinar e aplicar o que se aprende.”
 
Além de significar, em sentido académico, matéria, aula, cadeira ou cátedra, a palavra disciplina também é utilizada para indicar, em educação, a disposição dos alunos em seguir os ensinamentos e as regras de comportamento.”
 
Para os investigadores, não há dúvida de que, a falta de motivação está diretamente ligada à falta de disciplina, o que pode traduzir que, as crianças terão hábitos mais orientados se os pais e educadores lhes transmitirem essa noção de organização da vida diária.
 
“A falta de disciplina conduz à preguiça, ao arrastamento das tarefas, à falta de responsabilidade, de rigor e a um estado constante de desmotivação para com a vida, para com a aprendizagem, para com os outros e para consigo mesmo.”
 
Disciplinar é ensinar e não castigar e requer tempo e paciência, pois é preciso ensinar e esperar os resultados. Não desistir porque se sabe que esse é o caminho e que, mais cedo ou mais tarde, todos vão colher esses frutos.
 
A disciplina tem mesmo de partir dos pais. As crianças precisam de limites. Quando “desafiam” os pais com birras, mau comportamento, falta de motivação e daí por diante, os mais novos estão a dizer aos adultos que não sabem os seus limites; não sabem o que fazer e como modificar o seu comportamento. Logo, cabe aos progenitores essa atitude construtiva que os filhos vão “agradecer” mais tarde. 
 
Definir regras e tentar cumpri-las diariamente, bem como punir os comportamentos que não podem continuar, são dois alicerces básicos que não podem faltar na educação de uma criança.
 
Com a disciplina surgem as regras  que mais não são que normas de conduta em sociedade (utilização de espaços públicos, boas maneiras, respeito pelos pertences dos outros etc.)
 
A disciplina tem a ver com a imposição de limites, internos primeiro e depois externos. Tem de começar no momento do nascimento do bebé e está intimamente ligada à aprendizagem das regras sociais (quem não tem limites não tem regras). Os limites orientam a criança e “dizem-lhe” até ela pode ir.
 
É essencial ter em conta que, uma criança que recebe limites firmes e carinhosos durante os primeiros anos de vida, desenvolve padrões de comportamento e de conduta fundamentais para a manutenção de uma vida saudável em comunidade.
 
Se, pelo contrário, há uma ausência desses limites, as crianças começam a ficar “mimadas”, desmotivadas, infelizes, insatisfeitas e “sem vontade” para as tarefas diárias e para a própria vida.
 
Nunca é demais recordar que, a disciplina é a base do autocontrolo, permite reconhecer os impulsos e ajustá-los às mais variadas situações. Ao mesmo tempo, uma criança disciplinada pondera antes de agir, antes de ferir os outros e inclui as demais pessoas em seu redor.
 
A disciplina também permite compreender os sentimentos dos outros: compreender as suas causas, preocupar-se com aquilo que os outros sentem e reconhecer o efeito que os seus atos assumem sobre os demais. 
 
Ao mesmo tempo, a disciplina ajuda a criança a desenvolver um sentido de justiça e a motivação para se comportar de forma justa nas mais variadas situações.
 
Caso não fossem motivos suficientes para apostar na disciplina, importa reter que, a mesma está ligada ao altruísmo. A descoberta da alegria de dar, e até de fazer sacrifícios pelos outros seres humanos, surge precisamente de uma pessoa disciplinada. Essa é a mesma personalidade que tem tempo para dar e receber afetos, que se organiza no quotidiano de forma a ter tempo para as suas responsabilidades e atividades de lazer, já que tem o cérebro estruturado para a necessidade de dar resposta aos seus compromissos.
 
Atendendo a esta necessidade, torna-se urgente que os pais compreendam a importância de ensinar, transmitir valores, limites e regras aos mais novos para que, mais tarde, possam conviver com jovens e adultos felizes, equilibrados e bem formados.
 
Também não menos importante e, cada vez mais apontado pelos investigadores, está a relação direta entre a disciplina e o sucesso profissional, pois alguém que se organiza, que se relaciona bem com os outros, mais facilmente abre as portas da realização pessoal. A disciplina leva ao cumprimento de horários, à consciência do prejuízo que se causa aos outros com atos negativos e, ao mesmo tempo, à capacidade de organização diária. Uma pessoa disciplinada enquadra-se mais facilmente numa qualquer organização, empresa, escola ou qualquer espaço onde desenvolva uma atividade.
 
Um adulto disciplinado, proporcionará o desenvolvimento desses valores aos que o rodeiam e conquistará o reconhecimento e dos demais, pois os seus atos refletem-se no quotidiano.
 
A disciplina está associada à capacidade de aprender, de desenvolver, de corrigir e de manter a mente viva e ativa.
 
Fátima Fernandes