Curiosidades

Afinal, os amigos não são para sempre!

 
Os técnicos da psicologia são muito claros no que se refere a este tema.

 
Existe um conjunto de pensamentos que parecem “perseguir-nos” ao longo do tempo e que, na prática, “nos acorrentam” pela mera necessidade de os cumprir. “O casamento é para a vida”, ou “os amigos são para sempre” são dois grandes exemplos disso mesmo que, para além da teórica beleza que encerram, não passam de frases feitas que nos remetem ao sofrimento e à dificuldade em evoluir, em seguir a vida com mais naturalidade e liberdade.
 
Todos sabem que, os colegas da primária, seguem o seu percurso, tal como os do secundário e os da universidade. São aquelas pessoas que gostamos de saber que estão bem, que seguiram o seu percurso, mas que dificilmente permanecem nas nossas vidas, pois se o fizessem, é porque seríamos todos “fingidos” uns com os outros!
 
Os técnicos da psicologia são muito claros no que se refere a este tema. “É muito difícil manter a mesma personalidade e interesses ao longo do tempo, razão pela qual, cada um tem necessidade de seguir o seu próprio percurso sem que se esteja a preocupar com o colega de carteira que igualmente também fez as suas escolhas”. Não temos capacidade para ajudar infinitamente o colega que precisava de estudar em conjunto, muito menos para dependermos de quem nos apoiava numa determinada matéria escolar. O tempo passa e a idade exige-nos uma responsabilidade perante o nosso próprio percurso.
 
Na posição do psicólogo Quintino Aires, “seria impossível preservarmos as mesmas características ao longo da vida, logo não preservamos os mesmos interesses, muito menos as escolhas que fazemos. Só por isso, já seria muito difícil manter os mesmos amigos. Depois, quem diz que o faz, não está a dizer a verdade, pois não existem duas pessoas iguais, muito menos com interesses semelhantes e escolhas alinhadas”.
 
Uma explicação para afirmarmos a necessidade de dizer que “somos amigos para sempre” é, na posição do mesmo investigador em comportamento humano, “o medo de assumir que mudamos e que, apesar de desejarmos o melhor para aqueles amigos de infância e, por nos fazer bem saber que eles estão felizes, não temos capacidade de conviver com as mesmas pessoas pelas muitas diferenças que fomos construindo e que vamos conhecendo ao longo do nosso percurso”.
 
“Habituamo-nos a manter estas frases do passado, mesmo sabendo que não correspondem à realidade. Não quer isto dizer que não seja um prazer reencontrar aqueles colegas e que não tenhamos memórias positivas em relação a esse tempo, pois não temos de ser inimigos por já não mantermos a amizade, simplesmente não se pode falar em amizade, muito menos que somos amigos para sempre”.
 
No fundo, estas frases que vamos colecionando, obrigam-nos a ter de fazer de conta que mantemos os mesmos traços e características e interesses quando não é verdade. Todos evoluímos e definimos as nossas diferenças, pelo que, os centros de interesse alteram-se, tal como a maturidade nos conduz para um percurso próprio. “É assim que funciona e é assim que deve ser”, reforça o mesmo psicólogo num dos seus apontamentos televisivos.
 
“Isto não tem nada de errado”, afirmou Quintino Aires à TVI, apenas “é a realidade da vida que nem sempre se quer aceitar porque isso implica afirmar a nossa individualidade e as escolhas que fazemos, remata o mesmo especialista.
 
Na mesma ocasião, Quintino Aires recuperou o problema do “casamento para a vida” quando se conquistou o direito ao divórcio e é amplamente conhecido que, o casamento pode ser duradouro, mas que também pode terminar.
 
Quintino Aires renova a importância de se falar destes temas com abertura e sinceridade como forma de “evitar o sofrimento que se arrasta quando uma relação não corre bem. “Temos de estar preparados para a ideia de um recomeço, pois muitas pessoas só aceitam a ideia de casamento para a vida e, quando algo corre mal, não sabem como reagir e como sair de uma situação dolorosa”.
 
Há muito tempo que, Quintino Aires afirma a importância de mudar mentalidades como forma de superar as dificuldades, “pois é preciso saber reagir e seguir o nosso percurso. Se estamos com alguém que não nos faz bem, temos de procurar a nossa felicidade num outro lugar e com outra pessoa, não temos de nos submeter, muito menos de arrastar um cenário de violência de qualquer espécie que, é o que acontece quando duas pessoas não se amam e não se respeitam”.
 
No caso das amizades, “é basicamente a mesma coisa, pois quando se tem de manter uma amizade que já não faz qualquer sentido, alguém está a sofrer, alguém está a fazer de conta e alguém se está a aproveitar de alguma coisa indevidamente”.
 
Não tem de existir um “prazo de validade” instituído, mas “devemos sentir-nos livres para viver as relações de forma prazerosa para ambas as partes”, é a base do pensamento deste especialista.
 
Perante esta constatação, não faz qualquer sentido manter estes pensamentos redutores que só nos conduzem ao sofrimento, pois quando nos baseamos nos termos “para a vida” ou “para sempre”, estamos a tentar acreditar que assim é e, a fazer com que esses pensamentos se tornem em imposições. É caso para perguntar se vale a pena manter um qualquer tipo de relacionamento para a vida “só porque” se prometeu a alguém que assim o seria!
 
Ninguém pode prometer o que quer que seja, simplesmente podemos e devemos viver em liberdade emocional, acreditando que o amor se renova e que a amizade é um prazer quando partilhada por ambos. Tudo o que se afasta disso, acaba por ser forçado e falso; seguindo apenas aquilo em que se acreditou porque não se pensou profundamente no que se prometeu.
 
Em cada fase de vida, temos de nos sentir livres para escolher. Quando estamos em sintonia com alguém, o sentimento é positivo e dura até que ambos consigam manter essa boa sensação.
 
Para Quintino Aires, “manter essas frases feitas há séculos, implica ter de condicionar um conjunto de características inerentes à evolução e ao que o nosso próprio organismo sugere. Acima de tudo, temos de perceber que, só conseguimos ser felizes com os outros se estivermos bem connosco próprios e isso consegue-se com liberdade emocional e com a consciência do que queremos, não com imposições sem qualquer sentido”.
 
No fundo, todos sabem que, quando uma relação começa a correr menos bem, é porque algo faz falta, é porque existe uma saturação, um desgaste. Ou se consegue renovar algo e permanecer na relação ou, naturalmente temos de seguir outro caminho, mantendo no entanto, o respeito pelo outro. Para Quintino Aires, “esse respeito só se preserva se conseguirmos sair da relação em harmonia, pois se deixamos entrar na fase negativa, já é mais complicada a tarefa de se manter o respeito e a capacidade de aceitar que a relação terminou”.
 
Neste contexto, temos de aceitar que “nada se promete”, muito menos “é eterno”, sob pena de cobrarmos aquilo que não nos pertence e de passarmos a vida a lamentar as pessoas que passaram pela nossa vida e que não ficaram, sob pena de desperdiçarmos o nosso percurso em torno da relação que não correu como gostaríamos e a limitar a nossa capacidade de sermos felizes de outra forma. Com os amigos acontece o mesmo. Quantas vezes nos sentimos limitados por “ter de” corresponder a um compromisso com uma amiga? Quantas vezes tivemos de ocultar uma situação por sabermos que iríamos ser “condenados” e só temos vontade de fugir daquela pessoa? Quantas vezes já sentimos que gostamos daquela pessoa, mas que não conseguimos conviver com ela?
 
Mais vale ter “amigos distantes”, que nos permitam essa liberdade de “ir e vir”, sem cobranças e, ao mesmo tempo, preservar as memórias mais bonitas e que nos ensinam a viver, em vez de mantermos relações que, só caminham para o sofrimento, isto porque, nem todas as pessoas têm de ser nossas amigas e, nem todas as pessoas que passam pela nossa vida, são para ficar por perto.
 
“Não temos de ter amigos ao longo de toda a nossa vida, vamos fazendo amizades, vamos vivendo bons momentos, mas não temos de ser amigos, muito menos de nos sentirmos presos ou dependentes de alguém”, finaliza Quintino Aires assentando a ideia de que, “em cada etapa temos interesses diferentes e devemos sentir liberdade para escolher, para desfrutar e para viver em harmonia com aquilo que sentimos. Quando encontramos pessoas que nos acompanham de forma positiva, ótimo, quando não as temos, seguimos o nosso percurso da melhor maneira que sabemos e também com as memórias que vamos guardando”!
 
Fátima Fernandes