Sociedade

Melhore a sua personalidade e agarre a vida com confiança!

 
Sentirmo-nos confiantes no dia a dia é sempre um desejo que reside nas profundezas do nosso Ser.

 
Apesar dessa necessidade permanente, nem sempre sabemos qual o melhor caminho a seguir para que tal se concretize.
 
Enrique Rojas, psiquiatra espanhol especializado em temas como a ansiedade e a depressão, apresenta algumas dicas no seu livro “Quien eres” que podem ser uma preciosa ajuda.
 
De acordo com este especialista, a fórmula para a auto-confiança e felicidade humana, reside na capacidade individual de encarar a realidade e de a tornar acessível a si mesmo. Quer isto dizer que, evitar tudo o que nos confunda ou nos remeta para uma imaginação sem sentido é, desde logo, a base para agir de forma mais confiante e até interessante.
 
Encarar a vida tal como é, analisar as situações e as pessoas ao nosso redor, é o primeiro grande passo para agirmos em segurança no mundo.
 
Ao mesmo tempo, Enrique Rojas não tem dúvidas de que, o conhecimento é o alicerce para todo este processo, uma vez que, nos prepara para antever as situações e nos remete para as melhores respostas.
 
Neste ponto, a responsabilidade pessoal pelos atos, assume um papel de enorme relevância, já que não deixa margem para dúvidas, nem dá lugar a equívocos que nos podem fazer sofrer e causar instabilidade.
 
Neste contexto, não se pode deixar de referir a importância da maturidade, já que é ela quem nos permite viver com mais confiança e lucidez.
 
Enrique Rojas explica que, “a personalidade é a soma dos padrões de conduta reais e potenciais e é determinada por três fatores: a herança (o nosso património genético, aquilo que herdamos dos nossos pais), o ambiente (aquilo que nos cerca) e a experiência de vida (a biografia de cada um)”.
 
Para o mesmo psiquiatra, “a personalidade é a marca própria e específica de cada um. O cartão de visita. Noutras palavras, a personalidade é uma organização dinâmica, em movimento, em que confluem os aspetos físicos, psicológicos, sociais e culturais de um indivíduo”.
 
Desta forma, considera-se que, uma pessoa é imatura quando “é alguém que vive a meio caminho”, ou seja, “com uma psicologia incipiente, incompleta, que não está bem acabada e que tem muitos pontos negativos, mas que pode mudar, melhorar e tornar-se mais sólida, com a ajuda de um psiquiatra ou de um psicólogo”.
 
Sublinhando a importância que a maturidade assume na felicidade do ser humano, Enrique Rojas especifica, “tentarei sistematizar os ingredientes principais da imaturidade, para que o leitor possa perceber um tema tão complexo e, ao mesmo tempo tão crucial para a melhoria da qualidade de vida”.
 
Para o psiquiatra, é na conquista da maturidade que reside o verdadeiro valor da vida, a capacidade para desenvolver uma personalidade consistente e capaz de estar à altura das mais variadas situações e desafios, bem como despertar para um modo de vida mais ajustado à sua idade e logo, mais prazeroso e equilibrado.
 
Assim, aqui está o resumo desses pontos essenciais trabalhados por Enrique Rojas e disponibilizados no seu livro, que ilustra a posição do investigador acerca do tema. Para o autor, estes dez pontos explicam o que se passa com muitas pessoas que não se encontram a si mesmas, que se perdem em desculpas para não viver e não sentir na sua plenitude, mas que podem ser melhorados com apoio técnico e determinação pessoal.
 
Uma pessoa que não é confiante e feliz, seguramente que tem alguns destes pontos por melhorar. Ora faça a sua análise!
 
1. Desfasamento entre a idade cronológica e a idade mental. É uma das manifestações que mais chama a atenção logo nas expressões do indivíduo. Não esqueçamos que há pessoas que amadurecem cedo e outras que levam mais tempo, e isso pode interferir um pouco na observação.
 
2. Desconhecimento de si próprio. Conhecer-se a si próprio era uma das normas do herói grego. No templo dedicado ao deus Apolo, em Delfos, havia a inscrição: Gnothi Seauton, “conhece-te a ti mesmo”. Trata-se de ter claro que aquilo que devemos estudar com mais afinco somos nós mesmos, temos de saber quais são as nossas limitações e as nossas atitudes. O conhecimento dessas realidades é como que a carta de navegação que nos ajuda a guiar-nos para uma vida adequada.
 
3. Instabilidade emocional. A instabilidade emocional manifesta-se em mudanças do estado de ânimo: o sujeito passa da euforia à melancolia de um dia para outro ou mesmo dentro de um mesmo dia. É preciso distinguir essa variação dos chamados transtornos bipolares. O imaturo é desigual, variável, irregular, os seus sentimentos movem-se e balançam como um pêndulo, de maneira que ninguém nunca sabe o que esperar dele. Essa fragilidade é um traço bem característico da imaturidade. O seu estado de ânimo pode ser representado pelos dentes de uma serra, uma espécie de montanha russa cheia de oscilações.
 
4. Pouca ou nenhuma responsabilidade. A imaturidade tem níveis, como qualquer outro facto psicológico. A palavra “responsabilidade” vem do latim respondere, que significa “responder”, “prometer”, “satisfazer”. Estar na realidade é ter consciência das próprias circunstâncias imediatas – o hoje e o agora –, que são inescapáveis e que ninguém pode menosprezar.
 
5. Pouca ou nenhuma perceção da realidade. A captação incorreta de si próprio e das circunstâncias leva o sujeito a ter um comportamento inadequado nas suas relações intrapessoais (desarmonia consigo próprio) e interpessoais (não sabe lidar com os outros, não sabe estabelecer distâncias e proximidades).
 
6. Ausência de um projeto de vida. A vida não pode ser improvisada. É preciso uma certa organização, um esquema de planeamento do futuro. E os três grandes temas do nosso projeto de vida devem ser: o amor, o trabalho e a cultura. E o sujeito imaturo não assume seriamente nenhum dos três. Não se vive sem amor; o amor deve ser o primeiro motor da vida, que impulsiona e dá força aos outros dois. Do nosso comprometimento com esses três grandes temas, brota a felicidade, suma e compêndio de uma vida coerente.
 
7. Falta de maturidade afetiva. É preciso compreender o que é o amor e vê-lo como a vértebra da nossa vida sentimental. É o amor que dá sentido à vida. Mas não há amor sem renúncias. Além disso, é preciso ter a consciência de que ninguém é absoluto para o outro. Não há amor eterno; ele só existe nos filmes, nas canções da moda e na cabeça das pessoas imaturas. O que, sim, existe é o amor trabalhado a cada dia. Amar não significa ter sentimentos doces, mas voltar-se juntamente com o outro para as pequenas realidades quotidianas. No meu livro “Quién eres?”, descrevo a maturidade afetiva como uma dimensão à parte, com características próprias e específicas. Só gostaria de sublinhar uma coisa: como é fácil apaixonar-se e como é difícil manter-se apaixonado! Assistimos hoje a uma verdadeira socialização da imaturidade afetiva.
 
8. Falta de maturidade intelectual. A inteligência, assim como a afetividade, é outra das grandes ferramentas da psicologia. Há muitas formas de inteligência: teórica, prática, social, analítica, sintética, discursiva, matemática, analógica, intuitiva e reflexiva…Mas façamos uma ideia clara: uma pessoa é inteligente quando sabe focar um tema, fazer raciocínios e juízos adequados sobre a realidade, quando é capaz de formular um conjunto de soluções exequíveis e positivas para problemas concretos. 
 
Na linguagem mais moderna da psicologia cognitiva, inteligência é saber receber a informação, codificá-la e ordená-la corretamente a fim de oferecer respostas válidas, coerentes e eficazes. Nesse campo, as manifestações de imaturidade são ricas e variadas: falta de visão e planeamento do futuro; hipertrofia do presente e exaltação do instante; falta de justiça nas análises pessoais e gerais; sérias dificuldades para racionalizar os factos e aplicar-lhes um certo espírito cartesiano. A vida é como um viagem e por isso é importante saber aonde se quer chegar.
 
9. Pouca educação da vontade. A vontade é uma jóia que enfeita a personalidade do homem maduro. Se é frágil e não foi temperada para uma luta constante, transforma o sujeito num tipo débil, mole, volúvel, caprichoso, incapaz de propor-se a objetivos concretos, já que tudo se desfaz com o primeiro estímulo que vem de fora e o faz abandonar a tarefa que levava a cabo. É a imagem do menino mimado, que é digna de pena: levado, arrastado e tiranizado por aquilo que é mais gostoso, aquilo que o corpo pede no momento. Não sabe dizer “não”, fazer renúncias. Um menino estragado, paparicado, malcriado, que se dobra diante de qualquer exigência séria, que nunca superará as suas próprias possibilidades. Um ser que aprendeu a não se vencer, mas a seguir os seus impulsos imediatos. Por essa via, tornou-se um sujeito volúvel, inconstante, leviano, superficial, frívolo, que se entusiasma facilmente com algo para abandoná-lo logo que as coisas ficam minimamente difíceis.
 
E isso acarreta outras consequências: o sujeito apresenta baixa tolerância às frustrações, é um mal perdedor, pois tem pouca capacidade de superar as adversidades uma vez que não está acostumado a vencer-se em quase nada; e há também uma tendência a refugiar-se num mundo fantástico a fim de escapar da realidade.
 
10. Critérios morais e éticos instáveis. A moral é a arte de viver com dignidade, de usar corretamente a liberdade, de conhecer e pôr em prática aquilo que é bom. Na pessoa imatura tudo está preso por alfinetes que se soltam facilmente. A moda, a permissividade, o relativismo pautam a sua vida. Ele segue os vai e vens das novidades sem nenhum espírito crítico.
 
Enrique Rojas não tem dúvidas de que “a maturidade é uma das pontes levadiças que conduz à fortaleza da felicidade e é resultado de um trabalho sério e paciente de perder e agregar, de polir, de limar, de procurar que a nossa forma de ser seja como uma pedra dessas que vemos nos rios que quase não têm arestas”.
 
Com empenho e consciência do que nos falta, é possível melhorar estes pontos que nos impedem de seguirmos confiantes no mundo, ressalva o mesmo especialista.
 
Ninguém está condenado a ser imaturo, mas sim convidado a ultrapassar essa carência com um trabalho diário e orientado para uma visão mais consistente de si próprio.
 
Enrique Rojas reforça a importância do esforço para aceitar o desafio de amadurecer.
 
A psicologia fala em “aprender a carregar nos botões certos” para obter os resultados adequado a cada situação, por isso, nunca é tarde para encarar a vida numa dimensão mais sólida, realista e feliz, por si e pela melhoria das sua relações com os outros.
 
Enrique Rojas recebeu prémios em Espanha e no estrangeiro e os seus muitos livros são conhecidos em diversos países. Algumas das suas obras estão traduzidas em português, entre elas: “O homem light”, “A ansiedade” e “Remédios para o desamor”.
 
Fátima Fernandes