Este é um problema que continua a inquietar os pais e educadores e que, por isso, merece algum destaque neste espaço.
De um modo geral, a gaguez é uma perturbação da fluência do discurso em que se verificam bloqueios, repetições e prolongamentos de sons. Estas manifestações podem ser acompanhados de movimentos faciais e ou corporais. Tradicionalmente classifica-se a gaguez como tónica (bloqueio), clónica (repetição) e mista (tónica e clónica).
Pode parecer um tique, um conjunto de movimentos involuntários que parasitam um comportamento desejável.
A sua pertinência de avaliação verifica-se porque a gaguez afecta a comunicação e porque provoca um profundo sentimento de desconforto ao seu portador, na medida em que quer comunicar e acaba por se ver discriminado pelos demais. Em regra, o gago apresenta problemas de isolamento social, de angústia e de um aumento da ansiedade.
Causas:
Após muitos estudos, até ao momento não existe uma causa comprovada para este tipo de perturbação na comunicação. Segundo as teorias da pragmática da comunicação, a gaguez poderia advir da tomada de consciência das hesitações normais que atingem uma maior incidência por volta dos três/quatro anos no decurso normal da aquisição da linguagem.
Já no que se refere à teoria Comportamentalista, a ciência coloca a hipótese de a gaguez se auto-alimentar por um processo de reforço do bloqueio ou repetição. Quando a sílaba ou palavra acaba por ser pronunciada a ansiedade decresce, a hesitação é premiada. Muitos investigadores colocam a gaguez como um problema neurológico que precisa de ser intervencionado precocemente.
Caracterização:
É comum que, as pessoas que gaguejam não sejam capazes de assumir o seu problema, pelo que tendem a aparentar, uma certa tranquilidade em relação ao problema. No entanto, quando falam sozinhas, estas pessoas imitam alguém ou falam para os cães e raramente gaguejam.
Escusado será dizer que, as pessoas que gaguejam tentam ao máximo camuflar o problema. Para tal, é frequente o silêncio, a fuga do contacto com os outros, o que pode dar lugar a algum isolamento e a optar por estar sozinho para evitar esse confronto consigo mesmo.
Dentro de si estas pessoas vivem um enorme desejo e crença de que não vão gaguejar numa determinada situação, o que aumenta a ansiedade e a possibilidade de se desiludirem consigo mesmas.
Como estratégia para evitar serem vistos como gagos, costumam fugir às palavras e letras em que gaguejam mais. Esta atitude muitas vezes leva a que o sentido do discurso não corresponda ao que tencionavam dizer.
Nesta situação o gago fica com a frustração de não ter dito o que queria ou obriga-se a reformular a conversa passando novamente pelo suplício de falar.
Neste contexto, a gaguez é tida como um problema vital e uma limitação na qualidade de vida do sujeito.
Constrangimentos:
Para que se compreenda melhor a dimensão do problema para uma pessoa que gagueja, é preciso reter que, a necessidade de fugir ás palavras e letras para si “ complicadas”, dá lugar a que peça aquilo que não deseja, como sendo uma cerveja quando se pretende um café ou comprar um bilhete de comboio para uma estação diferente daquele a que se pretende chegar, tudo porque tem dificuldade em pronunciar algumas palavras e as evita.
Perante este cenário, estas pessoas precisam de ajuda técnica para aliviarem esse sofrimento. Claro que o apoio familiar é fundamental, bem como o do grupo de amigos, na escola e demais actividades em que participa.
A terapia:
Para que se conheça mais de perto o problema da gaguez, interessa ter em conta que a terapia é um processo que visa ajudar o gago a ser independente, uma vez que, de outra forma, serão muitos os constrangimentos que vai sentir, muitas as situações que vai perder, chegando ao ponto de evitar cursos, empregos e todas as situações em que tenha de se confrontar com essa limitação.
A dificuldade em pedir ajuda resulta do medo e da vergonha de ter de assumir que se tem um problema que, na maioria das vezes, é alvo de fuga até pela família.
Passado este impasse, é fundamental que o próprio e os demais aceitem que a terapia é fundamental para a melhoria da qualidade de vida de todos, pelo que esse será o passo seguinte. Através da terapia, o gago irá encontrar estratégias para lidar com o seu problema e evitar as fugas que acima referimos, daí ser tão importante passar por este processo.
É de salientar que, o terapeuta da fala irá realizar um trabalho ao nível da aprendizagem, uma vez que, este sujeito precisa de saber equacionar, de forma diferente, a sua relação com os outros através da comunicação oral. Deste ponto de vista o papel do terapeuta não deve ser encarado como aquele que cura mas antes como mestre e investigador.
Pensamos que esta forma de encarar a terapia dignifica a relação terapêutica e permite efectivamente ao indivíduo gerir a sua independência, pois de outra forma, facilmente entraria numa dependência e no considerar que o técnico teria de falar por si e de o encarar como um suporte.
Durante a terapia, o gago tem ocasião de discutir e testar na prática as propostas feitas pelo terapeuta. Se as adoptar não fica com receio de ter sido influenciado por meios estranhos à sua consciência, mas sim porque foi convencido da sua validade.
Como decorre a terapia:
Em primeiro lugar é pedido que o gago explicite a teoria construída sobre a própria gaguez e as soluções encontradas (ensaiadas).
Seguidamente, é necessário fornecer um quadro de compreensão da gaguez e ferramentas para operar sobre ela.
Refira-se que, a gaguez é também encarada como uma doença; qualquer coisa exterior, com existência própria que “ataca” o indivíduo.
O receio de que a gaguez seja um sinal ou sintoma de deficiência intelectual é frequente mesmo quando o gago é um indivíduo com um grau de instrução elevado e/ou não exista nenhum outro índice de deficiência.
Em muitos casos o acompanhamento psicológico pode ajudar na terapia, sendo que, em idades precoces, este tipo de intervenção pode evitar a gaguez.
Descrição:
É de anotar que, cerca de 5% das crianças entre os dois e os quatro anos de idade apresentam episódios de disfemia ou gaguez, sendo geralmente episódios transitórios que duram poucos meses, ocorrendo em consequência de uma combinação de vários factores durante o desenvolvimento da fala.
Um destes factores é a maturação lenta das redes neurais de processamento da linguagem, que resulta numa habilidade ainda pequena para articular palavras e encadeá-las em frases nesta idade.
Por detrás dessa situação está o rápido fluxo de pensamentos, em contraste com a relativa imaturidade do sistema fonoarticulatório, o que contribui para que a criança apresente alguma dificuldade para produzir um ritmo regular e suave na fala. Esta disfluência pode aumentar quando a criança está ansiosa, cansada ou doente e quando tenta dominar muitas palavras novas.
É de registar que, a disfemia que persiste após os cinco anos de idade está associada a alterações anatómicas e funcionais do cérebro, conforme vêm demonstrando as pesquisas mais modernas de neuroimagem.
A avaliação e o tratamento precoces são decisivos para que a criança consiga compensar desde cedo essas eventuais deficiências, antes do aparecimento de complicações secundárias. Por essa razão, recomenda-se que, qualquer criança com sintomas recorrentes de gaguez passe por uma avaliação na área da terapia da fala tão cedo quanto o possível.
Nunca é demais recordar que os familiares devem ajudar a criança, jovem ou adulto com este problema e deixar que o seu discurso flua ao seu ritmo. É de evitar a repreensão, completar as palavras ou frases e sim presta apoio no sentido técnico, orientando o sujeito para a terapia da fala.
Nota: Entenda este artigo como meramente informativo e um ponto de partida para estar atento e pedir ajuda atempada.